Saúde mental no trabalho : coletânea do fórum de saúde e segurança no trabalho do Estado de Goiás

Reflexões de autoridades nacionais e estrangeiras com o estudo dos efeitos individuais e sociais das agressões à saúde, sobretudo mental, dos trabalhadores, a exemplo do assédio moral e sexual e dos mecanismos de prevenção, da responsabilidade pela criação e prática de ambientes saudáveis de trabalho como obrigação do Poder Público e das empresas.

O livro traz reflexões desenvolvidas em escritos de autoridades nacionais e estrangeiras nas múltiplas searas especulativas da já acentuada multidisciplinaridade que cristalizam as conclusões mais avançadas que pode oferecer o estudo dos efeitos individuais e sociais das agressões à saúde, sobretudo mental, dos trabalhadores, a exemplo do assédio moral e sexual; do burnout; da depressão; das doenças ocupacionais e acidentárias e dos mecanismos de prevenção e repressão das causas desses transtornos pela ação do Ministério Público e do Judiciário Trabalhista; da responsabilidade pela criação e prática de ambientes saudáveis de trabalho como obrigação do Poder Público e da empresa; da moderna psicopatologia do trabalho; dos fatores psicossociais de risco laboral e, por fim, dos paradigmas da gestão de recursos humanos aplicada à saúde mental do trabalhador, entre tantos outros. Sua organização e distribuição ao grande público, esforço sincronizado do Fórum de Saúde e Segurança no trabalho no Estado de Goiás, do Ministério Público do Trabalho da 18a Região (Goiás) e do Instituto Goiano de Direito do Trabalho, numa sequência de cinco congressos de âmbito internacional que promoveram em Goiânia, entre os anos de 2004 e 2012, especificamente dedicados à ampla discussão sobre a saúde mental do trabalhador, nas quatro variações fundamentais da prevenção, da conservação, da vulnerabilidade e da reabilitação. A publicação da coletânea de artigos apresentados nos Congressos Internacionais de Saúde Mental no Trabalho, sistematizou o conhecimento das atividades realizadas no congresso em três pontos. Na primeira parte do livro, agregamos a abordagem geral dos problemas psicossociais no ambiente de trabalho. Seguimos com a enumeração de quais são estes problemas e suas manifestações para encerrar com temas específicos sobre essa matéria. O intuito é possibilitar ao leitor uma visão panorâmica, lógica e coerente do assunto abordado, de modo a justificar e desenvolver a temática com uma compreensão mais fácil, propiciando uma leitura menos árdua e mais agradável.

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A distância que nos une: um retrato das desigualdades brasileiras

A Oxfam Brasil lança seu relatório “A distância que nos une: um retrato das desigualdades brasileiras.” com o objetivo de alimentar um necessário e urgente debate público sobre a redução das distâncias dentro da sociedade brasileira, em direção a um país mais justo e solidário.

