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Objetivos

Um poema
Um poema

Ao colocar o tema “assédio moral no trabalho” na internet, nosso objetivo é antes de tudo informativo.

Desejamos:

  • dar visibilidade ao tema;
  • democratizar a informação e com isso contribuir para o avanço das reflexões e debates sobre o tema;
  • subsidiar as discussões dos movimentos sociais sobre o tema;
  • auxiliar a discussão política sobre o tema nas Câmaras de Vereadores, Assembléias Legislativas Estaduais, na Câmara Federal e no Senado;
  • auxiliar as vítimas divulgando informações que possam ser úteis para solução dos seus problemas;
  • dar subsídios para profissionais e pesquisadores interessados no assunto.

Para que este site melhore a cada dia, colabore enviando informações sobre o que acontece na sua região, no seu sindicato, na sua empresa, a respeito do assédio moral no trabalho, assim como notícias na imprensa ou novos projetos de lei. Sua colaboração vai nos ajudar a conhecer melhor a realidade do nosso país nesta área e será importante para conscientizar um grupo cada vez maior de pessoas. Juntos podemos dar uma contribuição para a implantação de um modelo de sociedade mais humana e solidaria, e darmos um basta ao assédio moral no trabalho.

Encerramento

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Ritalo: Para a saudação final, passo a palavra a Dra. Marie France e Dra. Margarida Barreto. Encerraremos este seminário com uma apresentação musical.

Marie France Hirigoyen: Queria simplesmente dizer que o trabalho realizado aqui por Margarida Barreto é extraordinário. O que aconteceu no Brasil é importante não somente para o Brasil mas também no plano mundial. Quero lembrá-los que há um site brasileiro na Internet, denominado www.assediomoral.org que foi traduzido em várias línguas e que agora é muito apreciado na Europa. Assim, atuem pois nós estamos ‘olhando’ vocês. Muito obrigado.

Margarida Barreto: Em nome das entidades que organizaram este evento, passo às suas mãos, Dra. Marie France, um certificado que tem um valor simbólico muito grande. Diz respeito a sua presença, ao que nos ensinou esta tarde e que, certamente, será inesquecível para todos nós! Sabemos que a Dra. Marie France fez e tem feito muito pelos trabalhadores e trabalhadoras do mundo inteiro e sua luta, para nós, significa resistência. Resistência criativa e ativa. Temos a certeza de que você, na Europa, e nós, aqui no Brasil e em diferentes continentes, devemos unir-nos visando combater as diferentes manifestações da violência no ambiente de trabalho. Hoje, mais que ontem, está colocado como imperativo e na ordem do dia, afirmarmos: proletários do mundo, uni-vos; humilhados do mundo, uni-vos; assediados do mundo, uni-vos!

Margarida Barreto: Teremos agora um momento mágico. Prefiro que a Márcia, a qual tive o privilégio de conhecer há algum tempo atrás, conte para vocês quem é, por que está aqui. Este é um momento que, creio, ficará marcado como um momento de superação e resistência à própria dor, mesmo quando esta resistência ainda é marcada e transversada por recordações tristes. Márcia, por favor…

Marcia: Boa noite, meu nome é Márcia, este aqui no teclado é o meu marido e não é sem razão que estou aqui hoje, porque sou cantora lírica, cantei cinco anos no Coral Sinfônico do Estado de São Paulo que pertence à Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo e eu também sou vítima de assédio moral. Fui demitida em setembro de 2000, após cinco anos de maus tratos e enfim, as coisas que vocês já conhecem. Então, eu estou aqui hoje, a convite da Dra. Margarida. Logo que fui demitida, me sentia muito doente, sem condições de cantar, eu perdi a voz, fiquei sem condições de trabalhar e sem compreender porque tudo isto estava acontecendo comigo. Então, quando eu e meus colegas (porque nós somos um grupo de pessoas que passaram por este problema, não foi só eu) a vimos pela TV, entramos em contato com ela e ela, então, explicou para a gente o que era o assédio moral. Isso elucidou muitas coisas e nos fez perceber que perder o emprego é uma coisa inevitável, depois de uma situação de assédio. E que não podíamos perder a dignidade. A gente perdeu o emprego, mas a gente não perdeu a dignidade. Então, hoje, a gente está aqui para apresentar uma música, para encerrar o seminário com um pouco de música e esperança.

Nós preparamos uma canção de um compositor paraense que se chama Valdemar Henrique, a peça se chama “Sra. Dona Sancha” e ela fala muito da busca da felicidade, da ilusão que temos quando somos criança e a gente tem muita ilusão dos objetivos, das coisas que queremos alcançar na vida e, quando chega na fase adulta, vemos que as coisas não são tão fáceis assim. Ela termina, ainda, com o desejo de encontrar um caminho de esperança e luz. Espero que vocês gostem.

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Moção contra o Assédio Moral

Em 1996, a Organização Internacional do Trabalho (OIT) chamava a atenção para a exposição dos trabalhadores (11,2%) de diferentes paises a situações consideradas de violência moral no local de trabalho. As cifras levantadas revelavam que 8,9% das trabalhadoras da França, estavam expostos ao Assedio Moral no local de trabalho, seguido da Argentina (6,1% homens e 11,8% mulheres), Romênia (8,7% homens e 4,1% mulheres), Canadá (3,9% homens e 5,0% mulheres), Inglaterra (3,2% homens e 6,3% mulheres) e finalmente, Estados Unidos (1,0%homens e 4,2% mulheres).

Este quadro se agravou desde então e os dados internacionais revelam que 8% dos trabalhadores da União Européia (12 milhões) vivenciaram situações de humilhações e constrangimentos, 4% sofreram violência física e 2% assedio sexual.

A Organização Internacional do Trabalho (OIT) e Fundo Europeu para Melhoria das Condições de Trabalho e de Vida (Fundo Dublin, 2000), reconhecem que o ‘assedio moral’ ou “mobbing’ constitui um problema internacional que vem aumentando a cada ano em paises como Alemanha, Austrália, Áustria, Dinamarca, Estados Unidos, Reino Unido, França, Espanha e Suécia. Segundo a Agencia Européia para a Saúde e a Segurança no Trabalho, o assedio moral aumentou nos últimos 3 – 5 anos na Áustria, Bélgica, Paises Baixos, Irlanda, Espanha e Suécia. A terceira pesquisa divulgada pela OIT, revela que 9% dos trabalhadores da Finlândia, Reino Unido, Holanda, Bélgica, Luxemburgo, Suécia e Portugal, são vitimas de assedio moral.

Na França, a psiquiatra Marie-France Hirigoyen com formação em vitimologia em seu país e Estados Unidos da América, revelou a amplitude do problema no ambiente de trabalho quer em empresas privadas ou publicas, em diferentes categorias. Para a pesquisadora, a ‘guerra psicológica’ que se instaura no ambiente de trabalho, envolve o abuso de poder e a manipulação perversa, fatores responsáveis pela desagregação da saúde física/mental.

A discussão da violência moral no trabalho aqui no Brasil é recente e toma fôlego a partir de divulgação de uma dissertação de mestrado defendida em maio de 2000 na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC), Departamento de Psicologia Social, denominada “Uma jornada de Humilhações” (Barreto, 2000).

A violência moral no ambiente de trabalho ainda não foi incorporado pelos profissionais da área de saúde e trabalho como risco invisível (fator psicossocial) responsável pela degradação deliberada das condições de trabalho, gerando um clima negativo nas relações, desestabilizando emocionalmente os/as trabalhadores/as, comprometendo a saúde, desencadeando ou agravando doenças que podem levar disfunção e/ou incapacidade laborativa, de longa duração ou até mesmo a morte. As ofensas, humilhações e a sobrecarga de trabalho em razão da condição de raça e cor reforçam a informação que vem sendo apontada pelos principais institutos de pesquisas, há mais de vinte anos, que o contingente da população negra comparada com a branca é o seguimento mais discriminado, sendo que o mesmo acontece quanto ao Assedio Moral no trabalho.

Diante do exposto, faz-se necessário que o poder público reconheça a importância do tema diante das conseqüências e danos a saúde da vitima, propiciando não somente medidas legais especificas mas atendimento interdisciplinar em que os profissionais sejam preparados para ouvir e compreender a vitima, evitando a medicalização e “psiquiatrização do problema social” como lembra Hirigoyen.

Moção contra o Assédio Moral no Trabalho

Os participantes do I Seminário Internacional sobre Assédio Moral no Trabalho reunidos no Sindicato dos Químicos e Plásticos de São Paulo, Capital (Brasil) no dia 30 de abril de 2002 consideram que:

  • As relações entre os trabalhadores e trabalhadoras, condicionam em grande parte a qualidade da vida social e que, portanto, o que acontece dentro das empresas é fundamental para a democracia e os direitos humanos;
  • Que lutar contra o assédio moral no trabalho só pode contribuir para o exercício concreto e pessoal de todas as liberdades fundamentais;
  • Que as relações no trabalho devem se pautar por transparência, respeito ao outro, dignidade, ajuda mútua e companheirismo;
  • Que o assédio moral no trabalho é uma prática a ser eliminada.

Se você concorda, assine esta Moção, exigindo:

  1. Norma Regulamentadora específica, do Ministério do Trabalho e/ou do Ministério da Saúde.

  2. Legislação Federal que penalize, solidariamente, agressores e empresas (privadas, publicas, filantrópicas, ONGs e outras) que descumprirem as medidas de higiene, segurança e proteção a saúde dos trabalhadores e trabalhadoras no ambiente de trabalho.

  3. Reconhecimento dos fatores psicossociais como risco invisível que pode agravar doenças preexistentes ou desencadear novas doenças, colocando em risco a integralidade da saúde ou mesmo a própria vida da vítima.

  4. Mudanças nas políticas de gestão que interfiram diretamente na organização do trabalho.

Nome Assinatura Instituição RG
       
       
       
       
       
       
       
       
       
       
       
       
       
       
       
       
       
       
       
       

Perguntas do auditório

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C. S. (socióloga) – Porto deficiência física hemiplégica direita e sofri, no meu trabalho, assédio moral, num órgão estadual. Gostaria de saber se a Dra. Marie France conhece caso com pessoas portadoras de deficiência e que sofreram assédio moral no trabalho.

Marie France Hirigoyen: Sim, acredito que é um verdadeiro problema. O assédio moral provoca dificuldades, seqüelas físicas. O problema é que a pessoa fica doente, não pode ir mais trabalhar e as pessoas têm dificuldade de acreditar que é por causa do assédio moral.

Atualmente, na França, não é ainda reconhecido como uma doença profissional, está se pensando nisto mas, ela não é ainda reconhecida como doença profissional. Houve somente casos onde foi considerado como um acidente de trabalho na França, na Espanha e em outros países europeus. Os casos reconhecidos como acidentes de trabalho são casos muito graves, já que se trata de pessoas que fizeram tentativas de suicídio, uma deles é, hoje, paralítica. O caso foi reconhecido como erro grave do empregador de ter deixado o assédio moral persistir mas, há muito a ser feito para o reconhecimento destas doenças como conseqüência do assédio moral.

Dra. Frida Fischer: Queria congratular o sindicato por esta iniciativa brilhante. Eu trabalho na Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo, meu nome é Frida Fischer e nós estamos desenvolvendo estudos, há alguns anos, com adolescentes que trabalham. Temos notado através das respostas dos questionários que damos aos adolescentes que, muitos adolescentes, de alguma forma, manifestam um tipo de assédio moral. São vítima de xingamentos, advertências ou nomes pejorativos, pelos quais são tratados ou alguma forma de discriminação. A imensa maioria dos adolescentes que trabalham não têm direitos trabalhistas aqui no Brasil, não têm carteira de trabalho, documento oficial que os proteja em relação a indenizações etc. Eu gostaria de saber se, por acaso, a senhora tem algum registro de assédio moral entre adolescentes de dezoito anos, principalmente?

Pergunta complementar: – Sou Rosana, faço parte da diretoria do Sindicato dos Químicos e Plásticos. Muitas vezes os próprios companheiros de trabalho praticam o assédio moral, achando que se o colega perder o emprego eles vão garantir o deles. Como conscientizar os trabalhadores contra o assédio moral num país em que o neoliberalismo e a globalização estão cada vez mais, destruindo ou esgotando os postos de trabalho?

Marie France Hirigoyen: Vou responder primeiro à pergunta sobre os adolescentes. Com relação ao adolescente, estudos que foram feitos na França mostram que os adolescentes não ousam se queixar de assédio moral, no entanto, muitas vezes são assediados, muitas vezes são maltratados, eles têm uma grande tolerância, como estão no início da carreira profissional não ousam se queixar. Acredito que a prevenção do assédio moral também consiste em dizer que não devemos aceitar tudo e ousar se agrupar para reagir coletivamente.

