Violência no Trabalho

Cartilha_NEAVT.pdf Núcleo de Estudos e Ações sobre Violência no Trabalho
Antonio Paulo Pinheiro Lima -SAS
Célia Cal Auad -DSS
Teresa Cristina Brandão -SAS
Thiago Bazi Brandão – SASo Revisão técnica
João Batista Ferreira – Psicólogo e pesquisador do Laboratório de Psicodinâmica e Clínica doTrabalho da UnB Revisão de texto
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O assédio moral é uma doença organizacional

Em entrevista cedida com exclusividade ao Observatório Social, Ângelo Soares, pesquisador e professor da Universidade do Quebec em Montreal (Canadá), fala sobre assédio moral, emoções e saúde mental no trabalho. Nesta quinta-feira (23), Soares ministrou a palestra Assédio Moral: quando o trabalho é indecente, realizada em São Paulo pelo Instituto Observatório Social e pela Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT). Doutor em sociologia do trabalho, Soares ensina nos cursos de comportamento organizacional, violência no trabalho e administração de recursos humanos.

Fonte: Paola Bello, IOS

Instituto Observatório Social: O que difere o assédio moral das outras formas de violência?
Ângelo Soares: O assédio moral é uma forma de violência psicológica. O que a difere é que ela não deixa traços visíveis no indivíduo. Mas, com certeza, é uma violência que destrói, e muitas vezes muito mais que a violência física. Os efeitos psicológicos são devastadores para a pessoa que vive o assédio moral.

IOS: Quais são os principais atos caracterizados como assédio moral?
AS: Temos pelo menos cinco tipos que classificam esses atos. Pode-se limitar a comunicação da pessoa, impedindo que a pessoa se comunique e se exprima. Também pode acontecer que se mine as relações sociais dessa pessoa, tentando isolá-la dos colegas do trabalho, por exemplo, trabalhando em um lugar distante do grupo. Também temos atos associados a criticar a pessoa enquanto ser humano, dizendo, por exemplo, que ela está louca, que é frágil, que tem problemas. O quarto tipo de ato é criticar o trabalho da pessoa, onde é comum se ver situações onde passam para a pessoa tarefas que ela não é capaz de fazer, ou que são difíceis de realizar, ou tarefas inferiores à competência e capacitação que a pessoa possui. E a quinta categoria de atos é o comprometimento da saúde da pessoa. Essas ações, quando combinadas ou repetidas ao longo do tempo, caracterizam assédio moral.

IOS: Qual a diferença entre o assédio moral e o assédio sexual?
AS: Sempre que há caráter sexual, com ou sem violência física, é assédio sexual. Pode ser desde a expressão do interesse até a agressão física, como passar a mão, beliscar, tocar os seios. O assédio moral, na maioria das vezes, não é físico. Em geral são ações e palavras com a intenção de destruir psicologicamente a pessoa. Muitas vezes eles podem vir juntos. A pessoa é assediada sexualmente e recusa, já que no assédio sexual é muito importante que a pessoa exprima claramente que não está interessada por aquilo, e essa expressão pode ser até por carta reconhecida em cartório. Mas é comum acontecer, depois que a pessoa recusa, ela passar a sofrer assédio moral com a intenção de eliminá-la do ambiente do trabalho. Em um caso ou no outro, não podemos esquecer que toda forma de violência tem efeito psicológico, e às vezes uma ameaça destrói mais que um tapa na cara. Porque você pode mostrar que o tapa existiu, ele pode deixar marcas. Mas a ameaça é invisível e causa efeitos que não se podem mostrar.

IOS: Há setores onde o assédio moral é mais recorrente?
AS: É muito difícil identificarmos um grupo. Todo mundo pode ser assediado moralmente. Isso é um problema associado à organização do trabalho, aos modos de gestão, à estrutura da empresa. Todas essas variáveis são importantes e estão na base do assédio moral. É uma forma de violência que pode atingir do lavador de carro ao médico ultra-especializado. Não há um perfil de quem seja mais ou menos assediado.