Precisamos falar sobre desigualdades. O Brasil é uma das maiores economias mundiais. Mesmo assim ostentamos o vergonhoso título de um dos países mais desiguais do planeta. Apesar de todos os avanços das últimas décadas – não podemos esquecer que o Brasil retirou 28 milhões de pessoas da pobreza e saiu do Mapa da Fome das Nações Unidas -, a desigualdade extrema alcançou limites que não podemos permitir. Você sabia que uma pessoa que recebe um salário mínimo ao mês teria que trabalhar durante 19 anos para ganhar o mesmo que um brasileiro que faz parte do privilegiado grupo dos 0,1% mais ricos do país recebe em um mês? Ou que seis brasileiros – todos homens brancos – têm a mesma riqueza que a soma das 100 milhões de pessoas mais pobres da população brasileira? Por quê? Porque temos uma economia e um sistema político que não estão trabalhando para a maioria. O sistema tributário penaliza os pobres e a classe média. A discriminação contra mulheres e pessoas negras impede que tenham tenham igualdade de direitos e oportunidades. Falta acesso e qualidade aos serviços públicos essenciais, como saúde, educação, saneamento, fundamentais para a construção de uma sociedade igualitária. Nosso sistema democrático está a serviço de interesses privados e de uma minoria da população. Mas isso pode e deve mudar. As desigualdades não são inevitáveis. Elas são fruto de políticas e práticas estabelecidas pelo Estado e pela sociedade. E o Brasil pode mudar isso. O debate público sobre a redução das desigualdades no Brasil é urgente e necessário. Vivemos hoje uma situação insustentável e injusta. Por exemplo:uma pessoa que ganha um salário mínimo por mês hoje teria que trabalhar 19 anos para receber o mesmo que um brasileiro que faz parte hoje do 0,1% mais rico do país. Mais de 16 milhões de brasileiros ainda vivem abaixo da linha da pobreza, apesar de todos os esforços feitos nos últimos anos para enfrentar o problema. Saímos recentemente do Mapa da Fome e retiramos milhões da miséria, mas os ricos continuaram concentrando riqueza. Está mais do que na hora de enfrentarmos a questão com seriedade, urgência e determinação. É o que propõe o novo relatório “A distância que nos une – um retrato das desigualdades brasileiras”, da Oxfam Brasil, lançado na última semana de setembro em São Paulo. O documento apresenta dados sobre a desigualdade socioeconômica brasileira e os caminhos possíveis para se ter um país mais justo e livre de tantos desequilíbrios sociais. “Precisamos falar sobre nossas desigualdades e os caminhos existentes para reduzi-las”, afirmou Katia Maia, diretora da Oxfam Brasil, durante o lançamento do relatório. “A gente acredita que as distâncias só podem ser reduzidas em trabalho conjunto. Isso é o que nos une”, disse ela, lembrando que o Brasil conseguiu elevar a base da pirâmide social nas últimas décadas, mas em um ritmo ainda muito lento. “Atacar essa questão é responsabilidade de todos. Há inúmeras ideias e propostas circulando, algumas até formam consenso na sociedade. A única coisa que não se pode fazer é ignorar o problema e não fazer nada. Estamos juntos no mesmo barco.” Para Oded Grajew, presidente do Conselho Deliberativo da Oxfam Brasil, trabalhar pela drástica redução das desigualdades no país é a missão mais nobre e mais importante que qualquer brasileiro poderia ter. “O quadro das desigualdades foi construído por todos nós brasileiros, e pode ser mudado também por todos nós. As desigualdades foram construídas, não são algo que sempre existiu”, disse ele, lembrando que os caminhos para conseguir um país mais justo e menos desigual são conhecidos e já testados por outros países. São eles: educação de qualidade, sistema tributário mais justo e ativa participação popular no sistema político. Rafael Georges, coordenador de Campanhas da Oxfam Brasil e autor do relatório, acredita que toda a trajetória de redução de desigualdades que vinha sendo seguida desde a proclamação da Constituição de 1988 foi interrompida. “E agora estamos dando muitos passos para trás na garantia de direitos à população. Enquanto isso, a concentração de renda e patrimônio continua intocável. Se não enfrentarmos essa situação, vai ser ruim para todos no país – mas principalmente para quem pouco ou nada tem para se proteger”, afirma. Com o relatório “A Distância Que Nos Une”, a Oxfam Brasil pretende contribuir e apresentar soluções ao debate sobre as desigualdades no Brasil, destacando que todas as pessoas, independentemente de sua classe social, sofrem as consequências. A desigualdade extrema gera conflito social, aumenta a violência e cria instabilidade política. “O Brasil só poderá dizer que é realmente um Estado democrático de direito se oferecer condições melhores para sua população. E isso não vem acontecendo”, “As desigualdades entre pobres e ricos, negros e brancos, mulheres e homens não são um problema de poucos, mas um problema de todos. Esta é a distância que nos une”, define Oded Grajew, presidente do Conselho Deliberativo da Oxfam Brasil. https://www.oxfam.org.br/sites/default/files/arquivos/Relatorio_A_distancia_que_nos_une.pdf

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Assédio Moral – Gestão por Humilhação

Escrito de modo claro e contundente, o universo visitado pelo livro é de grande amplitude, com ricas informações sobre as experiências internacionais e tam­bém sobre o caso brasileiro. Seu temário dá ideia de sua abrangência: a violência presente nos assédios, seu tratamento judicial; suas práticas na administração, na intensificação do trabalho; seus elementos causais, seus riscos psicossociais, sua história, suas expressões em diferentes países e continentes; as similitudes, aproximações e diferenciações entre mobbing, bullying, assédio; suas dimensões de gênero; as culpabilizações e os direitos; a justiça, as responsabilidades, todos estes pontos são tratados de maneira clara e crítica.

Temos, portanto, uma excelente radiografia crítica. Os estudiosos em geral, os administradores em particular, todos e todas que vivenciam em seu cotidiano essa pragmática nefasta, encontrarão nas páginas que seguem uma análise densa e qualificada deste complexo social que avassala o mundo do trabalho de nosso tempo.