Foi feito um estudo na França, com profissões ligadas ao preparo de refeições e se constatou que numerosos jovens eram humilhados coletivamente, maltratados e algumas vezes, com agressões físicas, mas não diziam nada porque eram ameaçados. O que está acontecendo na França é que enquanto as pessoas com mais idade ousam se queixar, os jovens têm mais dificuldades. Acredito, efetivamente, que devemos ensinar as nossas crianças, aos nossos jovens a não aceitar tudo e a aprender a se unir para poder se defender.

Com relação a segunda pergunta, acredito efetivamente que o assédio moral é mais desenvolvido em função do neoliberalismo atual e da necessidade, por parte dos trabalhadores, de aceitar esta situação sob pretexto do bom funcionamento da empresa, dos acionistas e sob ameaça de demissão em massa, de fechar a empresa. Com estes pretextos, obrigam os trabalhadores a aceitar muitas coisas que seriam inaceitáveis.


Chegaram três perguntas:

1 – Como se caracteriza o assédio moral para fins de punição da empresa?
2 – O ônus da prova cabe ao trabalhador?
3 – São catalogados os danos psíquicos?


Marie France Hirigoyen: Com relação ao ônus da prova, a nova lei francesa prevê que os dirigentes da empresa ou da organização são responsáveis e conseqüentemente sancionados, se deixaram acontecer o assedio moral e se não implantaram um plano de prevenção. Nos casos graves, se o agressor, mesmo que ele seja um colega ou qualquer empregado da empresa, poderá ser castigado. Está previsto na lei um ano de cadeia e quinze mil euros de multa, ou seja, 15 mil dólares. Assim, o empregador é sempre responsabilizado solidariamente por ter deixado acontecer esta situação.

Pergunta: Que procedimentos poderiam ser utilizados para dimensionar o assédio moral entre as várias categorias de trabalhadores?

Marie France Hirigoyen: Penso que não devemos separar as diferentes categorias profissionais, os procedimentos de assédio moral são os mesmos e é necessária uma prevenção individual em função do contexto. A prevenção, para mim, consiste em sanear, em melhorar as condições de trabalho, em melhorar o diálogo e a comunicação nas empresas, para que seja dado nome às coisas e que se possa solucionar os problemas à medida que eles surgem.

Há setores profissionais em que existe mais assédio moral do que em outros. Talvez tenhamos uma diferença em relação ao Brasil, segundo o que a Margarida falou há pouco. Na Europa, há menos assédio moral no chão da fábrica porque as tarefas são muito específicas e definidas e não se pode dar queixa de qualquer coisa para qualquer um. mais assédio moral nos hospitais, particularmente, com as enfermeiras e, também, no ensino, seja ele fundamental, secundário ou universitário e, também, na administração pública, particularmente no âmbito municipal.

Há mais assédio moral no setor público do que no setor privado. E há mais assédio moral nos contextos onde há rivalidades e poder em jogo. Por exemplo, há muito assédio moral nas associações humanitárias ou caritativas. Ali, não há a questão do lucro, de dinheiro a ser ganho, mas há poder em jogo e rivalidades.

Perguntas de um grupo de alunos de pós-graduação de Recursos Humanos da FAAP que querem saber qual o papel dos departamentos de recursos humanos e o que eles podem fazer, enquanto profissionais de RH, para prevenir o assédio moral numa empresa. E, também, qual seria o papel dos RH na França e na Europa frente ao assédio moral?

Marie France Hirigoyen: Os departamentos de RH têm um papel fundamental para combater o assédio moral. O problema é que estão, muitas vezes, numa situação incômoda por ser um elo entre a direção e os trabalhadores. Tivemos, na França, caso de diretores de RH que foram vítimas de assédio moral por ter defendido os trabalhadores. No entanto, penso que eles têm um papel fundamental a desempenhar para implantar uma política de prevenção do assédio moral na empresa. Eles têm o papel de educar os dirigentes, de ensinar qual a realidade do assédio moral e, também, de adverti-los e assustá-los, mostrando que isto é ruim para a imagem da empresa, que podem vir a ter problemas se deixarem o assédio moral se implantar.

Podem também tentar resolver os conflitos à medida que forem surgindo e construir redes de apoio para eventuais vitimas. Há alguns casos, na França, em que diretores de RH implantaram autênticas políticas de prevenção nas empresas e isto, creio que é muito importante.

Alunos da FAAP: Qual sua opinião sobre elaborar um código de ética em que constem informações sobre assédio moral?

Marie France Hirigoyen: Penso que um código de ética é muito bom e até indispensável, mas não tenho ilusões quanto a discursos que podem tudo, que falam de ética e não a praticam.

Comentário de Margarida Barreto:

Gostaria de acrescentar que aqui no Brasil, a maioria das empresas de médio e grande porte têm código de ética e nem por isso cumprem na prática aquilo que escrevem. Contraditoriamente, temos casos de trabalhadores que foram demitidos exatamente por cumprir na prática, o código de ética da empresa.

Pergunta: Quem está sendo assediado numa empresa tem condições de saber de onde partiu esta ordem e por quê?

Marie France Hirigoyen: Geralmente os fatos de assédio moral são fatos escondidos, subterrâneos, que provocam confusão, não se sabe sequer do que está acontecendo e é difícil entender porque estamos sendo assediados. Penso que a única solução para conseguir sair desta situação é se pedir ajuda para que, justamente, uma outra pessoa possa lhe ajudar a compreender o que está acontecendo. O problema é que não se pode confiar nas aparências, muitas vezes a pessoa que parece ser a responsável pode, por exemplo, ser alguém que está sendo manipulado pela hierarquia da empresa.

A dificuldade é efetivamente saber a quem se queixar, a quem atribuir alguma coisa. Acontece, às vezes, que o agressor, a pessoa que está sendo punida não é a pessoa que está na origem do conflito. Neste sentido, o assedio moral é um mecanismo perverso que está e é ocultado e que pode vir de muito alto.

Pergunta: A humilhação sofrida nos serviços de saúde, como relatado aqui, e que são freqüentes, pode ser definida como assédio moral?

Margarida Barreto: Permita-me Dra. Marie France, esclarecer que aqui no Brasil, esta situação é freqüente. O trabalhador ao procurar os serviços de saúde, muitas vezes, se depara com situações de discriminação, de desvalorização, de negação do diagnóstico e do nexo causal, de ocultação da doença ou acidente, de negação do direito ao beneficio da previdência social, de tentativas de convencer o adoecido que o melhor é aceitar o auxilio doença e esquecer o auxilio acidente que lhe asseguraria estabilidade de um ano, após retorno ao trabalho. Isto termina reproduzindo o que o trabalhador já viveu na empresa: humilhações, discriminações, ofensas e desvalorizações. Muitas vezes, a relação médico-paciente é uma reafirmação do sofrido no ambiente de trabalho. Vive uma ‘via crucis’ para ter oficializado a comunicação do acidente ou doença, pois o nexo causal é freqüentemente negado e sua doença, não reconhecida pelos órgãos do INSS. Acrescentaria a pergunta anterior: em que dimensão as legislações de combate ao assédio moral nos países europeus tem resultado na diminuição deste problema?

Marie France Hirigoyen: No que diz respeito ao tratamento recebido nos serviços de saúde pelas vítimas de assédio moral, na França, os médicos do trabalho estão muito envolvidos na prevenção e na luta contra o assédio moral. Eles têm feito muito para defender as vítimas de assédio, assim, a primeira ajuda encontrada pelas vítimas é junto aos médicos do trabalho que fazem, muitas vezes, notificações e relatórios médicos para defender as pessoas.

No que diz respeito a pergunta sobre as legislações na Europa, eu diria que, incontestavelmente, mesmo antes que houvesse uma lei sobre o assunto, já havia uma consciência da gravidade dos fatos de assédio moral. Não há, ainda, estudos suficientes, mas há muitos pesquisadores, médicos, advogados, trabalhando nesta área.

Pergunta: Gostaria que a senhora comentasse o aspecto que os trabalhadores mais dedicados e mais perfeccionistas são os mais assediados. Acrescentaria que as pesquisas dizem que a maior parte dos portadores de lesões por esforços repetitivos (LER/DORT) tem estas características: perfeccionistas, dedicados, trabalham mesmo doentes.

Marie France Hirigoyen: As pessoas mais motivadas são, efetivamente, as mais ‘usadas’, porque são pessoas que tentam trabalhar bem, que não aceitam os jeitinhos que possam existir na empresa. Vocês sabem que para uma empresa funcionar bem, é necessário que pessoas façam mais do que lhes é pedido. Entretanto, se fizerem simplesmente o que lhes é pedido, a empresa não funciona direito. Então quando a empresa não funciona, responsabilizam os trabalhadores afirmando ‘que não trabalham rápido o suficiente’ e passam a ser bloqueados pela organização do trabalho. Assim, as pessoas mais motivadas são também as pessoas mais críticas, que não aceitam que o trabalho seja feito de qualquer jeito, que seja mal feito. A partir do momento em que se é honesto demais, escrupuloso demais na empresa, pode-se encontrar pessoas que não são tão honestas assim e isso pode provocar ciúme, rivalidades. Há pessoas, por exemplo, que fazem tudo para tentar esconder sua incompetência e acusam você dos erros que elas podem cometer.

Com relação aos casos de LER/DORT é verdade que é um grave problema. Foram os mesmos médicos do trabalho que denunciaram a importância dos distúrbios músculo-esqueléticos ( LER/DORT) e que hoje, fazem prevenção e lutam também contra o assédio moral.

Mediadora: Temos aqui uma denúncia, não é uma pergunta.

Meu nome é M. T., sou aluna de 4° ano de Direito. Fui funcionária pública estadual da Justiça e fui obrigada a requerer a aposentadoria por não agüentar mais a pressão dos colegas que temiam que lhe tirassem a oportunidade de ser promovidos. Na justiça de São Paulo existe assédio moral em cima das mulheres que resistem ao assédio sexual. No serviço médico estadual há constrangimento com relação a funcionárias que têm doenças profissionais.

Outro comentário complementar: Pode haver assédio moral entre classes sociais, levando em consideração o fato que, aqui no Brasil, que o trabalhador recebe salário irrisório e devido ao alto índice de desemprego, o trabalho está completamente subordinado ao poder econômico e aprendemos, desde pequenos, que somos ‘povinho’. Ou seja, do ponto de vista da sociedade, há reprodução constante e a reatualização da inferiorizarão do outro.

Edílson de Paula (CNQ-CUT) – Quero, de antemão, parabenizar pelas brilhantes colocações da companheira. A minha pergunta vai no sentido de qual resistência houve até a aprovação da lei? Qual o setor que mais resistiu? Qual foi o envolvimento do movimento sindical na questão da lei sobre o assédio moral?

Marie France Hirigoyen: Na França, as coisas começaram após a publicação do meu livro, em setembro de 1998. Recebi muitas cartas, onde as pessoas me contavam que o meu livro relatava verdadeiramente , o que elas tinham vivido e elas pediam soluções, que eu não tinha,e então pedia para elas, que escrevessem para os políticos e elas fizeram isto. Os políticos passaram a receber um grande volume de correspondência e foram obrigados a reagir. Os primeiros que elaboraram um projeto de lei foi o Grupo Comunista da Assembléia Nacional, após isto, os socialistas tentaram retomar o tema, já que eles estavam no poder, fizeram um projeto de lei.

O Primeiro Ministro, Lionel Jospin, pediu, então, a elaboração de um relatório técnico ao Conseil Economique et Social onde há representantes dos diferentes sindicatos. O Conseil ouviu todos os profissionais que tinham algum conhecimento do tema e a lei foi aprovada relativamente rápido, já que a lei apresentada para ser votada em janeiro de 2001, foi bloqueada por outros motivos, porque estava sendo votada junto com uma outra que tratava de demissões, mas não houve, por parte dos políticos, uma verdadeira oposição, nem na direita, nem na esquerda, porque era um tema muito popular e existia uma pressão por parte das pessoas e, também, porque tínhamos eleições próximas e que os políticos queriam ter uma boa imagem junto às pessoas.

No que diz respeito aos sindicatos, na França, eles entenderam a importância do problema depois, ou seja, quando se começou a trabalhar na lei. Agora os sindicatos estão muito mobilizados, entenderam a importância do problema. O que dizem é que a dificuldade advém do fato que eles não são psicólogos e que não entendem tudo que acontece. Eu digo que é necessário que os sindicatos aprendam a trabalhar de forma pluridisciplinar, com médicos e psicólogos e que vão aprender.

Comentário de Margarida Barreto

O processo é bastante parecido com o nosso, com a exceção que os sindicatos no Brasil, aos poucos mas firmemente, vêm engrossando as fileiras de luta e têm compreendido sem medo, que a questão da subjetividade, dos afetos e emoções transversam as relações no ambiente de trabalho e conseqüentemente toda jornada de trabalho. Os sindicalistas têm sido testemunhas das desqualificações e discriminações que seus colegas vivem no local de trabalho e vêm aprendendo que a assimetria de poder gesta relações autoritárias permeadas de emoções tristes que causam freqüentemente, danos irreversíveis à saúde dos trabalhadores. Com relação aos políticos, de uma forma geral, está se passando exatamente o mesmo que na França: eles não se opõem, pois são muitos os trabalhadores assediados tanto da produção como aqueles que têm formação superior, e cada dia essas situações tornam-se mais visíveis.

