Bessie Esta mulher canta sua feridas com a voz da glória e ninguém pode ficar surdo ou distraído. Pulmões da noite profunda: Bessie Smith, imensamente gorda, imensamente negra, amaldiçoa os ladros da Criação. Seus blues são os hinos religiosos das pobres negras bêbadas dos subúrbios: anunciam que serão destronados os brancos e os machos e os ricos que humilham o mundo. |
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Eduardo Galeano |
Cinco Mulheres
Cinco Mulheres — O inimigo principal qual é? A ditadura militar? A burguesia boliviana? O Imperialismo? Não, companheiros. Eu quero dizer só isso: nosso inimigo principal é o medo. Temos medo por dentro. Só isso disse Domitila na mina de estanho de Catavo e então veio para La Paz, a capital da Bolívia, com outras quatro mulheres e uma vintena de filhos. No Natal começaram a greve de fome. Ninguém acreditou nelas. Vários acharam que esta piada era boa: — Quer dizer que cinco mulheres vão derrubar a ditadura? O sacerdote Luis Espinal é o primeiro a se somar. Num minuto já são mil e quinhentos os que passam fome na Bolívia inteira, de propósito. As cinco mulheres, acostumadas à fome desde que nasceram, chamam a água de franco ou peru, de costeleta o sal, e o riso as alimenta. Multiplicam-se enquanto isso os grevistas de fome, três mil, dez mil, até que são incontáveis os bolivianos que deixam de comer e deixam de trabalhar e vinte e três dias depois do começo da greve de fome o povo se rebela e invade as ruas e já não há como parar isso.
Em 1978, as cinco mulheres derrubam a ditadura militar. |
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Eduardo Galeano |
Que eu me torne…
Que eu me torne em todos os momentos, agora e sempre, |
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Anônimo tibetano |
Meu Povo, Meu Poema
Meu povo, meu poema
“Meu povo e meu poema crescem juntos
como cresce no fruto a árvore nova No povo meu poema vai nascendo No povo meu poema está maduro Meu povo em meu poema Ao povo seu poema aqui devolvo |
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Ferreira Gullar |
Canção Amiga
Canção Amiga
Eu preparo uma canção
Caminho por uma rua
Eu distribuo um segredo
Minha vida, nossas vidas
Eu preparo uma canção |
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Carlos Drummond de Andrade |
Das Utopias
Das Utopias
Se as coisas são inatingíveis… ora! |
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Mário Quintana |
A Fome
A FOME
“Uma velha que trazia a fome nos
ombros e nos olhos e que trazia a seca no ventre e no seio.” J. Cardozo. Se fome tem nome, Corações áridos, Se fome tem nome, Norte, sul, leste, oeste, Será o nome da fome, Espremendo mais do que o infinito, choveu. Há esperança e utopia, O trigo pede perdão.
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J.A |
Mãos dadas
Mãos Dadas
Não serei o poeta de um mundo caduco. |
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Carlos Drummond de Andrade |
Violência: pare e pense!
Violência: pare e pense!
Quando demitiram os negros,
eu não era negro e não fiz nada. Quando demitiram os adoecidos e acidentados do trabalho eu não era adoecido do trabalho e porque iria defende-los? Quando demitiram as mulheres, Quando demitiram os mais velhos, Quando vieram contra meus colegas de trabalho, o assunto não me dizia respeito e nada fiz. Calado fiquei. Finalmente, quando vieram contra mim… Aquele que nunca sofreu qualquer tipo de violência Alguns até acham que a violência moral, as discriminações e o racismo não existem! E assim seguimos e fazemos todos os dias: Não dando atenção à dor do outro nos condenamos a sofrer em silêncio a nossa própria dor. tão normal quanto sofrido e solitário. E as injustiças são banalizadas. Quem sabe, aquelas frases ditas anteriormente poderiam ser reescritas assim? Quando vieram contra os negros, eu não era adoecido e fiquei em silencio. calado, também eu era contra os desempregados. Quando vieram contra os analfabetos, os favelados, os sem teto e os sem terra, não fiz nada e, em silencio, também eu era contra os favelados, os sem teto e sem terra. Quando vieram contra mim, ninguém me defendeu, usaram o silêncio e a indiferença para apoiar meus inimigos. Talvez uma lição a ser aprendida: Então, reflitam: de onde vem esse medo de ser diferente? Por que nos identificamos e até acreditamos nas tagarelices televisivas? Por que tanto medo? (Inspirado no filme: “Olhos azuis” de Jane Elliott) |
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M. Barreto |