Roberto Heloani e Margarida Barreto, é preciso enfatizar, têm sido incansáveis pesquisadores na caracterização desta tragédia, no desenho de seu diagnóstico, na demonstração de seus tantos aspectos nefastos, antissociais, verdadeira­mente anti-humanos. Neste novo e contundente livro, os autores demonstram como o uso recorrente dos assédios vem efetivamente se convertendo em eficaz estratégia de gestão.

As perguntas e as respostas de Roberto Heloani e Margarida Barreto fogem de qualquer tipo de tergiversação. A força de sua síntese fala por si só: “Nossa so­ciedade atualmente não só flexibiliza a produção e os serviços como também acaba por flexibilizar os valores morais (…). Estes passam a ser relativizados e indevidamente apropriados (…). Dessa forma, cada vez mais o que era sagrado se torna profano, enquanto o que era profano se torna sagrado, de acordo com uma lógica perversa que inverte e permite que se utilize qualquer meio para que se obtenha o sucesso a qualquer custo”.

Por tudo isso, Assédio Moral: Gestão por Humilhação não poderia ser mais atual.

Texto extraído e adaptado do prefácio contido nesta obra, de autoria Ricardo Antunes e Giovanni Alves

Autor(es): Roberto Heloani e Margarida Barreto

ISBN v. impressa: 978853627868-1
ISBN v. digital: 978853627903-9

Acabamento: Brochura

Número de páginas: 200

Publicado em: 25/04/2018

Área(s): Psicologia – Organizacional e do Trabalho

AUTORES

ROBERTO HELOANI

Pós-Doutorado em Comunicação pela Universidade de São Paulo – USP. Doutor em Psicologia So­cial pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC-SP. Mestre em Administração pela Fundação Getulio Vargas – FGV/ SP. Graduou-se em Direito pela Universidade de São Paulo – USP, e em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica de São Pau­lo – PUC-SP. Por 22 anos foi pro­fessor no Departamento de Fun­damentos Sociais e Jurídicos, na Fundação Getulio Vargas – FGV/ SP. Professor Titular na Faculdade de Educação e no Doutorado em Ciências Sociais do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, na Universidade Estadual de Campi­nas – UNICAMP. Conveniado junto à Université Paris-X-Nanterre, Laboratoire Genre, Travail et Mobilités (GTM). Livre-Docente em Teoria das Organizações na Universidade Estadual de Campi­nas – UNICAMP. Pesquisador na área de Assédio Moral/Sexual e Ética Laboral. Membro-fundador do site www.assediomoral.org

MARGARIDA BARRETO

Médica do Trabalho e Doutora em Psicologia Social pela Pontifícia Uni­versidade Católica de São Paulo – PUC-SP. Coordenadora da Rede Nacional de combate ao Assédio Laboral e outras manifestações de violência. Professora convi­dada do Curso de Especialização em Medicina do Trabalho da Faculdade de Ciências Médi­cas da Santa Casa de São Paulo. Membro-fundadora do site www.assediomoral.org

Jornada de humilhações

Margarida Maria Silveira Barreto está entre os especialistas da área médica precursores no estudo sobre assédio moral no trabalho e efeitos das jornadas extensas sobre a saúde de trabalhadores. Suas pesquisas jogaram luz sobre a realidade vivida tanto por executivos quanto por operários em rotinas de desgaste físico e emocional, sob o abuso de poder por parte de empregadores, situações relatadas no livro Violência, saúde e trabalho – uma jornada de humilhações (Educ/Fapesp). Escrito a partir da retórica discursiva de trabalhadores sobre saúde, doença e trabalho, a obra instiga reflexões sobre a “inclusão pela exclusão”. Segundo Margarida Barreto, a organização do trabalho, as políticas de gestão e as extensas jornadas de trabalho – que atingem todas as profissões no país – favorecem condutas assediadoras e abuso de poder que desencadeiam o adoecimento de trabalhadores, a fragmentação e o esvaziamento de sentido do trabalho, a violação da dignidade e a flexibilização de direitos. “As jornadas extenuantes e a pressão por metas revelam a arqueologia do adoecer, isto é, uma condição em que o ser humano não é considerado e que traz prejuízos para todos, inclusive para as empresas e a Previdência”, alerta a médica nesta entrevista.