Cecília Zavariz (DRT – São Paulo) – Nem sempre os meios de comunicação dão cobertura, mas temos conseguido. Mas a pergunta é a seguinte: quando a pessoa é assediada e quer fazer uma denúncia ou entrar com um processo por danos morais, ela tem um relato dela e não necessariamente provas, a prova está na própria doença dela, no próprio sofrimento dela e não tem escrito e, não tem instrumento que ela possa utilizar para estar mostrando o assédio que ela está sofrendo. Então, como ela pode estar fazendo isto? É suficiente o relato dela e os efeitos acentuados, os relatórios médicos, CAT², enfim, o relatório do médico que está acompanhando para, por exemplo, ela ganhar um processo por danos ou não ser afastada, mas ser ressarcida por aquilo que sofreu? O relato dela é suficiente? Temos esse tipo de dificuldade: possuir uma prova de que foi assédio, porque o agressor nega e fala que não é nada daquilo; os colegas não testemunham porque têm medo de perder o emprego e o indivíduo fica isolado, então, como trabalhar esta questão, como proceder no caso?

Marie France Hirigoyen: Na França se tentou solucionar este problema, colocando na lei uma inversão parcial do ônus da prova. Assim, basta que haja elementos que deixem supor que houve assédio moral e fica então a cargo do ‘suposto’ agressor provar que ele não é responsável ou não praticou tais atos. As associações de luta contra o assédio moral têm um papel importante na educação das pessoas, para ensinar a se defender. Quando a pessoa pensa que está sendo vítima de assédio moral é importante começar muito cedo a colher provas. O que se pede às pessoas é escrever num caderno, escrever todas as pequenas agressões com as datas, as horas, as testemunhas, as condições em que aconteceu, o que foi dito. Em vários casos este caderno constituiu uma prova com credibilidade para o juiz e foi considerado prova indireta.

Comentário de Margarida Barreto

Queria acrescentar para a Dra. Marie France e para os companheiros presentes neste seminário que o primeiro projeto de lei no Brasil antecedeu à própria visibilidade da violância moral na mídia. Assim, o primeiro projeto de lei em nosso país é de autoria do vereador do PT, Arselino Tatto. O projeto nasceu em 1999, inspirado em sua pesquisa Dra. Marie France e foi aprovado em 10 de janeiro desse ano. São Paulo começou 2002 com sua lei aprovada.

Existe em São Paulo um projeto de lei no âmbito estadual, do deputado Antonio Mentor – PT. Hoje em nosso país, existem várias leis aprovadas em município e estado, como por exemplo, São Paulo, Iracemápolis, Cascavel, Natal, Guararema entre outros. Existem mais de 60 projetos³ em vias de aprovação nas instâncias municipal, estadual e federal, incluindo projeto do Deputado Federal Marcos de Jesus – PL, que altera o Código Penal, com inciso ao artigo 146 e já foi aprovado em três instâncias. Há um outro projeto, da bancada do PC do B, que altera a lei federal de licitação instituindo um cadastro nacional de proteção contra a coação moral no emprego e prevê punição para as empresas que denuncias de assédio moral. A maior parte das leis com exceção da lei de 1999 do Vereador Arselino Tatto de São Paulo, todas as outras começaram a surgir depois da defesa do mestrado em maio de 2000 e posterior visibilidade na imprensa. Ressalto, entretanto, que o responsável e inspirador dos diferentes projetos de lei foi o Vereador Arselino Tatto.

Ritalo: Dra. Margarida, vai ler uma moção de apoio contra o assédio moral no trabalho. Após a leitura desta moção, teremos uma pequena apresentação musical e no encerramento desta apresentação musical, haverá uma confraternização. A mesa assinará e a platéia está convidada a assinar esta moção que será reproduzida em outros estados, em Pernambuco, em Minas Gerais, em Salvador e em diferentes estados do país.

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²Comunicação de Acidente do Trabalho
³Em 10/08/2002 existem 80 projetos tramitando em diferentes instancias.


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Participação da Dra. Marie-France Hirigoyen

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Marie France Hirigoyen (pesquisadora francesa, psiquiatra, psicanalista) – Gostaria de dizer que estou muito emocionada de estar aqui e muito intimidada também, porque vocês são numerosos. Gostaria de agradece-los de me receber, agradecer o Sindicato dos Químicos e Plásticos e, agradecer também a Margarida com quem eu tive contatos e intercâmbios sobre o tema.

Acredito que é interessante que eu esteja aqui porque vou tentar transmitir minha experiência na França com relação ao assédio moral, já que como vocês sabem, porque foi comentado anteriormente, temos uma lei há pouco tempo. Esta lei foi votada em dezembro de 2001 e somente em janeiro de 2002 foi sancionada e passou a ser aplicada. Ao mesmo tempo temos uma experiência européia já que um certo número de países tem projetos de lei; falaram aqui de Portugal, mas temos também a Bélgica, a Espanha, a maioria dos países europeus estão planejando ter uma lei e espero que, em breve, tenhamos uma lei européia que abarcará o assédio moral, o assédio sexual e também a discriminação, já que trata-se de uma mesma ofensa aos direitos humanos, uma mesma ofensa à dignidade da pessoa humana. O que me parece interessante é analisar o assédio moral com relação às diferentes formas de sofrimento no trabalho, pois mesmo em países que possuem uma legislação para proteger os trabalhadores, temos observado cada vez mais sofrimento psicológico no local de trabalho. Quando comecei a trabalhar sobre o tema, o que se dizia é que não era grave, já que o assédio moral sempre existiu e que, se as pessoas se queixavam era, no fundo, porque não eram suficientemente forte ou suficientemente adaptadas ao mundo do trabalho atual.

O que pude constatar é que o mundo do trabalho está se tornando cada vez mais penoso, que se exige cada vez mais das pessoas, que se trabalha cada vez mais e em condições que são psicologicamente cada vez mais duras. Talvez, fisicamente o trabalho, hoje, seja mais leve, mas psicologicamente o trabalho é cada vez mais áspero e pesado. Ao trocar experiências com Margarida sobre este assunto, constatei que os procedimentos de assédio moral eram os mesmos no mundo todo, na França, no Brasil, mas também em outros países como o Quebec, outros países europeus e latino-americanos. Os procedimento adotados são exatamente os mesmos e o sofrimento descrito pelas vítimas é descrito exatamente da mesma forma.

Penso que é interessante analisar este fenômeno porque no fundo, constatamos que o sofrimento é o mesmo e as conseqüências sobre a saúde também, o que muda são as características das pessoas atingidas, podemos dizer que, provavelmente, em função do contexto sociocultural, há diferenças quanto à forma de vivenciar a situação e essa, favorece a instauração do assédio moral. Vou tentar retomar alguns aspectos.

“Há, efetivamente, procedimentos que são destruidores e que podem ser identificados, mas isto não é suficiente para dizer que se trata de assédio moral”

O que me parece importante quando trabalhamos sobre o tema é entender que a noção de assédio moral é, e permanecerá, uma noção subjetiva.Há, efetivamente, procedimentos que são destruidores, que podem ser identificados, mas isto não é suficiente para dizer que se trata de assédio moral, e também foi insuficiente na hora de encontrar uma definição a ser usada na lei. Existem os procedimentos perversos assim como a vivência da vítima, a ofensa à sua dignidade, as conseqüências à sua saúde. São procedimentos que destroem a identidade e a auto-estima da pessoa. Este aspecto, torna difícil a autodefesa, porque começam por destruir seus meios de defesa, atingindo sua dignidade. A pessoa é isolada, perde a confiança em si própria, e não consegue mais se defender. Então, fica mais fácil destruí-la.

A vítima é reduzida à condição de objeto que pode ser usado e depois descartado, e sua identidade é desprezada e aviltada. Trata-se, indubitavelmente, de procedimentos antiéticos que transgridem as normas e que são reconhecidos como totalmente inadmissíveis.

Quem está na origem do assédio?

O assédio provém na maioria das vezes do superior hierárquico, mas pode também, vir dos colegas e muitas vezes o assédio moral é mais difuso e provém, ao mesmo tempo, do superior hierárquico que, por sua vez, incita os colegas a proceder da mesma forma. O que é necessário saber é que se o assédio moral somente é possível quando a hierarquia ou a direção da empresa deixou isto acontecer e se omitiu. Se uma empresa é vigilante e severa com relação a essas práticas, o assédio moral não prospera, mesmo quando há um indivíduo particularmente perverso na empresa. Ele será sancionado e não poderá continuar a agir desta forma. Infelizmente, constatamos que cada vez mais, empresas e organizações são indiferentes ao bem-estar das pessoas. Isto não as interessa. Um ou outro trabalhador é “tudo a mesma coisa” e que isto não tem importância, ou então, porque as empresas utilizam a gestão perversa.

Gestão perversa

Na gestão perversa, os trabalhadores são tratados como meros objetos enquanto são necessários ou enquanto são muito produtivos. São utilizados ou mesmo sugados, extraindo tudo o que for possível deles, até esgotá-los. Quando não produzem o suficiente, a empresa procura encontrar um meio para livrar-se deles.

Características da Gestão perversa

A gestão perversa se caracteriza pela falta de comunicação, em que não são ditas as coisas de forma clara. Por exemplo, nas empresas na França ou na Europa, quando há uma reestruturação, não se diz que haverá demissões em massa, já que este tipo de demissão é muito controlado pelo poder público. Diz-se que ninguém será demitido, mas os trabalhadores são colocados numa situação tal, que lhes restam muitas vezes, duas alternativas: pedir demissão ou ficar doente. Trata-se, por exemplo, de colocar cada vez mais pressão até que as pessoas não agüentem e adoeçam.

Freqüentemente, as pessoas são colocadas em situação de rivalidade, como por exemplo: duas pessoas numa mesma função competindo uma com a outra até destruir-se mutuamente e depois, a empresa afirma que a pessoa não agüentou ou pediu demissão, e por isso a empresa não tem culpa. Afirmam: nós não fizemos nada; não despedimos ninguém.

A vitima entra num mecanismo auto destrutivo e isto, para mim, é um comportamento causado por um tipo de gestão perversa. O que é perverso é manipular as pessoas até que elas se desestruturem e se autodestruam. É não agir de forma direta e clara. Também há um tipo de procedimento que consiste em diminuir o número de cargos cada vez mais, não dizer as coisas e não proteger as pessoas. Este tipo de gestão perversa está se desenvolvendo cada vez mais não só nas empresas privadas como também, no setor público. Esse setor utiliza os mesmos métodos de gestão apesar de não visar o lucro, mas aí também, se exige cada vez mais, produtividade.

Homogeneizando pessoas.

Fiquei muito surpresa ao constatar, quando comecei a trabalhar sobre este assunto, que as pessoas, as mais atingidas pelo assédio moral eram precisamente as mais produtivas, diria até, produtivas demais, motivadas demais para o trabalho, interessadas demais pelo trabalho e consideradas como eficientes demais.

Então o que acontece? É um pouco como se no mundo do trabalho fosse necessário que todo mundo seja igual, que todo mundo produza de um jeito definido, que ninguém possa ser diferente dos outros, que todos tenham o mesmo perfil, que todos sejam de certa forma , como clones, como pessoas com a mesma formatação, com a mesma personalidade. Trabalhadores homogêneos. Uma empresa composta de pessoas clonadas.

A ‘manipulação’ dos afetos e sentimentos.

O que está muitas vezes na origem do assédio moral é a rivalidade e/ou o ciúme. No mundo do trabalho, nas empresas, os métodos de gestão colocam cada vez mais as pessoas em situação de rivalidade, como se fosse necessário separar as pessoas, colocá-las umas contra as outras e, o resultado disto, é que temos cada vez mais individualismo, cada vez menos trabalho coletivo, visão coletiva para se defender. O assédio moral é possível porque as pessoas estão sós. Quando há um grupo que se defende, que reage, o assédio moral pode ser parado, pode se evitar a destruição das pessoas. Cada vez mais as pessoas são isoladas e isso impede que elas reajam coletivamente.

O assédio moral e suas conseqüências à saúde.

As conseqüências do assédio moral são de vários tipos e são muito graves no que diz respeito à saúde. São depressões e, eventualmente suicídios, como acaba de mencionar Margarida. São também, distúrbios psicossomáticos muito importantes e muito graves. Pessoas cuja saúde é destruída por distúrbios cardíacos, endócrinos e digestivos. Estes distúrbios às vezes são irreversíveis. O que podemos constatar é que quanto mais o assédio moral é prolongado, mais graves são as conseqüências á saúde.

A importância da prevenção.