IOS: É possível traçar um perfil das causas dessa violência?
AS: As causas estão intimamente ligadas à organização do trabalho, à forma com que o trabalho é realizado na organização. Isso envolve hierarquia, carga de trabalho, autonomia que a pessoa possui ou não, reconhecimento do trabalho, e diversas outras questões. É importante deixar claro que o assédio moral não é um problema individual. Não é o indivíduo que está com problema. O assédio moral é uma doença organizacional, e deve ser tratado desde a origem, mudando a organização do trabalho, a ausência da liderança, as formas de resolução de conflitos.

IOS: O que o trabalhador que se sente assediado pode fazer?
AS: Uma ação importante para o trabalhador que acha que está sendo assediado moralmente é a produção de um diário, uma agenda sólida, na qual não possam ser inseridas ou retiradas páginas. Nela, o trabalhador pode fazer relatórios diários, escrevendo o que viveu em cada dia. Mesmo que ele ache que não seja assédio, é importante escrever, registrar, e deixar que uma pessoa de fora faça esse julgamento. Escreva o que viveu, como se sentiu, como respondeu, se teve alguma reação, o que aconteceu. Escreva e não faça rasuras. Se esqueceu de escrever alguma coisa no dia primeiro do mês e já estamos no dia 23, escreva na página do dia 23 que esqueceu de relatar o que aconteceu no dia primeiro. Com isso, é mais fácil identificar o assédio, e facilita a pessoa que irá fornecer ajuda, porque a história toda está contada de forma linear, e pode ser um importante elemento de prova.

IOS: Depois de feito esse diário, quem ele pode procurar?
AS: Se a pessoa for sindicalizada, ela deve procurar o sindicato. O sindicato deve ajudar e responder a esse problema, além de indicar ajuda psicológica.

IOS: Quais os principais efeitos do assédio moral sobre a vítima?
AS: Ela pode apresentar problemas relacionados à saúde mental, pode ter estresse elevado, pode desenvolver sintomas de estresse pós-traumático e sintomas depressivos. Não podemos desconsiderar os efeitos que vão refletir nas pessoas próximas a ela, na família e no círculo social. Há também, e em muitos casos, a exclusão do mercado do trabalho, seja por adoecimento, seja por desemprego.

IOS: Como os empregadores podem agir para eliminar o assédio moral?
AS: As empresas devem estar preparadas para o problema. É preciso ter uma política organizacional conhecida por todos, para que todos saibam o que podem ou não fazer. Se acontecer o assédio, a empresa deve falar como vai tratar. É importante que a empresa não feche os olhos. O grande erro é pensar que não existe na minha empresa e, como conseqüência, não pensar nas medidas para prevenção e para evitar essa forma de violência. Quando a empresa está atenta ao problema, é mais difícil que ele aconteça.

IOS: A ação relacionada ao assédio moral difere de acordo com o sexo ou a idade da vítima?
AS: Nas pesquisas que realizei, não encontrei diferença no assédio contra homens e mulheres. O que encontrei foi diferença relacionada à faixa etária das vítimas. Tanto os mais jovens quando os mais velhos são assediados, mas o são de maneira diferente. Os gestos contra os mais jovens são para desacreditar a pessoa, são para afetar a reputação pessoal. Por outro lado, os gestos usados para assediar os mais idosos, com mais tempo de trabalho, são gestos para desacreditar o trabalho que eles realizam, a sua reputação profissional.

IOS: O que as pessoas, como sociedade, podem fazer para acabar com o assédio moral?
AS: Temos que agir de forma pró-ativa na prevenção. Quando o mal é feito, é um mal muito grande, é muito sofrimento para a vítma. Devemos tentar prevenir sempre e, nos casos onde não consigamos prevenir, devemos intervir de maneira rápida e eficiente, para limitar ao máximo o estrago feito.

Prática cresce em momentos de crise

Prática cresce em momentos de crise

O portal www. assediomoral.org, que reúne profissionais na área da saúde com o objetivo de identificar e coibir a prática de assédio moral no Brasil, teve um crescimento significativo no número de acessos nos últimos meses. Em função da crise econômica mundial, aumentam os relatos e, com isso, houve um crescimento de 20% na procura por informações. De acordo com Cármen Sílvia Silveira de Quadros, especialista em Medicina do Trabalho, isso acontece porque a concorrência é maior e as ameaças são constantes.

Jornal do Comércio – Em momentos de crise, a incidência do assédio é maior? Por quê?