Extra Classe – Ao alertar sobre as consequências das jornadas de trabalho excessivas e da pressão por produtividade, a senhora refere-se à arqueologia do adoecer. Quais são os danos causados aos trabalhadores por essa lógica do sistema produtivo ? Margarida Barreto– A exigência de jornadas extenuantes e pressão contínua por maior produção é o que revela a arqueologia do adoecer. É uma condição em que o ser humano desaparece, dando lugar ao ser-máquina, que não pode enfermar, não pode faltar à empresa, que deve, a cada segundo, superar as metas. Também poderíamos afirmar que, no período histórico atual, a grande arte no mundo do trabalho está centrada na fragmentação do trabalhador, na constante violação da dignidade e na flexibilização dos direitos, na precarização das condições de trabalho, desestruturação das formas de sociabilidade e abuso de poder. EC – A violação do direito ao descanso interfere na saúde e na vida familiar dos trabalhadores ? Margarida – O trabalho mudou e mudaram as técnicas e, mesmo sem fazer um diagnóstico primoroso da essência do meio ambiente do trabalho e das relações laborais, não se pode deixar de mencionar o culto à banalização do sofrimento e naturalização das exigências que se expressam nas humilhações e desqualificações cotidianas. Essas passaram a fazer parte de um modo singular de administrar e organizar o trabalho, potencializando o que chamávamos de novo modo taylorista de administrar. Hoje, o tempo de trabalho está intensificado, não há espaços para que o trabalhador possa descansar das múltiplas tarefas que realiza. Essa gestão desumana com intensificação do ritmo de trabalho causa sérias consequências para os trabalhadores e trabalhadoras, atingindo a sua família e interferindo nas formas de adoecer e morrer. EC – Afetam também a produtividade das empresas ? De que forma ? Margarida – Sim, a política da onipotência e onipresença da produtividade é o “tudo” das empresas. O que mais elas desejam é aumentar a sua produção e, consequentemente, seus lucros. Para isso, lutam para aumentar a visibilidade no mercado com uma imagem de responsabilidade social, de boas práticas e defesa do verde. Esse é o discurso que não corresponde à prática no intramuros. É na linha do tempo de cada organização que aparecem os traços típicos daquilo que são : demitem aos primeiros sinais de adoecimento, retardam ao máximo o retorno ao trabalho daqueles que estiveram afastados por doença e retornaram após receber alta da Previdência. Omitem doenças e acidentes e não admitem, mesmo que de forma velada, mulheres que engravidam no primeiro ano de empresa. Censuram cipeiros e dirigentes sindicais, dificultando ou impedindo suas atividades. Tentam impor aos dirigentes a necessidade de priorizar o “sentar à mesa e negociar”, cooptando-os como colaboradores do capital, tentando neutralizar conflitos e divergências entre as classes. EC – Uma lógica que inclui a pacificação e a juvenilização nas empresas… Margarida– Quando fazem as reestruturações, essas empresas demitem os mais velhos e os que recebem altos salários ou até mesmo aqueles que criticam as jornadas exaustivas e as exigências sem limites. É o momento da “limpeza” daqueles que “falam muito” e instauração de um novo entendimento e aceitação da organização. Vivemos uma época em que o grande trabalhador é aquele que sempre excede e ultrapassa as metas impostas e que não adoece. São os novos guerreiros da produção. E, por isso, há a exaltação do discurso fálico para aqueles que ultrapassam as metas e não faltam. O trabalhador sadio é exaltado, é um “macho bravo”, que não adoece, que não questiona e se ajusta às normas. Em contrapartida, há uma estratégia de eliminar os adoecidos, os questionadores, os que cobram a patologia do banco de horas e criticam a participação parcial nos lucros. Não é exagero dizermos que o ambiente de trabalho que todos vivem é de um constante culto à produção e imperativo do lucro máximo. Todos estão submetidos ao culto da competitividade, das práticas individualizadas e egoístas, o que não deixa tempo para tecer laços de amizade e muito menos ajuda mútua, no grupo social. Não há entusiasmo, confiança, respeito mútuo, reconhecimento no grupo, pois todos devem vigiar o trabalho do outro, encarar um ao outro como um potencial inimigo. São fatores que favorecem o adoecer, dão lugar ao desânimo no coletivo, à fadiga e a transtornos, ao aumento de acidentes e diminuição da produtividade. EC – O adoecimento devido à jornada estendida tem reflexos na Previdência ? Margarida – Sim. A empresa é responsável pelo pagamento dos primeiros 15 dias de afastamento do trabalhador. A partir do 16º, é a Previdência. Se você me perguntar qual a fotografia que temos do mundo do trabalho em pleno século 21, te falaria dos números oficiais. Eles nos revelam que entre 2008 e 2010 houve o registro de 2,3 milhões de acidentes do trabalho, com a morte de 8.089 trabalhadores, isto é, quase uma morte por acidente de trabalho a cada 3 horas. Desse total, 41.798 trabalhadores ficaram permanentemente incapacitados para o trabalho. Imagine uma pessoa que sofreu um acidente, que adoeceu em consequência do trabalho, que desencadeou um transtorno mental ou fadiga intensa, de tanto trabalhar. Não dá