É fundamental antecipar para evitar este tipo de agressão e fazer um trabalho preventivo para que haja cada vez menos assédio moral. Vi pessoas que tinham resistido ao assédio moral e que, no final de uma luta, com apoio de advogados, acabaram por ser ouvidas e reconhecidas como vítimas de assédio moral, mas eu diria que foram ouvidas tarde demais, após dois anos de combate,por exemplo. Penso, num caso em que uma pessoa foi reconhecida como vítima de assédio moral e que foi indenizada mas, quando isto ocorreu, ela tinha perdido sua saúde, estava com problemas no casamento porque não tinha tido renda durante dois anos. Esta pessoa foi reintegrada no seu cargo depois de dois anos mas sofria de problemas cardíacos, problemas de diabete, de colesterol, de distúrbios que, infelizmente, estavam bastante avançados e esta pessoa não teve condições de retomar seu trabalho por motivo de saúde.

As conseqüências são muito graves a curto prazo mas, também, a longo prazo. Minha opinião é que este tipo de procedimento leva a desmotivação, porque quando somos humilhados no local de trabalho, quando somos desqualificados não temos mais vontade de trabalhar, não se tem mais vontade de dar o melhor de si mesmo. Acho uma lástima que se desperdice assim a boa vontade das pessoas que tem vontade de produzir, de ser eficientes, que gostam do seu trabalho, levando a se sentir desmotivadas com relação ao mundo do trabalho em geral.

“O assédio moral é um péssimo ‘negocio’ para as empresas”.

O assédio moral é um péssimo ‘negocio’ para as empresas, pois não é um método eficiente na medida em que causa perda de produtividade. Para que as pessoas trabalhem bem e produzam bastante elas precisam ter boas condições e ambiente de trabalho saudável. As pessoas precisam estar bem para produzir bem. Serem respeitadas como seres humanos. Estamos num sistema que perdeu sentido, num sistema louco. Desestruturam-se as pessoas deixando-as totalmente desmotivadas e depois se reclama que não são suficientemente eficientes, que não produzem de forma satisfatória. Isto não tem sentido! Seria necessário, pelo contrário, melhorar sempre as condições de trabalho, fazer com que as pessoas tenham vontade de trabalhar, reconhecendo e respeitando seus esforços, o que certamente, levaria a empresa a obter melhores resultados.

Um dos argumentos que utilizo, atualmente, para ser ouvida, que dei para os políticos na França e que agora dou para as empresas, para que sejam vigilantes e que façam uma política de prevenção do assédio moral, é que o assédio moral não é produtivo, é péssimo, e custa caro. Custa caro para as vítimas porque são obrigadas a se tratar, às vezes perdem seus empregos, são, às vezes, obrigadas a recorrer a um advogado para se defender, portanto, custa caro para as vítimas.

Isto também custa caro para a sociedade porque as pessoas ficam doentes e impedidas de trabalhar. Custa caro também para as empresas porque há efetivamente, o problema do absenteísmo associado a uma grande desmotivação e perda de produtividade.

Quanto dou argumentos financeiros aos dirigentes, aos donos de empresas, eles me ouvem, não ouvem sempre quando falo de respeito, das pessoas, de questão de ética, de dignidade, isto são palavras que mesmo sendo boas, eles não entendem. Mas quando falamos de números ou quando falamos: “cuidado, isto custa caro”, “cuidado, é ruim para a imagem de uma empresa se isto for a público”, se, por exemplo, se “comentar nos jornais que em tal empresa as pessoas sofrem e são maltratadas”, isto são argumentos que hoje são ouvidos e hoje, na França, também, temos esta lei e, quando o assédio moral se produz numa empresa os dirigentes da empresa ou da organização são sancionados, às vezes, muito duramente, mas, também, o agressor é sancionado.

A importância das leis como instrumento de prevenção

Falaram para vocês que os casos de assédio moral são punidos de um ano de cadeia e multa de quinze mil euros ou o que corresponde a quinze mil dólares. São sanções dissuasivas, e penso que as empresas estão começando a ter cuidado. Atualmente, na Europa, começa a se pensar que talvez seja melhor encontrar outra forma de tratar as pessoas, que não é a melhor forma de obter bons resultados. Penso que uma lei é muito importante, primeiro num plano simbólico, porque isto significa que um governo decidiu que este tipo de comportamento não era aceitável.

Portanto, é muito importante num plano simbólico como também no dissuasivo para desencorajar este tipo de comportamento. Aqui no Brasil, é a mesma coisa. Parece-me que em todos países devemos pensar numa forma de sanção contra o assédio moral pois ele deve ser identificado e sancionado. Uma lei é muito importante mas não é suficiente, penso que deve existir uma política de prevenção contra este tipo de comportamento. As leis da França, os projetos da Bélgica, da Espanha, de Portugal, prevêem a obrigatoriedade de planos preventivos.

As empresas que não dão condições para implantar uma política de prevenção poderão ser mais sancionadas do que aquelas que tentaram restringir o assédio moral ou proibi-lo e isto me parece muito importante.

Não basta punir o agressor, é necessário mudar as políticas de gestão da empresa e não deixar se instaurar procedimentos de humilhação e desqualificação das pessoas. Mais uma vez é algo que não tem sentido, maltratar as pessoas para que elas trabalhem mais, que produzam mais ou que sejam mais conformes.

Infelizmente, o objetivo do assédio moral é sempre, como já disse, uma forma de se livrar das pessoas. E como disse Margarida, no Brasil, mas também na França são as mesmas pessoas que são atingidas prioritariamente. Na França as estatísticas dão 70% de mulheres vítimas de assédio moral e 30% de homens. Os estudos que são feitos sobre a população em geral, pela Organização Internacional do Trabalho – OIT, dão números que oscilam de 5 a 8% de pessoas vítimas de assédio moral, mas existem outras formas de sofrimento no trabalho, que vem se somar ao assédio, o que significa que há, portanto, muitos trabalhadores que sofrem nos seus locais de trabalho. Como já disse, dentro destes 8%, 70% são mulheres, é muito. Não temos números no que diz respeito à discriminação racial porque não temos estudos com relação a isto na Europa, onde a questão da discriminação é tratada em outras estatísticas, mas seria interessante ter dados sobre a questão racial branco/negro mas também, sobre o número de árabes, de descendentes do Oriente Médio e de franceses. São números que seriam interessantes conhecer mas, que no momento, não são suficientemente estudados.

O que temos na Europa, que talvez seja algo específico, é o efeito perverso da proteção social. Por exemplo: as pessoas de mais de cinqüenta anos são mais vítimas do assédio moral do que os jovens nas empresas. Por um lado, porque se dá preferência aos jovens que recebem salários mais baixos que os mais velhos. Por outro, na França temos um texto legal chamado “Contribution Delalande”, que obriga as empresas que demitem alguém com mais de cinqüenta anos, a pagar uma indenização ao Estado, portanto, para poder demitir alguém com mais de cinqüenta anos é necessário pagar uma taxa para o Estado e isto as empresas não gostam. Então, elas preferem praticar o assédio moral com as pessoas de mais de cinqüenta anos, para que elas percam todo o gosto pelo trabalho e, assim, se vêem obrigadas a pedir demissão. Caso este, em que a empresa fica isenta de pagar as indenizações legais.

Constatamos, que são vítimas também do assédio moral as pessoas que se expressam muito, que defendem seus colegas, que não aceitam as manipulações da empresa, por exemplo, os representantes sindicais são muito mais assediados do que as pessoas que são dóceis e aceitam tudo. Sempre que alguém dá visibilidade a um problema que está ocorrendo na empresa sabe-se que ele corre o risco de ser vítima de assédio moral.

De certa forma, o objetivo é calar as pessoas que estão denunciando situações na empresa, por exemplo, denunciando desigualdades ou irregularidades, por exemplo práticas de corrupção. No fundo, o assédio moral visa isolar as pessoas, fazê-las calar-se e torná-las totalmente dóceis, em todos os aspectos profissionais. Poderia ainda falar muito do assédio moral, não sei se preciso ser breve, mas queria, ainda precisar um outro aspecto do assédio moral agora na França.

O estado da arte – novas reflexões

Com a lei conhecemos um pouco mais os limites do que é e do que não é o assédio moral. É o que tentei explicar no meu segundo livro. No meu primeiro livro eu quis explicar o que impede as pessoas de reagir, como elas são destruídas sem que ninguém diga nada, sem que os colegas entendam o que realmente se passou; sem que os colegas reajam em favor da pessoa vítima de assédio moral. No primeiro livro eu descrevo o que chamei de comunicação perversa, como se faz calar as pessoas, como não é dito qual a origem do problema, como são isoladas, como são humilhadas e porque, quando somos tão humilhados, somos tão destruídos na nossa personalidade.

No meu segundo livro, que corresponde à época da preparação da lei na França, eu quis distinguir, de forma clara, o que é assédio moral e o que são as outras formas de sofrimento no trabalho. Porque, não se trata o assédio moral como se trata o estresse ou como se trata, por exemplo, os conflitos. Por isso tentei distingui-lo das outras formas de sofrimento no trabalho. Distingui, por exemplo, da pressão no trabalho. A pressão no trabalho, fazer trabalhar mais as pessoas não é, em si, assédio moral, mas pode se transformar em assédio moral. Inicialmente não é assédio moral, porque o objetivo não é destruir a pessoa, o objetivo é de fazê-la trabalhar mais, obter melhores resultados, então há um interesse que a pessoa esteja bem, porque se se deseja que ela trabalhe bem, que produza mais, ela precisa estar com boa saúde. Existem, por exemplo, seminários de gestão do estresse, de organização do tempo, que são destinados a fazer com que as pessoas consigam suportar cada vez mais estresse para trabalhar cada vez mais. Portanto, o estresse ou a pressão no trabalho não é assédio moral. Mas quando estamos estressados podemos também ter desvio de conduta e adotar um comportamento destruidor que os outros não vão enxergar. Porque quando todo mundo está excessivamente ocupado, trabalhando demais, não se presta atenção nos outros, se esquece de respeitar as pessoas.

Uma historia de assédio moral

Houve um caso na França de uma pessoa sobre a qual se colocou muita pressão no trabalho, na realidade era assédio moral mas, a empresa dizia que somente estavam lhe pedindo para trabalhar muito mais. É um caso interessante porque é um caso que se tornou jurisprudência. Era um senhor, um executivo comercial numa empresa, era um bom funcionário que tinha bons resultados. Houve, então, uma mudança de superior hierárquico: colocaram um jovem superior hierárquico recém-saído de uma Escola de Comércio que quis colocar cada vez mais pressão. Ele não suportava este senhor porque ele era mais velho, tinha 53 anos e passou então a vigiá-lo diariamente, a telefonar para saber o que estava fazendo, a perguntar por tudo, a exigir que justificasse tudo, a ridicularizá-lo porque era mais velho. Foi exigido dele objetivos cada vez mais importantes a realizar e, ao mesmo tempo, seu “setor geográfico de atuação” e suas possibilidades de trabalho foram limitadas.

Após algum tempo, enviaram uma primeira carta registrada dizendo que ele não trabalhava o suficiente; pouco tempo depois, enviaram uma segunda carta registrada, dizendo que ele precisava produzir mais. Quando este senhor recebeu a terceira carta registrada, ele deu um tiro na cabeça e se suicidou, no seu carro, indo para o trabalho. Na terceira carta registrada ele escreveu: “O que vocês fizeram não é ético”¹.

O que este senhor escreveu antes de morrer, resume bem o que se pode pensar do assédio moral. Não é somente algo destruidor, mas moralmente é algo antiético. O que é interessante, no caso deste senhor que morreu, é que sua viúva deu queixa antes que existisse uma lei na França. Ela procurou um advogado para dar queixa e os advogados que ela consultou disseram que não era possível, afirmando: “a senhora não terá ganho de causa porque esta situação não existe na lei”. Esta senhora insistiu e, finalmente, encontrou um advogado corajoso que a acompanhou ao longo do processo judicial. O juiz retomou, então, todos os objetivos que haviam sido exigidos deste senhor, analisou todas as situações de trabalho, o que lhe era pedido para fazer e o que era possível de ser feito. O juiz constatou que o que era exigido dele eram coisas absolutamente impossíveis de realizar. Este senhor estava numa armadilha, não era possível fazer o que lhe era exigido e ele ficou tão desestabilizado com a situação, que acabou se suicidando. É um caso interessante porque se tornou jurisprudência antes mesmo da lei e, pode ser utilizado agora, para sancionar este tipo de comportamento.

Eu diria que o estresse e a pressão no trabalho não são assédio moral. Penso que é importante distinguir os conflitos nas empresas, do assédio moral.

No mundo do trabalho, pelo menos na Europa, as empresas não querem problemas, não querem conflitos sociais, não querem greves, elas querem que os trabalhadores dêem a impressão de estar satisfeitos, que não se queixem e, sobretudo, elas não querem que se possa verificar que as pessoas não estão bem no seu local de trabalho, então, elas abafam os problemas, impedem que as pessoas comentem o que não vai bem, em vez de aceitar os conflitos, de aceitar que se torne visível, que se fala a respeito, é feito o necessário para calar as dificuldades, abafar os problemas.

