“Uma velha que trazia a fome nos
ombros e nos olhos e que trazia
a seca no ventre e no seio.”
J. Cardozo.
Se fome tem nome,
o nome da fome,
é nordeste.
Corações áridos,
destinos inválidos,
cáusticos destinos,
criados ao sol a pino.
O sertão e agreste definham, agonizam.
Se fome tem nome,
o nome perene é nordeste.
Fome consome, sem pressa,
com preces, fome entristece.
O nome da fome: nordeste.
Norte, sul, leste, oeste,
cardeais da sorte,
pontos na vida ou morte,
chegam à Bangladesh,
São Paulo, Rio ou Marrakesh.
Será o nome da fome,
só e só nordeste?
E a negritude do Harlen,
utopia de Moscou ou Budapeste?
E os sopros do liberto Timor Leste?
Espremendo mais do que o infinito, choveu.
No chão aflito, um ressequido sertão sobreviveu.
Gotas de suor e sangue,
poucas gotas d’água,
quase tudo se perdeu.
Há esperança e utopia,
brincando na etérea alegria,
apesar do pão difícil de cada dia.
O trigo pede perdão.
Tropeça na mão das secas,
na ausência do pão,
milagre concreto do grão.
Mais um cabra da peste,
segura firme
toda esperança na mão.