para você prever quantos dias esse trabalhador vai necessitar permanecer afastado de suas atividades, quando terá condições para retornar ao trabalho. O custo é muito alto. E se o retorno culmina com a demissão, por exemplo, essa pessoa poderá, após alguns meses de desemprego, desenvolver outras doenças como hipertensão, depressão e até mesmo ideações suicidas. EC – O aumento do número de postos de trabalho formais e do rendimento real representam avanços na direção do pleno emprego ? A qualidade dessas vagas está em discussão ? Margarida – É necessário termos um pouco de cuidado ao falarmos em pleno emprego. Deveríamos refletir e perguntar que tipo de emprego ? Precarizados ? Terceirizados ? Subempregos ? Temporários ? Trabalho informal ou em tempo parcial ? De empregos que exigem pouca qualificação, o que justifica pagar menos e explorar mais ? Do emprego que valoriza as coisas e desvaloriza os homens ? Da disseminação do trabalho que adoece e mata ? São modalidades que provocam insegurança tanto na manutenção do emprego como na renda, que é sempre menos ante um trabalho que exige muito e, ainda por cima, é pouco valorizado socialmente. Vivemos transformações intensas e profundas no mundo do trabalho, cuja marcas são as reestruturações e flexibilizações do processo produtivo ao lado de intensas desregulamentações, precarização social e do trabalho que se juntam às demissões massivas. Quem fica, fica sobrecarregado, tendo que enfrentar e internalizar o discurso no qual o futuro da empresa é o seu futuro, o seu sucesso. EC – Ou seja, o custo do pleno emprego é alto e quem paga são os trabalhadores… Margarida – Sim, pois trabalhar em condições precarizadas, sobrecarregados de tarefas, coisificados, alienados do seu próprio sofrimento, por não se reconhecerem no trabalho que realizam não pode ser motivo de prazer e saúde. Ao contrário, na medida em que acentua a falta de sentido do trabalho, que favorece o “despertencimento social” ou a exclusão cada vez maior dos trabalhadores formais. São dimensões que favorecem o aparecimento dos “déspotas de si mesmos” ante um clima de exacerbação da banalização das injustiças. Não vamos esquecer que há degradação da condição salarial, há jovens sem trabalho, há diminuição de oferta de trabalho para os que ultrapassaram os 50 anos de idade e, contraditoriamente, com alto nível de escolaridade e qualificação profissional. O novo, hoje, é que se demite com uma facilidade espantosa, independentemente de colocar-se contra a legislação ainda vigente. “…entre 2008 e 2010 houve o registro de 2,3 milhões de acidentes do trabalho, com a morte de 8.089 trabalhadores, isto é, quase uma morte por acidente de trabalho a cada 3 horas. Desse total, 41.798 trabalhadores ficaram permanentemente incapacitados para o trabalho” EC – Como os empregadores justificam as jornadas de trabalho excessivas ? Margarida – Usam o batido argumento das dificuldades, da possibilidade de fechar a empresa ou mudar de região, da necessidade de oxigenar e enxugar gastos. São ameaças que rondam o cotidiano dos trabalhadores, como metáforas e fofocas que desestabilizam e facilitam a adesão de todos às mudanças, mesmo que essas signifiquem maior dedicação e, consequentemente, maior autossacrifício em nome da produtividade ; ou maior índice de adoecimentos por concentração de tarefas. E o contexto da crise mundial é providencial, pois os ajuda a justificar suas práticas de diminuição de despesas mesmo quando a concentração da riqueza continua em mãos de poucos. EC – De que forma a precarização esvazia de sentido o trabalho? Margarida – Sabemos que o homem compõe a sua existência tendo como base os pilares da afetividade nos variados e diversificados encontros que constrói durante sua vida no trabalho. Essa dimensão é fundamental, mesmo quando reconhecemos que os pilares afetivos nem sempre estarão ancorados em afetividade ética e daí as infinitas composições da vida. É no trabalho que você vive grande parte do seu dia e ali a composição ética entre os corpos daqueles que-vivem-do-trabalho, depende direta ou indiretamente das ideias criativas, da autonomia, do saber-fazer, do reconhecimento daquilo que faz, do respeito mútuo. Esses aspectos sustentam os afetos de solidariedade, permitindo bons encontros no coletivo. Quando esse ambiente é flexibilizado e precarizado, dominado por pressões e humilhações, exigências de metas e violações constantes, o que resta ? Um homem fragmentado, dividido, sujeitado. EC – O que é legal e aceitável e o que pode ser considerado excessivo em termos de jornada de trabalho ? Margarida – Todo ser humano necessita descansar, dormir e repor as energias, vivenciar a família e acompanhar o crescimento dos filhos. Deve ter tempo para lazer. Quando a jornada excede as 8 horas diárias, que já são muito se consideramos o avanço tecnológico, se torna inaceitável e imoral, pois representa uma exploração imposta ao corpo e à mente dos trabalhadores e trabalhadoras, que leva mais precocemente aos adoecimentos. A Organização Internacional do Trabalho (OIT) e a Organização Mundial da Saúde (OMS) defendem o trabalho seguro e decente. E aqui não se pode falar minimamente em decência dos empregadores ante um novo ideário político neoliberal de livre