A necessária visibilidade

Creio que quando não se nomeia um problema, quando ele é abafado, o problema acaba ressurgindo de forma perversa. Em vez de ser solucionado coletivamente, ele se transforma em sofrimento individual. São os trabalhadores e trabalhadoras que pagam esta falta de comunicação e esta falta de expor claramente os conflitos. Na sociedade européia temos menos conflitos sociais, menos greves, mas cada vez mais sofrimento individual, cada vez mais destruição das pessoas. Então, acredito que contrariamente ao que está acontecendo hoje, é necessário nomear os conflitos, reinstaurar a fala para que os assuntos problemáticos tenham visibilidade e que se tente encontrar uma solução.

Dimensões do assédio: individual e coletivo

A dificuldade que existe com relação ao assédio moral é que existem duas dimensões. Há, ao mesmo tempo, uma dimensão coletiva que deve ser tratada pelos sindicatos, que deve ser tratada de forma coletiva, mas há, também, uma dimensão de sofrimento individual que precisa de apoio de médicos, psicólogos e outros profissionais afins, para ajudar estas pessoas a encontrar soluções. Para enfrentar o problema do assédio moral me parece importante que haja um trabalho interdisciplinar, envolvendo médicos do trabalho, psiquiatras, psicólogos, assistente social, sociólogos, sindicalistas, advogados, trabalhadores e que todos tentem juntos, encontrar soluções.

Quando uma pessoa é vítima de assédio moral, quando ela já foi destruída, ela precisa de uma escuta individual, de tratamento individual com um psicoterapeuta ou um médico. Mas a prevenção do assédio moral deve ser uma prevenção coletiva. É necessário que os dirigentes de empresas, os políticos, os governantes sejam sensíveis ao sofrimento dos trabalhadores e a este tema, pois somente a tomada de “consciência coletiva e multidisciplinar” em todos os níveis, poderá apontar soluções. Então, vou concluir aqui, porque vocês talvez tenham perguntas a fazer, afirmando que não se trata de um problema europeu ou de um problema brasileiro, mas sim de um problema mundial.

A globalização da resistência

O assédio moral existe em toda parte, em todos os países. É um problema de mundialização, em todos os países e não se pode dizer que está ligado a tal ou tal cultura Assim, devemos reagir no plano mundial, reagir para que haja redes de comunicação entre os diferentes países para implantar métodos que visem a prevenção e medidas também, para ajudar estas pessoas que sofrem, a encontrar soluções.

Devemos rejeitar a retórica daqueles que dizem que “não é grave” que, “é só uma pessoa ou outra”, que “esses indivíduos não contam”. Finalmente, creio ser essencial afirmar que o assédio moral é um problema da nossa sociedade atual. Incentivo todos vocês a reagir, a não deixar que o assedio moral se instale nos ambientes de trabalho. Devemos lutar para implantar e implementar políticas de prevenção aqui e em outros países.

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¹ A frase em francês era: “ce n’est pas bien ce que vous avez fait”. A palavra
“bien” em francês tem, neste contexto, um duplo sentido: “bien” no sentido não é correto
e “bien” no sentido que não é ético.”


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Participação dos convidados

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Apresentação do Seminário

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Diretor da Secretaria de Saúde e Meio Ambiente do Sindicato: Ritalo A. Lins

Ritalo A Lins (Diretor SINDQUIM): Vamos dar início aos trabalhos do I Seminário Internacional sobre Assédio Moral no Trabalho. Para nós do Sindicato de Químicos e Plásticos de São Paulo é um imenso prazer receber aqui, neste plenário, todos os convidados e os palestrantes. Hoje temos uma pessoa muito importante entre nós! Uma figura de destaque internacional neste tema e que na sua vinda aqui ao Brasil, deu-nos o privilégio de estar entre nós fazendo a abertura, a sua caminhada por aqui no Sindicato dos Químicos e Plásticos de São Paulo. Em nome da Diretoria nós, de antemão, já agradecemos a presença de todos e de todas. Vamos iniciar a composição da mesa.

Gostaria de chamar para compor a mesa deste seminário o companheiro Lourival Batista Pereira, coordenador da Secretaria de Saúde do Sindicato dos Químicos e Plásticos de São Paulo. Também, para fazer parte da mesa, o companheiro Osvaldo da Silva Bezerra, coordenador nacional da área de saúde da CNQ – Confederação Nacional dos Químicos do Brasil; Dra. Cecília Zavariz, coordenadora do Núcleo de Promoção da Igualdade de Oportunidades e de Combate à Discriminação da Delegacia Regional do Trabalho (DRT), seção São Paulo; Dr. Jorge Luís Ussier, promotor do Ministério Público do Estado de São Paulo; Dra. Isabel Baltar, Secretária Executiva da Rede Feminista de Saúde; Dra. Maria Aparecida Bento, diretora do CEERT – Centro de Estudos e Relações de Trabalho e Desigualdades; chamo um companheiro especial para nossa categoria e que está conosco desde a década de 80, junto a este Sindicato, o Dr. Francisco Drumond, representante do Ministério da Saúde; Chamo Pérsio Dutra, presidente nacional do DIESAT – Departamento Intersindical de Estudos de Saúde do Trabalhador; E uma pessoa que hoje é referência no nosso país e tem dedicado boa parte da sua vida e sua militância à construção de projetos em defesa da classe trabalhadora, a Dra. Margarida Barreto, médica do Sindicato dos Químicos e Plásticos de São Paulo. Por último, a nossa convidada especial, que tem várias publicações sobre a temática do assédio moral, Dra. Marie France Hirigoyen. Passamos a palavra aos componentes da mesa.

Lourival Batista (Coordenador Secretaria Saúde e Meio Ambiente): Boa tarde aos companheiros e companheiras da mesa, a todos e todas que estão presentes neste Seminário. Esta data para o Sindicato dos Químicos é uma data muito importante, porque a gente comemora os 20 anos de democracia, de conquistas e de luta deste Sindicato. Hoje é um dia mais especial ainda porque temos uma convidada de nível internacional, que é a companheira Marie France Hirigoyen. Para nós, este momento só vem engrandecer a nossa história. Nestes 20 anos de luta, ouvimos e fomos testemunhas das historias dos trabalhadores e trabalhadoras que passaram aqui no Sindicato, contando seu sofrimento e a gente fez parte da vida destes trabalhadores! Eles vêm ao Sindicato, contam sua história de humilhações sofrida no local de trabalho. Daqui para frente a gente pode, com o empenho de todos e de todas as entidades, de todos os companheiros e companheiras, de todos os cidadãos e cidadãs aqui presentes, trabalhar de uma maneira diferente.

Que todos nós travemos uma luta que exija dos órgãos públicos, investir na legislação contra a violência moral no local do trabalho. Quem sabe, possamos começar pela Previdência Social, reconhecendo estes casos de assédio moral e pode terminar em lei maior, como por exemplo, no Código Penal em que a pessoa causadora deste crime, seja penalizada e seja condenada, para nunca mais praticar crime tão violento como este. Então eu termino por aqui, a curiosidade de todos é grande e eu também estou curioso e quero ouvir a companheira Marie France Hirigoyen.

Osvaldo da Silva Bezerra (CNQ-CUT): Boa noite aos companheiros e companheiras e participantes da mesa. É uma satisfação estar compartilhando deste momento tão importante. Tenho duas ou três questões para destacar nesta abertura dos trabalhos, com relação as perspectivas da Confederação Nacional dos Químicos, no que diz respeito a luta em defesa dos interesses dos trabalhadores e trabalhadoras e particularmente, em defesa da saúde e da integridade, no sentido mais amplo que se possa imaginar.

Quero parabenizar o companheiro Lourival, a companheira Margarida que iniciaram este trabalho no Sindicato, esta pesquisa tão magnífica, tão esplêndida que nos ajudou a fazer um novo diagnóstico de um sofrimento tão medonho, tão aterrorizante, tão complexo, fazendo a ligação do sofrimento do trabalhador no chão da fábrica com as humilhações sofridas, frente ao estado de penúria e de total falta de proteção no ambiente de trabalho. Os trabalhadores adquiriram uma nova ferramenta, que lhes permitem relacionar este sofrimento imposto com a organização do trabalho. E de lá para cá o Sindicato tem sido referencia nacional e tem sido alvo de boas conversas no sentido de elogiar o trabalho que vem sendo realizado por aqui. E é neste sentido que quero apontar as perspectivas da Confederação Nacional dos Químicos que tem a responsabilidade de orientar os seus sindicatos pelo Brasil afora visando esclarece-los sobre o assedio moral, e como utilizar essa ferramenta para comprovar e constatar essa prática terrível, este terror invisível, essa tortura psicológica que está ocorrendo nos locais de trabalho. A nossa perspectiva reafirma a importância de um seminário deste porte, um seminário internacional que estabeleça uma troca, um intercâmbio de experiência entre companheiros e companheiras que acumularam experiências nestas pesquisas. Isto só nos ajudará a apontar certamente o caminho da perspectiva internacional frente ao que é fato hoje: a questão da globalização dos recursos da economia e que no campo do direito e cidadania, está longe ainda de se pensar na concretude da globalização dos direitos dos trabalhadores. Um seminário desta natureza, só pode indicar um caminho que é o caminho da construção de uma carta de direitos internacionais, onde o que se pratica na Europa, o que se pratica nos lugares mais avançados no que diz respeito aos direitos dos trabalhadores e trabalhadoras, torne-se pratica também, nos países em desenvolvimento.

Nos últimos anos, nossa prática está baseada em fortalecer este intercâmbio internacional no sentido de acumular forças, animar parceiros, para que seja possível a construção de ferramentas que possam certamente garantir o direito dos trabalhadores, numa escala internacional. Globalizar os direitos dos trabalhadores em seu mais amplo aspecto, visando permitir uma melhor qualidade de vida. Essa é nossa luta! Bom seminário para nós todos.

Cecília Zavariz ( DRT – São Paulo) – É um prazer estar aqui com vocês para discutir mais uma vez o assédio moral. Há 20 anos milito na área de saúde do trabalhador e constato diariamente o quanto os trabalhadores e trabalhadoras sofrem em seus ambientes de trabalho. Nos últimos três anos venho lidando com a questão da discriminação no trabalho e tenho assistido situações realmente muito mais complicadas que antes. Cada dia vai se tornando mais difícil para o trabalhador, pois o retrocesso que houve no movimento sindical, com as desindicalizações, as dificuldades de se organizar e exigir direitos, são maiores. Com esta globalização que só globaliza o que é ruim, o que é bom não globaliza, temos presenciado uma situação realmente muito difícil para os trabalhadores. Fico muito feliz quando vejo que os sindicatos, no caso o Sindicato dos Químicos e Plásticos, está fazendo um trabalho maravilhoso, porque deu visibilidade a um tipo de discriminação que não era sequer mencionado. Depois que os meios de comunicação deram maior visibilidade a esta pratica perversa, temos recebido denúncias em que as pessoas vivem este drama e ficam doentes em conseqüência destes atos e comportamentos no ambiente de trabalho.

Iniciamos nosso trabalho em 98 e somente em 2000 é que apareceu a primeira denúncia; no ano seguinte foram duas; e agora, em 2002, mais de mil trabalhadores formularam denúncia no Ministério do Trabalho, via sindicato. Então, agora, não é mais o trabalhador isolado que vai fazer denúncia. É um coletivo. É preciso ter coragem para fazer uma denúncia e enfrentar o assediador ou o empregador numa mesa de negociação no Ministério do Trabalho.

Nosso objetivo é sanar este tipo de problema e sabemos que é muito mais difícil quando se trata de política de empresa. Quando se trata de um assediador que é incompetente e que portanto, fica assediando para tentar eliminar um concorrente, é um pouco mais fácil realizar a negociação e uma alteração no próprio ambiente de trabalho. Mas, quando faz parte da política de empresa como, por exemplo, uma empresa que não quer trabalhador que fica doente, a política dela é procurar um ‘jeito’ para demiti-los. E qual é o jeito? Assediando e tornando o ambiente de trabalho impossível e insuportável. Estamos presenciando os mais diversos tipos de assédio e de políticas de empresas com o mesmo objetivo: eliminar aquele ‘indivíduo’ daquele ambiente de trabalho. Quero deixar aqui registrado que estamos à disposição para qualquer pessoa que queira fazer a denúncia e que venha nos procurar no Ministério do Trabalho. Antes de formular oficialmente a denúncia, conversamos com as vitimas para que saibam as conseqüências e o sofrimento até em repetir a historia, porque a cada vez que lembram da situação vivenciada, um novo sofrimento se instaura. É necessário saber se ele realmente está disposto a enfrentar todo esse processo de recordações tristes.

Sempre é necessário dar visibilidade aos problemas vivenciados pois só assim é possível mudar. Nosso parecer é no sentido de caracterizar o assédio moral como um comportamento criminoso, um comportamento discriminador. E discriminação, no Brasil, é considerada crime, portanto, o assédio moral também deve ser considerado como crime. Estamos lidando com a questão desta forma! Evidentemente que se houver uma legislação que tipifique como crime o assedio moral e imponha sanção ao agressor, vai ficar muito mais fácil, pois evitará interpretações errôneas em diferentes espaços sociais. Esperamos que saia esta legislação, caracterizando-o como crime.