Cármen Quadros – Sim, porque a crise vem sempre acompanhada por reestruturações que as empresas fazem. A pressão aumenta, as exigências são maiores e as ameaças constantes. Cria-se um verdadeiro clima de medo, terror e sujeição coletiva. O fato de o número de acessos aumentar tem relação a esse sentimento de desamparo, de necessidade de informações. As pessoas têm receios de serem estigmatizadas, de não encontrar um novo emprego. Quando entram em contato conosco querem ajuda, pedem socorro.

JC – O trabalhador submetido ao assédio moral pode desenvolver doenças?

Cármen – O assédio moral é um risco à saúde do trabalhador que pode trazer inúmeras consequências, inclusive o adoecimento físico e mental. Trabalhadores que sofrem assédio moral sofrem de distúrbios digestivos, taquicardia, palpitações, sintomas depressivos (insônia, crises de choro, lapsos de memória, sentimento de desvalia), hipertensão arterial sistêmica. O assédio tem ligação direta com as mudanças que o processo de globalização econômica impôs ao mundo do trabalho: a flexibilização das relações trabalhistas, a precarização dos vínculos e a reestruturação das empresas que acabam reduzindo os postos de trabalho, sobrecarregando os trabalhadores e aumentando a concorrência entre eles.

JC – Há setores em que a prática do assédio seja mais comum?

Cármen – Em primeiro lugar, no Brasil, aparece o setor da saúde, seguido da educação, comunicação e serviços; em especial bancários. Saliento que em todos os ramos produtivos, categorias e empresas, quer pública ou privada, filantrópicas ou ONGs, existe a prática de assédio moral. Há uma pesquisa nacional que contempla todos os estados, com dados e data de 2005, que aponta sinais objetivos do crescimento do assédio moral no País.

JC – Qual é o impacto psicológico para a vítima?

Cármen – Os danos psíquicos surgem como angústia e ansiedade. O trabalhador pode manter e aprofundar pensamentos tristes e repetitivos, apesar do esforço para se curar. A pessoa se avalia negativamente e culpa-se pelo que está sofrendo. Aparecem sinais de alarme do organismo: alterações de comportamento, distúrbios digestivos, dores de cabeça, sensações de dores que migram. Pode chegar à depressão e à síndrome do pânico. Esse processo de instauração da doença varia de indivíduo para indivíduo. Existem casos relatados que o dano psíquico causado pelo assédio moral leva o trabalhador a um quadro de depressão grave com risco de suicídio.

JC – A empresa perde força de trabalho com esse tipo de prática?

Cármen – Perde a força de trabalho e, consequentemente, reduz a produtividade em função dos agravos à saúde física e mental dos trabalhadores. Como ficam doentes, necessitam muitas vezes se afastar para tratamento. Cabe salientar também que atitudes de humilhação e terror psicológico interferem negativamente no ambiente de trabalho, causando desestabilização e desmotivação.
Pode acabar resultando em altos custos para a empresa também pelas perdas econômicas em processos produtivos e da imagem pública. Mas o maior prejudicado é o trabalhador. Há casos em que ele começa a apresentar atitudes irresponsáveis enquanto pai, esposo, irmão, de afastamento e perda de amigos, de aumento de consumo de drogas, de separações e até de suicídio.

JC – Quem não é vítima direta do assédio, mas presencia esse tipo de ato com o colega pode sofrer reflexos?

Cármen – Esta é uma situação que, infelizmente, ainda ocorre e que não ajuda a empresa a se livrar desse tipo de prática. O trabalhador que se cala ante as injustiças e a empresa que se nega a discutir os fatos e a pensar políticas de combate à violência, não estão tomando a melhor conduta. Entretanto, é necessário que a empresa compreenda que ela perde quando o ambiente de trabalho está degradado, quando o clima organizacional.

JC – Quando o trabalhador se sente vítima de assédio, qual procedimento deve adotar?

Cármen – Do começo ao fim desse processo, o trabalhador não deve se isolar, e sim conversar com colegas, amigos, família e, se for acaso, procurar apoio psicológico. Ao ser alvo do primeiro ato de agressão, deve ficar mais atento. Se isso se repetir, precisa conversar com o chefe ou quem quer que seja o autor da agressão, de preferência acompanhada de um colega. Diga que o ocorrido o ofendeu e que deseja uma explicação.