comércio que prima pela menor presença do Estado com poder regulador das relações entre capital e trabalho. Somos um país em que apesar das subnotificações, tem um altíssimo índice de acidentes, doenças e morte em consequência do trabalho, e adoecer ou morrer do trabalho é perverso e indecente. O trabalho fere, adoece e mata cotidianamente centenas de trabalhadores e trabalhadoras em nosso país. É só olharmos as estatísticas oficiais. Por isso, a OIT chama a atenção para as mudanças na organização do trabalho associadas ao avanço tecnológico nos locais de trabalho, o que tem contribuído de forma decisiva para o surgimento de novos riscos no ambiente laboral. Esses avanços acarretam novas consequências à saúde e à segurança do trabalhador. Deste modo, os novos riscos convivem lado a lado com os velhos e estão concentrados em três categorias : as novas tecnologias e processos de produção, advindos como, por exemplo, com a nanotecnologia, a biotecnologia ; as novas condições de trabalho, ou seja, as jornadas prolongadas, a intensificação do trabalho, o aumento do setor informal etc. E, por último, as novas formas de emprego, como o emprego independente, parcial, em casa, a subcontratação, os contratos temporários e tantas outras formas de contrato. EC – Quais são as profissões mais expostas ao abuso de poder por parte do empregador? Margarida –Sem dúvidas as profissões relacionadas ao setor da Saúde, da Educação, Comunicação e Serviços. Não há setor que explore menos ou mais. Há formas de degradação das relações e condições de trabalho que são mais caóticas, desumanas como, por exemplo, o trabalho infantil, o trabalho escravo, o trabalho dos imigrantes, e até diria o trabalho dos negros e deficientes, regados frequentemente com práticas discriminatórias e atos racistas EC – No caso dos professores, as novas tecnologias estenderam ainda mais o trabalho extraclasse… Margarida– Os professores não ficaram isentos das transformações que ocorreram na sociedade e, em especial, na educação. Essa profissão lida com valores, com afetos e emoções e seu foco está centrado no ser humano, informação e formação do outro. Portanto, sua prática está permeada pelo cuidar, administrar e também zelar pela formação e preparação. Como lidar com valores de competição, quando você deve formar o jovem para o mercado que aí está e ensinar-lhe que seja “um vitorioso sobre os outros”, sem se importar com o sofrimento que pode causar ? Como lidar com essas demandas que lhes são impostas como as jornadas prolongadas, exaustivas, a falta de reconhecimento e o pouco tempo para estudar e aprimorar seus próprios conhecimentos ? A pressão da organização é grande, o que gera conflitos internos, sofrimento que pode desencadear ou ser consequência dos transtornos e adoecimentos. Para dar conta da demanda, muitas vezes tornam-se subservientes por necessitar do emprego ou mesmo se calam como estratégia defensiva, como forma de aguentar o insuportável. É uma condição que pode levar à perda de identidade, desprazer, na medida em que as exigências aumentam e as condições de trabalho regridem, alterando a relação do docente com alunos, colegas e sua família. O professor está submetido à lógica perversa do produtivismo acadêmico, que ao invés de alavancar o desejo, o prazer e o conhecimento, o emperra, levando ao fracasso de uma política que se baseou na eficácia quantitativa e monetária, que acumula fortunas e não conhecimentos. “Muitas vezes a política adotada pelas empresas tem sido de fuga ou até mesmo de culpabilizar o corpo técnico. É uma forma perversa de lidar com a vida humana, menosprezando aqueles que produzem riquezas” EC – Qual a relação entre condições de trabalho e adoecimento de professores? Margarida – Há um grande estudo da década de 90, realizado por pesquisadores da Universidade de Brasília, que aponta a Síndrome de burnout como dominante entre professores. Em 2010, participaram da pesquisa 1.821 professores. Nos resultados e análises dos dados fica evidenciada a relação entre adoecimento e condições de trabalho, ou seja, 63,2% dos pesquisados referiram jornadas prolongadas e extenuantes. Os sintomas mais comuns continuavam sendo cansaço, nervosismo, perda de voz, fadiga/cansaço, dores de cabeça etc. EC – Por que o descaso com a saúde do trabalhador deve ser visto como ‘homicídio culposo’ ? Margarida – É dever dos empregadores garantir um ambiente de trabalho sadio, sem riscos ou com os riscos controlados e que não exponha os trabalhadores a doenças e mortes. Na medida em que o empregador prioriza as medidas de proteção individual e não interfere nas condições de trabalho, ele é responsável. E mais, toda empresa possui técnicos capazes de assinalar os riscos, os possíveis danos a que estão expostos os trabalhadores. Apontam sugestões e propõem medidas, mas falta a eles autonomia para fazer. Quando ocorre um agravo ou morte que poderia ter sido evitada, o empregador deve ser responsabilizado por sua omissão. Muitas vezes a política adotada pelas empresas tem sido de fuga ou até mesmo de culpabilizar o corpo técnico. É uma forma perversa de lidar com a vida humana, menosprezando aqueles que produzem riquezas. https://www.extraclasse.org.br/edicoes/2012/10/jornada-de-humilhacoes/