Isabel Baltar (Rede Feminista) – Gostaria de me identificar como uma feminista que trabalha com saúde, ou seja, estou falando neste momento, deste lugar, como uma pessoa que coordena a Rede Nacional Feminista de Saúde e Direitos Reprodutivos, ou seja, nosso eixo central de atuação é a questão da saúde. Em uns minutos, explicarei que a Rede Nacional Feminista de Saúde é uma entidade que tem 10 anos de vida; está em 20 estados do Brasil; tem mais de 100 entidades associadas, é uma articulação horizontal, por isto que se chama rede; tem esta característica e batalhamos como sociedade civil para influenciar na formulação de políticas públicas e no controle destas políticas públicas na direção dos direitos das mulheres em relação à saúde. Então, tentamos trabalhar com as políticas públicas no âmbito do executivo; tentamos também trabalhar com a legislação a respeito do tema, tentamos trabalhar com a mídia sobre este assunto, ou seja, direitos das mulheres na área de saúde.

Dentro da nossa pauta está a questão de saúde e trabalho, ou seja, como a questão da saúde se coloca no ambiente de trabalho para as mulheres. Então, sobre este aspecto, nós temos discussões sobre o assunto, publicações sobre o assunto e temos participado de reuniões nacionais e internacionais. Eu diria que é uma área que precisa ser mais dinamizada dentro da Rede, mas nós temos, inclusive, entre nossas afiliadas, entidades e sindicatos como por exemplo a Comissão de Mulheres da CUT filiada a Rede Saúde.

Não há dúvida que ao discutir saúde e ao discutir saúde e trabalho, e a questão da mulher no âmbito de saúde e trabalho, se coloca muito claramente a questão do assédio moral.

Temos tentado começar a dar ênfase a esse tema da violência moral no ambiente de trabalho, inclusive teremos uma revista que sairá no meio do ano onde, um dos artigos, é sobre este assunto. Todos nós sabemos, lamentavelmente, que é um fenômeno antigo que se acentua com a globalização, com a precarização das relações de trabalho e do próprio trabalho, mas de fato, são elementos referentes ao trabalho que se tornam visíveis.

Então, neste caso, é importante citar e sempre voltar a pensar em certos aspectos também recentes, mas um pouco mais históricos e pensar que, o movimento de mulheres organizado no Brasil e em outros países, tem há algum tempo, trabalhado com denúncias de assédio sexual que naquela ocasião não tinha esta denominação, não era conceituado desta maneira. Mas o que é o assédio sexual? Ele se situa dentro do assédio moral. Passa pela imposição de situações constrangedoras como a “revista intima”, o “tempo de uso do banheiro”, a “imposição do numero de vezes”, a “limitação do horário das refeições” ou seja, havia diversas maneiras de assédio moral. Há e continua havendo fenômenos desta natureza e de outras naturezas, alguns que atingem mais diretamente as mulheres e que queria deixar registrado que queremos tornar mais visíveis estas e outras questões no campo do direito das pessoas, dos direitos humanos, dos direitos dos homens e das mulheres e no nosso caso, na nossa pauta mais especificamente, com relação ao direito das mulheres.

Maria Aparecida Bento (CEERT) – Hoje a noite é da companheira Marie France, então gostaria de fazer um comentário breve. Trabalho há 10 anos com um grupo de pessoas, (algumas estão aqui), nesta temática de desigualdade de gênero e raça, no trabalho. O tema da humilhação é muito importante, porque a condição de mulher e a condição de negro deixam as pessoas mais vulneráveis à humilhação e outras formas de constrangimentos, principalmente no ambiente de trabalho, onde a questão do poder está sempre colocada. Então, o abuso do poder, as piadinhas, os comentários, a divisão de trabalho com sobrecarga para determinados grupos e temos acompanhado queixa de discriminação racial onde isto acontece, esta dimensão da humilhação, esta dimensão do dano, o sofrimento psíquico, é fundamental que seja focalizado. É necessário que a gente consiga elementos para transformar este sofrimento psíquico, esta humilhação, numa legislação e numa condição para o trabalhador ser indenizado pela violência moral que ele sofre no cotidiano do trabalho. Neste sentido a legislação é essencial e deve considerar a especificidade de um país como o Brasil, onde metade da população é parda ou negra. A dimensão da violência racial, o sofrimento psíquico, advém da humilhação e da condição de mulher, eu creio que esta legislação deve comportar isto, e que a gente reúna cada vez mais elementos, mais condições de poder reparar o sofrimento psíquico, este dano moral e psicológico causado às trabalhadoras e trabalhadores brasileiros. Também estou querendo aprender hoje com a companheira Marie France e refletir um pouco mais como, a partir desta discussão do assédio moral, poderemos reunir elementos que nos possibilitem conhecer melhor os responsáveis da violência no cotidiano do mundo do trabalho.

Dr. Francisco Drummond (Ministério da Saúde) – Trabalho no CEREST e há uma semana atrás, atendi uma trabalhadora que tinha sido, ao longo de um certo tempo, muito humilhada no trabalho. Ela começou a apresentar baixo desempenho, ficar muito deprimida e acabou sendo demitida há uns dez dias atrás. Então, ela foi lá no CEREST para pedir socorro. Fiz uma análise do caso e emiti a CAT – Comunicação de Acidente de Trabalho, estabelecendo o nexo causal. Ela foi encaminhada à agência do INSS para perícia. Ela retornou hoje ao CEREST aos prantos porque ela foi humilhada pelo médico perito do INSS que não reconheceu a CAT e não afastou a pessoa e sequer deu auxílio doença. Então, como já foi dito aqui, é necessário penalizar e criar sanções para que esta prática de assédio moral seja combatida. Na França, que é o país que no ano passado consumou a sua legislação, eles partiram para uma série de sanções que passam por uma pena de pensão e uma multa pecuniária em torno de 15 mil dólares. Portugal está indo na mesma direção. Aqui no Brasil tem uma lei que está sendo gestada que prevê, se não me engano, só pena e não multa pecuniária; acho que é uma questão que é preciso ver. Existe um relatório da União Européia que talvez a Marie France vai estar falando, que eu acho que seria interessante como balizador. A questão seria a gente ter uma idéia da dimensão deste problema aqui no Brasil, pensar como se poderia estar criando um processo que dimensione este problema.

Seria interessante a gente examinar como as redes e as entidades que lutam contra o assédio poderiam ser apoiadas pelos órgãos governamentais. Um outro, seria estabelecer ações articuladas, como falaram aqui várias pessoas.

E finalmente, que tipo de mecanismo e de retificação poderia ser criado para dar visibilidade a esta questão. Porque, por exemplo, esta menina, ela tem uma CAT, ela tem um instrumento que nem sequer foi registrado, como fazer para garantir estas coisas?

Pérsio Dutra (DIESAT) – Creio que hoje é um dia especial. Estamos na véspera do Primeiro de Maio, uma data em que se chora uma violência moral e fisica sofrida por trabalhadores. Uma violência moral e física que atingiu nossos antepassados e dos nossos companheiros. O Departamento Intersindical de Estudos e Pesquisas de Saúde dos Ambientes de Trabalho, recebe informações de entidades ligadas a todo o movimento sindical e tem sido um catalisador, não diria bem um catalisador, mais um somador de experiências do que tem ocorrido com relação ao assedio moral e que, cada vez mais, tem se espraiado em todas as categorias e em todas as atividades. Essa violência moral, este assédio, já começa no processo de seleção dos trabalhadores nas empresas, prossegue no dia-a-dia das pessoas, continua quando caem doentes ou acidentados do trabalho e vão cair nas mãos do INSS e assim por diante, até o processo, inclusive final, demissional. E portanto, numa ocasião como esta, o DIESAT deseja apenas e tão somente saudar a iniciativa de fazer um evento como este de hoje, em que se discute tal problema, em que se procura dar mais visibilidade a tal problema exatamente na véspera daquilo que foi uma das maiores violências sofridas por trabalhadores e trabalhadoras no mundo todo. Tanto assim que, no país onde isto ocorreu, não se comemora amanhã o Dia do Trabalho!

Dra. Margarida Barreto (médica do Sindicato dos Químicos e Plásticos de São Paulo) – Boa tarde a todos e todas e hoje estamos aqui muito mais para ouvir do que para falar sobre a violência moral no mundo do trabalho em nosso país. Temos feito isto ao longo dos últimos anos. Entretanto, gostaria de pedir permissão a vocês para situar a Dra. Marie France Hirigoyen acerca da nossa realidade.

E assim, eu gostaria de dizer ou relatar que, vivemos uma conjuntura de reestruturação produtiva, fechamento e diminuição de postos de trabalho, desregulamentações, quebra de direitos sociais, reforma de contrato de trabalho e desindicalização massiva.

Aumenta, a cada ano, em nosso País a taxa de desemprego em todos os segmentos da economia, sendo as mulheres de mais de quarenta anos de idade e filhos menores de dez anos as mais atingidas, assim como aqueles de registro em carteira.

É em São Paulo onde existe a maior concentração da população economicamente ativa do país, que a taxa de desemprego cresce vertiginosamente, principalmente entre os cabeças ou chefes de família. Segundo o DIEESE e Fundação SEADE, somente no mês de fevereiro de 2002 em São Paulo, 102 mil pessoas perderam o emprego.

Em um cenário de incertezas e medo de perder o emprego, aumenta a submissão e sujeição em um mundo do trabalho que intensifica cada vez mais o ritmo e a produtividade, aumentando a tensão e opressão nas relações interpessoais. Surge a vergonha de não saber, de não ser reconhecido naquilo que faz e o medo predomina no ambiente de trabalho deixando em cada trabalhador, um sentimento de fracasso.

As conseqüências à vida dos trabalhadores e em sociedade, podemos afirmar sem receios, tem sido drásticas: aumento do subemprego, bicos e trabalhos irregulares; aumento do trabalho precário (atinge 30 % da PEA) e do trabalho informal; aumento da precarização do trabalho expresso em jornadas prolongadas; aumento do absenteísmo (34%); aumento da rotatividade no trabalho e das desindicalizações; aumento da gravidade dos acidentes de trabalho. Aumentou o uso de drogas, da violência familiar e da miséria urbana, que não pára de crescer.

Ao lado das velhas doenças, novas surgiram, revelando novas determinações sociais do adoecer. Surgiu um novo perfil de doenças do e no trabalho. Aumentaram os casos de Lesões por esforços repetitivos (LER/DORT), estresse, burn-out, depressão e suicídios. Hoje, os afastamentos por LER/DORT, representam 90% dos registros de doenças ocupacionais da previdência social, passando a representar uma fotografia globalizada da organização do trabalho. Podemos afirmar que retrocedemos socialmente, apesar dos avanços da técnica e das novas tecnologias. Melhor dizendo: ‘o processo de valorização do capital é ao mesmo tempo, um processo de desvalorização do trabalho’ e aumento da miséria.

Não me estenderei sobre estes aspectos, até porque hoje, é um dia para escutarmos, aprendermos e trocarmos experiências. Entretanto, gostaria de acrescentar alguns pontos. Nossa pesquisa iniciada neste Sindicato em 1996, envolvendo 2072 trabalhadores de 97 empresas de grande e médio porte, em que 42% revelavam viver uma jornada de humilhações; que a maioria das vitimas são os da raça negra e as mulheres. Que o assedio moral no Brasil é mais freqüente nos setores da produção. Que desencadeia ou agrava doenças preexistentes; que o pensamento suicida foi predominante entre os homens e que 18,3% deles, tentaram o suicídio; que a forma mais utilizada para assediar é ‘dar instruções confusas e imprecisas, bloquear o andamento do trabalho, atribuir erros imaginários e ignorar a presença dos trabalhadores; que o assedio moral atinge a dignidade e identidade da vitima, que passa a sentir-se um ninguém, um zero, desvalorizado socialmente. O sofrimento causado pelo assedio moral não tem um sentido, mas vários. Nos sentimos mal em todo corpo, na alma, na vida, no trabalho, na família. Sofremos porque somos um SER que tem sentimentos. Sofremos porque somos pessoas de carne e osso e também porque não suportamos a injustiça, a crueldade, a perversidade.

O resultado da pesquisa coloca a necessidade de incorporarmos raça, classe e relação de gênero articulado com a reestruturação produtiva, divisão sexual do trabalho e organização internacional do trabalho. Neste sentido, creio ser necessário ampliarmos o conceito de risco, incorporando o risco invisível enquanto fator psicossocial, o que permitirá nova visibilidade da organização do trabalho. Devemos também, pensar estratégias de resistência individual e coletiva e que levem em consideração a afetividade, pois a forma como o trabalhador ou trabalhadora está vivendo uma situação no trabalho pode estar sendo reveladora das condições de trabalho. Quando as pessoas trabalham, elas produzem e reproduzem todo o mundo da vida (Negri, 2001). Elas criam! E criar, lembraria, é potencia de todos e de cada um! Ousaria dizer que o grande desafio do movimento sindical e de cada um de nós para superarmos o neoconservadorismo é sermos capazes de resistirmos a tristeza e criarmos praticas novas, potencializadoras do viver. Finalizo, parafraseando dois escritores franceses, Deleuze e Guattari que afirmavam: “O que nos falta’ companheiros e companheiras, “é a resistência ao presente”.