Se isso não resolver, comece a recolher provas. Anote tudo sobre cada ocorrência, incluindo dia e hora que aconteceu, o que foi dito e quem presenciou. Faça uma carta em duas vias relatando o que tem ocorrido e encaminhe para a ouvidoria, o RH ou o superior do assediador. Entregue uma via e peça para que a outra seja assinada, comprovando o recebimento.

Se não der em nada, denuncie no sindicato de sua categoria ou na Superintendência Regional do Trabalho e do Emprego (a antiga Delegacia Regional do Trabalho), que possui uma comissão de combate à discriminação no ambiente profissional. Uma mesa de reconciliação será convocada, com sua presença, a de um representante do sindicato e outro da empresa. A ideia aqui é negociar uma solução para que você permaneça no emprego, mas o assédio cesse. Se não houve acordo, resta recorrer à Justiça.

Assédio Moral nas Organizações: um comprometimento a saúde do trabalhador

RESUMO

BARBOSA, Tatiane Aristides. Assédio moral nas organizações: um comprometimento à saúde do trabalhador. Universidade Estácio de Sá. 2008. Este trabalho monográfico consiste em uma pesquisa bibliográfica que apresenta e discute o Assédio moral nas organizações, detendo-se sobre a relação entre este e a saúde do trabalhador. A pesquisa demonstra que as muitas organizações, em decorrência do modo de viver capitalista, tendem, de modo geral, a atuar de forma adversa sobre o trabalhador. Sobrecarga de trabalho, condições aviltantes de trabalho, desigualdades de salário, não-valorização profissional; constantes cobranças de metas; humilhações e constrangimentos são fatores recorrentes nas instituições e constituem a etiologia do Assédio moral. Como conseqüência o trabalhador pode ter a saúde severamente afetada. É o caso da Síndrome de Burn-out, conjunto de sintomas e sinais diretamente associados ao estresse promovido pelo ambiente de trabalho. Além disso, esta pesquisa monográfica pretende identificar diferentes questões que diferenciam os trabalhadores na suas relações trabalhistas, denunciando o perfil dos trabalhadores das organizações que são mais suscetíveis ao assédio moral. Mulheres, negros e trabalhadores terceirizados são alguns destes. Por fim, este trabalho traz importantes considerações sobre a prevenção e enfrentamento do assédio moral. Para isso apresenta e discute o papel e a importância do Serviço Social na prevenção e no combate do problema, como instância, sobretudo, de promoção da condição salutar do trabalhador. Palavras chave: Assédio Moral; Organizações; Saúde do Trabalhador; Síndrome de Burn-out; Serviço Social.

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Conduta anti-sindical: Exemplo recente das relações entre centrais elétricas do Pará e o Sindicato dos Urbanitários

Resumo

Este trabalho aborda o problema das condutas anti-sindicais, como a suspensão dos contratos de trabalho, o assédio moral, a conduta de descredenciamento da entidade sindical junto aos trabalhadores, as retiradas de conquistas no acordo coletivo de trabalho, exercidas pelos novos controladores da Celpa pós-privatização contra a direção do sindicato dos urbanitarios do Pará e também contra os trabalhadores da empresa. Na tentativa de compreender o processo de privatização ocorrido no país, traçamos um panorama da política neoliberal imposta ao povo brasileiro e a conseqüente demissão em massa ocorridas nessas empresas privatizadas. Enfatizamos que, no caso, a Celpa não fugiu à regra. Palavras-chave: privatização, neoliberalismo, conduta anti-sindical, liberdade, acordo coletivo de trabalho, assédio moral, demissões, sindicato, capitalismo.

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Cartilha Assédio Moral e Síndrome de Burn-Out

Cartilha Assédio Moral e Síndrome de Burn-OutPesquisa e Elaboração: Valdir Gomes da Silva (Ex-dirigente da FENTECT – Federação Nacional dos Trabalhadores dos Correios e Telégrafos – Ex-monitor de Formação Sindical do CES – Centro de Estudos Sindicais -Graduando em Pedagogia pela Universidade de São Paulo) Capa: Stefanato Arte: Estefano e Eton Diagramação: José Bergamini

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