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Assédio Moral, Saúde do Trabalhador e Ações Sindicais

Esta obra reúne artigos do psicólogo Arthur Lobato publicados em sites blogs e jornais durante um período dez anos. O material visa contribuir com a prevenção e informação, considerando a trajetória de prática profissional vivenciada pelo autor em relação ao assédio, saúde no trabalho e ações sindicais em casos e situações de assédio moral no âmbito jurídico, sindical e atendimento clínico psicológico — clínica do trabalho.

O autor aponta para os novos desafios que a nova ordem da economia mundial, instaurada nas sociedades capitalistas neoliberais demandam. Esta tem sido marcada pela intensa competição entre as organizações e apoiada no uso expressivo de novas tecnologias de produção em constantes transformações, criando um ambiente mutável e de grande instabilidade nas organizações modernas.
ISBN: 978-85-9471-033-8 Belo Horizonte: RTM, 2018 199 páginas

lobatosaude@yahoo.com.br 55 31 3461-6157

Informações e venda: taiswebjornalismo@gmail.com

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Assédio moral no trabalho: caracterização e consequências

Assédio moral no trabalho: caracterização e consequências

Autor:Dr Paulo Eduardo Vieira de Oliveira

Resumo:
As relações de emprego sofreram muitas mudanças nos últimos anos, em especial no que se refere ao relacionamento entre empregado e empregador.
A questão do assédio moral, que surgiu inicialmente no campo da medicina, hoje é tema de preocupação de empresas, trabalhadores e do Direito do Trabalho, como um todo.
O livro promove uma reflexão sobre a problemática do assédio moral e sua ocorrência nos mais diversos momentos de um contrato de trabalho, ressaltando a importância das medidas preventivas por se tratar de matéria que afeta o meio ambiente de trabalho sadio.

Qualidade de vida no ambiente de trabalho dos profissionais de educação

Qualidade de vida no ambiente de trabalho dos profissionais de educação

Autores:Ubirajara B. Cabral Júnior (organizador)
Hemrique de Albuquerque Carvalho
Francisco de Paula Nunes Sobrinho
Margarida Barreto
Gisele Cristine Tenório Levy
Tatiana Emílio Nasser
Lúcia Provenzano

Resumo:
Em qualidade de vida no ambiente de trabalho de profissionais da educação, temos um compêndio organizativo da evolução do conceito de qualidade de vida no trabalho (QVT), possibilitando aos leigos no assunto, uma compreensão dessa abordagem ao longo das ultimas décadas e quais as finalidades inerentes destas percepções. Para cada época uma visão e uma aplicabilidade correspondente.