Pesquisa realizada no Banespa revela clima de violênca moral institucional

Realizada por Margarida Barreto, pesquisa detecta um clima de violência moral institucional, durante processo de compra do Banespa pelo banco espanhol Santander

O setor bancário tem se destacado nestas duas últimas décadas por reestruturação do setor associado a políticas de fusões, privatizações, desregulamentações e redução acentuada dos custos operacionais. Por outro lado, otimizou o uso da informática e partiu para uma política agressiva de transformação das agencias em lojas de vendas e negócios, fechamento de contas não rentáveis, demissões estimuladas de antigos funcionários, contratação de estagiários e de ex-funcionários através de terceirizadas.

A política de ‘saneamento’ dos gastos se deu as custas da terceirização de serviços de quase todos os setores, associado ao aumento da pressão e intensificação do trabalho, racionalização de processos, regulamentação da demissão sem justa causa, implantação de programas de demissão voluntária e contratação de estagiários jovens. A estes fatores, associa-se a implantação do sistema de back-office1, auto-atendimento do cliente através da propaganda e incentivo ao uso do home banking, internet banking, débito em conta, entre outros. Concomitantes ao desaparecimento de funções de confiança de chefia, foram instaurados novos “Processos Seletivos Internos para a ocupação das novas funções gerenciais do segmento logístico”

É neste contexto, que realizamos uma pesquisa em que foram distribuídos 3.000 questionários de autopreenchimento para 886 Agências através da Gerencia Regional, 72 NASBE e 43 ADGER referentes a capital paulista, grande São Paulo, interior e outros estados da União – região norte, correspondendo a 51 agências e região Sul do país com 41 agencias. Destes questionários, 1001 retornaram até a data estipulada e correspondem a 452 homens e 549 mulheres. A análise dos questionários repondidos nos permitiu compreender as consequências da politica do Banco Santander ( privatização, novas polticas de gestão e ameaças constantes de desemprego) à saúde dos banespianos/as. Da analise realizada, consideramos a margem de erro de 3,2% dentro de um coeficiente de confiança de 95,5%.

Selecionamos as frases mais ouvidas nesse periodo por todos os trabalhadores/as, em se revela um ambiente de trabalho degradado deliberadamente, predominando o medo, as ameaças, discriminações, desqualificações e adoecimentos. O clima institucional era de “guerra psicologica” em que predominava a manipulação perversa e abuso do poder, como forma de forçar os funcionarios/as a aderir ao PDV ou PDI.

1. Abuso de poder, autoritarismo.

“Fui apontada com o dedo indicador como a próxima a ser transferida” (Mulher, escrituraria).

“Funcionários sendo humilhados direta e indiretamente porque não (“vendeu”) cumpriu a meta” (Mulher, escriturária).

“Eu mandei”, você tem que fazer o que eu disse e não tem que pensar em nada”; primeiro o banco, depois o resto” (Mulher, caixa).

Já presenciei chefes que faltaram com respeito com colegas, desrespeito tanto profissional, quanto pessoal, chegando a humilhar minha colega” (Mulher, caixa).

“Quando um gerente chamou minha atenção na frente de clientes e quis impor “direitos” de gerente, dizendo que como ele tinha um cargo superior ao meu ele tinha todo direito de falar comigo daquela maneira” (Mulher, caixa).

“Durante a imposição da venda de seguros presenciei o gerente geral da agência onde trabalhava chamar o caixa de incompetente por não conseguir vender seguros, na frente de todos os funcionários” (Homem, caixa).

“Um setor inteiro que fica contíguo ao meu, foi convidado a aderir ao PDV pois seria terceirizado. Somente algumas pessoas constantes em uma lista seriam recontratados pela empresa terceirizada caso tivessem interesse, mas foi avisado que o salário seria menor 50%. Os demais foram humilhados publicamente pelo gerente que diziam que não foram escolhidos porque eram incompetentes ou por falta de colaboração” (Mulher, comissionada).

“Reuniões em que os diretores querem ensinar humilhando as pessoas cobrando produção sem parar. Lema: vender, vender, vender etc… ou a porta da rua é a serventia da casa” (Mulher, comissionada).

2. Intimidar, amedrontar, ameaçar, repreender.

“Dia 31 de agosto esta aí… se você se enquadrar naquilo que o Banco quer, bem, se não peça o PDV” (Homem, caixa).

“Não quero saber se vocês estão estabilidade ou não, se não vender produto Y vou colocá-los a disposição” (Mulher, escrituraria).

“A exigência de cumprimento de metas, obrigação de ficar fora do horário de trabalho, ameaças, tipo, agora você pode ser despedido, etc.” (Mulher, caixa).

“Nas reuniões gerais na agência é só ameaça para se cumprir as metas: “Como cabeças vão rolar e se a minha rolar várias rolarão antes… Vocês são inúteis, o banco já não é aquela teta, o banco vai demitir!” (Homem, caixa).

“Pessoas ameaçadas de serem demitidas se não cumprirem determinadas tarefas” (Homem, escriturário).

“Exigência, com ameaças de demissão” (Mulher, comissionada).

“Se você Fulano de Tal não vender tal produto até a data X terá que fazer este produto para você, debite em sua conta” (Mulher, escrituraria).

“Um chefe me chamou atenção na frente de um cliente, sobre assunto de outro cliente. Fiquei com cara de taxo” (Homem, caixa).

3. Agressão verbal, gritos, insultos.

“Gritar comigo na frente dos clientes” (Mulher, caixa).

“Somente um exemplo. No transporte do malote de um PAB para a agência, cheguei em cima da hora, isto porque não existem caixas suficientes para atender a demanda. Foi o bastante para ouvir os gritos da GA” (Homem, caixa).

“O superior costuma se dirigir aos funcionários aos berros e chamá-los de incompetentes. Os funcionários são tratados como ignorantes” (Homem, comissionado).

“Presenciei a gerência desacatando o funcionário em tom de voz exagerado” (Homem, caixa).

“Chamadas de atenção” em público, de maneira rude, grosseira e desrespeitosa para com o profissional (colega de trabalho) e com a pessoa que este representa” (Mulher, escriturária).

“Já vi um gerente ‘conversar’ com um funcionário num tom de voz muito elevado, na frente de todo mundo desrespeitando” (Mulher, comissionada).

“Nunca aconteceu comigo, mas outros colegas já foram chamados de incompetentes, burro, imprestáveis, etc” (Homem, caixa).

“Insultos proferidos pela chefia, direcionados a um funcionário, ou a um grupo de funcionários” (Homem, comissionado).

“Chefe maltratando funcionários” (Homem, caixa).

“Superior gritando com funcionários por causa de problemas, ao invés de tentar solucioná-los” (Mulher, escriturária).

“O supervisor ou gerente, dirigiu-se em voz alta ou alterada, com o escriturário” (Mulher, escriturária).

“Agressões verbais por não cumprimento de metas” (Mulher, comissionada).

“Quando o ex-gerente de minha agência fazia reuniões e dizia que tínhamos que nos esforçar mais, assim como uma puta velha age, ou agirmos como ela, era humilhante” (Mulher, caixa).

“Gritar com funcionário ou obrigá-lo a ficar esperando por atendimento sem necessidade” (Mulher, caixa).

4. Desmoralizar profissionalmente.

“A pior delas, foi em uma reunião geral, o gerente geral ter dito e apontado duas funcionárias como “a disposição” de qualquer outra agência que tenha necessidade de mais funcionários, pois não agregam o bastante em seu modo de ver em termos de conhecimento ou envolvimento com a equipe” (Mulher, escriturária).

“Gerente Geral grita com Supervisores em reuniões, chamando-os de incompetentes e ameaçando de demissão” (Homem, caixa).

“Se não está dando conta em 6 horas fique até dar conta… eu sai daqui ontem às 10 horas da noite” (Homem, caixa).

“Dizer que as pessoas são incompetentes, que não sabem fazer seu serviço” (Mulher, estagiaria).

“Funcionários transferidos para outras agências, e é devolvido por não servirem” (Mulher, caixa).

5. Desqualificar.

“Qualquer correspondência que eu fazia, tinha que mostrar para a minha chefa, para que ela fizesse correções.” (Mulher, comissionada).

“Quando eu tirava xerox que ela pedia, reclamava porque saia torto” (Mulher, comissionada).

“Uma gerente administrativa queria me ensinar a atender o telefone depois de 15 anos que eu tenho na profissão” (Mulher, outro).

“Chefes insinuam que os funcionários são incapazes por não conseguirem executar tarefas que antes eram executadas por três ou quatro pessoas” (Mulher, comissionada).

“… gerente gritou em público, por duas vezes com funcionários, dizendo que não prestavam e não deveriam assumir responsabilidades para as quais não possuíam aptidão” (Mulher, comissionada).

6. Ironizar, ridicularizar.

“Foi quando eu trabalhava em uma lanchonete. Um funcionário deixou cair uma bandeja de lanches e foi humilhado pela chefia. Depois disso ele foi motivo de piada por muito tempo” (Homem, estagiário).

7. Isolar.

“Transferência para outros lugares, sem aviso” (Mulher, escriturária).

“Transferências de um dia para outro” (Mulher, escriturária).

“Separação de uma certa quantia de funcionários da agência para forçá-los a pedir demissão” (Mulher, caixa).

8. Ignorar.

“Quando mais eles notam você debilitado mais te mudam de local de trabalho. Menosprezam seu potencial, te ignoram” (Mulher, caixa).

“Em algumas necessidades, quando preciso do gerente da área de serviços não sou atendida. Parece-me que estamos desamparados” (Mulher, escriturária).

9. Não valorizar o “saber fazer” do trabalhador/a.

“Não tive meu trabalho feito com dedicação e empenho reconhecido” (Homem, escriturário).

“Um colega super esforçado, cumpridor do seu dever e de suas metas, foi mal avaliado em perfil, porque sua gerente tinha que apresentar número 7 o PDV fazendo com que o funcionário aderisse ao plano” (Homem, caixa).

“Nunca tivemos voto de confiança; muito pelo contrário, somente sendo pisados pela administração” (Homem, caixa).

“Imagine. Você trabalha durante 17 anos no Banco, de repente é contratada uma gerente geral (do Banco). Ela chega “puxando” o tapete de uma colega banespiana e achando que os demais funcionários são incompetentes e improdutivos. Existe humilhação maior que esta para a família banespiana?” (Homem, comissionado).

“As pessoas nunca reconhecem seu trabalho, você trabalha certo sempre, um dia que você faz algo errado, você simplesmente não vale nada. O que você fez durante anos certo não conta ponto. Só conta ponto o que você fez e saiu errado” (Mulher, caixa).

10. Culpabilizar.

“Um superior referiu-se a mim como pessoa que precisava de mais agilidade e que ele havia perdido um bom negócio devido a minha “lerdeza”. Sempre que este necessitava de algo era “pra ontem” com a seguinte frase: “quando eu pedir algo e para me atender imediatamente eu sou o gerente geral eu sou a prioridade” (Mulher, comissionada).

“Meu gerente me disse que 70% dos problemas que aconteciam no sistema eram causados pelos analistas” (Mulher, comissionada).

“Gerente geral uma vez gritou comigo me culpando por não ter feito uma planilha completa, mas os dados dependem dos gerentes de negócios e nem todos informaram, foi bastante desagradável e injusto” (Mulher, escriturária).

“Da ultima vez que começou a me ofender porque o malote tinha sumido, disse que a culpa era minha, como se tivesse que ficar de plantão cuidando do malote” (Mulher, escriturária).

11. Realizar tarefas abaixo da capacidade.

“Em uma 2º feira, com o vento, a entrada da agência estava cheia de folhinhas de uma árvore que tem quase em frente, e como sou supervisora, fui praticamente obrigada a pegar uma vassoura e varrer a entrada, pois a porta ia se abrir e eu como administradora da Agência, tinha por obrigação, mantê-la limpa, foi o que me disse o gerente administrativo e num tom de voz bem ríspido e autoritário” (Mulher, comissionada).

“O importante era humilhar colocando-o de porteiro, sem função!” (Homem, escriturário).

12. Manipulação da comunicação e informação.

“Reuniões fora do horário e local de trabalho” (Mulher, escriturária).

“Ele sonegava informações dentro da equipe e apenas os “protegidos” recebiam as informações necessárias para o bom desempenho do trabalho” (Homem, comissionado).

“As informações não são passadas com antecedência p/ nós funcionários, que ficamos sabendo através dos clientes, sobre as mudanças. Isso é um absurdo” (Mulher, escriturária).