A obra é resultado de uma tese de doutoramento e tem como foco, pesquisa e análises do ambiente de trabalho dos profissionais de educação. Na busca por resultados que viessem a expressar uma real percepção dos níveis de satisfação e compreensão da qualidade da atmosfera existente na escola, o autor teve a preocupação de pesquisar todos os diferentes postos de trabalho.

Entre as conclusões apresentadas pela pesquisa, a constatação de que a satisfação não esta ligada apenas à remuneração oferecida aos profissionais da educação. Fatores como estilo de liderança das chefias, valorização e reconhecimento quanto ao trabalho desenvolvido são igualmente relevantes.

Violência, saúde, trabalho: uma jornada de humilhações

Violência, saúde e trabalho: uma jornada de humilhações

Autor(a): Margarida Barreto
ed. – São Paulo – EDUC – Editora da PUC-SP – 2003 – 235 p.
ISBN: 85.283-0293-8

Resumo:
A autora dialoga com a medicina e a sociologia do trabalho, e igualmente com a psicologia social, instigando a revisão de suas próprias concepções e práticas relativas à saúde do trabalhador por meio de reflexão interdisciplinar. Enfatiza a unidade da vida psíquica e do funcionamento fisiológico, bem como sua inscrição na história das sociedades; ressalta também a necessidade de se pensar a saúde não só nos planos biológico ou psicológico – ou , ainda, na relação entre eles – , mas na sua dimensão ética e política.

Sumário:
Proêmio / 23

Introdução / 35

Saúde – doença e emoções: reflexões teóricas / 43
Uma rápida abordagem histórica / 43
Saúde como virtude e simetria: corpo, alma e sociedade / 44
Saúde como estado biológico afetado em seu equilíbrio pelo social / 46
Saúde como estado físico, mental e social / 48
Saúde como processo biopsicossocial / 52

Emoções: uma análise histórica / 57
Emoções: fonte do mal / 58
Controlar as paixões: uma finalidade política / 60
Emoções como sentido ético / 61
Controlar as emoções para salvar a alma / 62
As emoções interditam o conhecimento / 64
As emoções e sua intrínseca ligação com o conhecimento e a ética / 68
A plasticidade das emoções na relação sa-ude-doença / 85

Trabalho, emoções e saúde / 93
A essência do trabalho / 93
Corpos submissos, dóceis e ativos / 96
O trabalho hoje: flexibilização e expropriação das emoções e da saúde / 98
Doentes e humilhados. Demitidos e desempregados / 103

Nas empresas: o agir médico e as práticas da “saúde perfeita” / 111
Programas “Qualidade de Vida” / 115
A busca por “trabalhadores sadios” / 118

Uma jornada de humilhações e adoecimentos: análise do discurso / 127
O mundo do trabalho: sentido e signifcado sexuado / 127
Tempos de sorrir, tempos de chorar / 142
As rupturas com o trabalho / 155
Suportar a doença para evitar a “dor” do desemprego / 159
O mundo da fábrica / 162
A humilhação imperdoável: relação médico-paciente / 169
A humilhação inesperada: o espaço sindical / 178
Uma sociedade autoritária / 184
A humilhação como dor social / 188
As emoções no e do corpo: seqüelas da humilhação / 191

Conclusões / 197

Anexos / 213

Referências bibliográficas / 219

Bibliografia / 231

Assédio moral no trabalho

A violência no ambiente de trabalho tem aumentado em todo o mundo. Uma de suas expressões mais recentes é o assédio moral, que causa impacto na vida pessoal, familiar e social do trabalhador. Não se trata, porém, apenas de uma questão individual, pois ela ocorre no universo organizacional e entre profissionais que usam prerrogativas organizacionais; ou seja, este é também um problema das organizações. Este livro busca dotar o leitor de um conhecimento prático que lhe permita identificar e reagir contra o assédio moral; também são fornecidos às organizações argumentos e meios que lhes possibilitem desenvolver práticas que previnam e punam esse comportamento.

ISBN: 8522106282
Categoria: Administração e Finanças
Ano de publicação: 2008
Número de páginas: 144
Preço: R$ 27,90