13. Marcar reuniões fora do horário de trabalho.

” Muitas reuniões fora do horário e local do expediente” (Homem, escriturário).

14. Discriminar.

“Gerente geral falar para funcionária que ela é velha e que se sair de licença por doença ele colocaria uma garota nova no lugar” (Mulher, escriturária).

“Ser preterido em uma promoção não por competência, mas por ser negro e não fazer parte da “panelinha” e ser comunicado em público por isso” (Homem, comissionado).

“O chefe diz ao funcionário que seu trabalho é lento por ser nordestino, negro, banespiano etc.” (Mulher, comissionada).

“Já senti discriminação em funcionários por causa da idade acima de 40 anos” (Mulher, caixa).

15. Mentiras, vinganças e corrupções.

“Houve um dos episódios em que uma gerente omitiu a seus supervisores, dizendo-lhes que todas as atendentes haviam tido / sido preparadas em curso p/ conhecer todos os produtos e quando, fui perguntar sobre um deles, os supervisores estavam por perto e ouviram. Ela então ficou furiosa e no dia seguinte, durante o expediente e, na presença de estranhos, inclusive do guarda do banco, me destratou, me humilhou, me fez chorar muito” (Mulher, comissionada).

“Fui humilhado e colocado em disfunção por um chefe de departamento inescrupuloso e um gerente puxa saco, só por não concordar com algumas providências e/ou decisões que eles queriam que eu tomasse, a fim de prejudicar-me pessoalmente e a equipe” (Homem, comissionado).

“Supervisores acham que os escriturários são obrigados a trabalhar o mesmo tempo que eles e às vezes com mais responsabilidades, pois fazemos todo o serviço e a assinatura fica por conta deles, e com isso vem a cobrança do serviço em ordem, onde temos que nos sujeitarmos as cobranças sem sentido” (Mulher, escriturária).

16. Ações contra a dignidade.

“Ser chamado à atenção na frente de colegas” (Homem, comissionado).

“Comentários de reuniões sobre metas, nas quais os funcionários são humilhados” (Mulher, comissionada).

“Fui humilhada durante uma reunião com o chefe, na frente de outras pessoas que não tinham nada a ver com a situação” (Mulher, comissionada).

“Advertências infundadas e injustas, perseguições, cobranças sobre o trabalho muitas vezes infundadas” (Homem, escriturário).

“Você fez bem em aderir ao PDV, pois não tem perfil para trabalhar no Banco” (Mulher, escriturária).

“… com a presença de todos os funcionários da agência…. (aproximadamente 30 pessoas) fui humilhada pelo gerente geral… com ameaça de transferência para outra agencia porque não interessava mais para o grupo a minha permanência aqui” (Mulher, escriturária).

“O supervisor questiona o procedimento do funcionário diante do cliente ou mostra-se indiferente aos problemas do cliente sem manifesto de interesse para resolver o problema com urgência e delicadeza” (Homem, caixa).

“Gerente dando “broncas” e desacatando funcionários na frente de clientes e colegas” (Mulher, escriturária).

“Fui ofendida duas, vezes com a agência lotada. Me senti gravemente injuriada. Ao procurar a administração da minha agência para tomar providências, fui recebida com mais insultos e piadas…” (Mulher, caixa). .

17. Ações perversas que ferem a identidade.

“O meu gerente tem satisfação em humilhar publicamente “todos”os seus subordinados” (Homem, comissionado).

“Funcionário transferido desta agência há apenas uma semana da homologação do PDV. Pior, foi devolvido por parte de entendimento entre as gerências” (Homem, comissionado).

“Por ocasião do PDV, a convocação dos funcionários na sala do gerente para este dizer à aqueles que, não tinham perfil para trabalhar no “Banespa” (Homem, escriturário).

“A forma como foi feito o PDV. Parecíamos cachorros sendo chutados para fora do Banco depois de uma vida dedicada a empresa” (Homem, comissionado).

“Fui chamada de má funcionaria, pois na ótica deles, bom funcionário é aquele “bom vendedor” e fica depois do horário, inclusive ajudo aos colegas de outros setores quando estou desocupada e sei que cumpro com todos meus deveres, mas sempre dentro do meu horário” (Mulher, caixa).

“Em reuniões mensais do “SIM” a maneira como o diretor fala e cobra os “gerentes” é humilhante, como se fossemos um bando de retardados, sem contar as ameaças” (Mulher, caixa).

18. Desqualificar o outro, com apelidos pejorativos.

“A conotação de “burro”, para alguns colegas” (Homem, escriturário).

“Quem não cumpre meta e utiliza alguma desculpa, é chamado de pessoa que está usando muleta” (Homem, comissionado).

“Tentativa do gerente de desqualificar alguns funcionários, como: incompetentes, fracos para a função” (Homem, escriturário).

“Recentemente, quando começaram a “contratar” Gerentes de Negócio, uma supervisora, que é Gerente de Negócios e aderiu ao PDV, foi dito que até a faxineira faz o serviço que ela desempenha” (Mulher, escriturária).

“Fui chamada pela gerente administrativa (ex), na frente de outros funcionários, de incompetente, irresponsável, displicente e desinteressada, o que me motivou a sair do PDV”.

19. Estimular a competitividade entre os pares.

“Já presenciei casos entre colegas (funcionários técnicos) que se julgam superior (em tudo) porque possuem mais conhecimento. Há pessoas que sabem se defender, porém há aqueles que sofrem esse tipo de humilhação” (Homem, comissionado).

Pelo fato de ser estagiário somos humilhados, por não sermos funcionários registrados, como se não soubéssemos o serviço, sendo que o desempenhamos igual ou melhor do que os próprios funcionários” (Mulher, estagiária).

20. Quebra dos laços de amizade.

“Graças a Deus, são casos isolados, alguns funcionários que pensam que gozam de algum privilegio, e que acham que só eles trabalham, gritam, humilham, se acham os melhores” (Mulher, comissionada).

“Uns culpam os outros pelo excesso de trabalho, julgam estarem trabalhando mais do que os outros” (Mulher, caixa).

“Fui descomissionada sem nenhum motivo. E até hoje ninguém teve a dignidade de tomar partido da situação.”. (Mulher, escriturária).

“… uma empresa para ser bem sucedida, tem que existir um elo de amizade para com seus funcionários” (Mulher, caixa).

“Inclusive distribuição irregular de horas exatas para funcionários do mesmo setor” (Mulher, caixa).

“Colega, sexo masculino, tratando colega, sexo feminino, mesma hierarquia, com palavras de baixo calão” (Mulher, escriturária).

21. Impedir de almoçar ou conversar com colegas.

“O chefe não deixou o funcionário almoçar com o colega” (Mulher, escriturária).

22. Interditar a fisiologia.

“O Gerente Administrativo não permitia nem mesmo ao funcionário ausentar-se do seu posto (portaria) para ir ao banheiro ou beber água” (Homem, escriturário).

23. Fiscalizar.

“Já peguei gerente escutando conversa escondida atrás da porta, após discutir algum assunto” (Mulher, escriturária).

24. Pressão para produzir.

“Você é incompetente. Hoje é dia de (x) produtos. Quanto você fez? Só? E o que mais?” (Mulher, escriturária).

“Também exigência para cumprir-se metas e fazer hora extra, pressão para que trabalhe mais e mais. Ameaças do tipo: se não estiver satisfeito caia fora” (Homem, escriturário).

“Creio que em situações que nos encontramos forçados a cumprir metas impossíveis, leva-nos fatalmente a escutar besteiras em reuniões fora da hora, aos sábados, domingos e feriados…” (Homem, comissionado).

“Metas absurdas (reuniões fora de horário)” (Mulher, escriturária).

“Pressão e intimidação do tipo: ou seu emprego ou sua família” (Mulher, comissionada).

“Afirmaram que nesse banco não pode errar e que família esta em 3º ou 4º plano, isso é humilhar” (Homem, comissionado).

“A grande pressão de cumprir metas, vários bate boca, com resultados desastrosos” (Homem, comissionado).

25. Pressão para “deixar” a empresa e aderir ao PDV.

“A administração aconselhou certos funcionários a aderir ao PDV” (Homem, escriturário).

“O gerente interpelou um funcionário e disse que o melhor seria aderir ao PDV, pois se ficasse seria demitido. Isto ocorreu com vários funcionários desta agencia, que em sua maioria, sentiram-se coagidos e aderiram ao PDV” (Mulher, escriturária).

“Pressões à aderir ao PDV, pelo gerente” (Mulher, escriturária).

26. Jornadas prolongadas.

“Foi quando uma supervisora, diante de colegas tomando posse na agencia. Eu já estava super atarefado de serviço, e fazendo mais o serviço de um colega que saiu de férias, trabalhando de 5h às 17h. Reclamei que não estava agüentando mais, ela disse que dava para fazer nas 6h, e que eu estava enrolando” (Homem, escriturário).

“Por varias vezes o “grande e magnífico” gerente administrativo fala para os colegas que reclamam da sobrecarga e da extrapolação de horário, que se tiverem achando ruim peça as contas” (Homem, escriturário).

“Cobranças exageradas por parte da administração com relação a erros de colegas no trabalho” (Homem, escriturário).

“Trabalhar até 13 horas por dia, num mesmo dia e não receber as horas extras” (Homem, caixa).

27. Permanecer no Banco, além da jornada.

“Ela queria me obrigar a ficar além do meu horário. Eu não queria nem podia pois estudava à tarde na faculdade. Claro que se ficasse não seriam pagas hora extra” (Mulher, comissionada).

“Se o funcionário não ficar além do horário, vai ser mandado embora.” (Mulher, escriturária).

28. Disciplinar e submeter.

“Chegando a uma reunião geral com 5 minutos de atraso por motivo de doença, a qual meu supervisor já tinha conhecimento, fui humilhado pelo gerente geral na presença de todos os meus colegas de trabalho. Logo após esse fato, uma supervisora quis fazer a gentileza de buscar uma cadeira para sentar-me e quando próprio gerente disse: “Quem chegou atrasado que fique de pé!” (Homem, caixa).

“O chefe enquadrou o funcionário na minha frente, e julguei inadequados a forma e o local” (mulher, caixa).

“Já fui chamada a atenção na presença de colegas” (Mulher, escriturária).

“Durante o intervalo de 15 minutos para o lanche, foi proibida devido ao numero grande de clientes e tive que voltar para o caixa trabalhar, na base de reclamações e berros do chefe perante todos os questionários e clientes, sendo que quando sai do caixa não havia fila, não tendo culpa se depois surgiram clientes…” (Mulher, comissionada).

“Presenciei um gerente passando uma bronca em um funcionário por causa de prazos de entrega de serviços. O funcionário só dizia “Sim, senhor”, mas foi uma situação horrível para as pessoas que estavam perto e que nem respiravam” (Mulher, comissionada).

“Com colegas que pediram o PDV, assim que pediram foram afastados de suas funções pela gerente administrativa, causando espanto a todos e desconforto aos funcionários” (Mulher, escriturária).

29. Manipulação do medo. Sobrecarga de trabalho.

“Você é o próximo a ser transferido… por vender poucos produtos’ – Dentro da reunião, em meio a todos” (Homem, caixa).

“… todos eles estão com medo de perder o emprego. É muita pressão” (Homem, escriturário).

“Ameaças de demissão. Pressão para estender o horário de trabalho” (Homem, comissionado).

“Ameaça de transferência caso não cumprir metas” (Homem, caixa).

“Sobrecarga de trabalho, sem tempo para aprender o serviço e sem ninguém para ensinar ou tirar duvidas e cobrança de trabalho e metas etc” (Mulher, escriturária).

“Chefes que gritam berram – advertência por incompetência de trabalho. Discussão sobre trabalho fora de horário de trabalho” (Homem, escriturário).

“Em toda reunião geral, os funcionários são ameaçados de transferência por não vender produtos. Na última, 2 colegas foram humilhados diante de todos os funcionários da agência” (Homem, escriturário).

“Fui chamada pelo gerente administrativo mais o gerente adjunto para uma conversa a portas fechadas em uma salinha que é usada como refeitório. Foi praticamente exigida mais colaboração da minha parte. Me senti torturada emocionalmente pois foi dito que se não colaboro estou fora. Inclusive com a ameaça de transferência de cidade. Fico sempre de 2 a 3 horas além do meu horário” (Mulher, caixa).

30. Pressão do cliente.

“Cliente querendo agredir funcionário pela demora no caixa” (Homem, caixa).

“Funcionários humilhados por clientes devido à falta de funcionários para atendimento” (Mulher, caixa).

“Cliente gritando, cuspindo no rosto de funcionaria” (Mulher, caixa).

“Cliente culpando funcionário por falta de serviços prestados p/ Banco (fornecimento de talão,cartão,fila,demora no atendimento,etc” (Mulher, escriturária).

“O cliente sempre diz em alto e bom som que paga nosso salário e se acha no direito de humilhar e sapatear as vezes em cima dos funcionários” (Mulher, caixa).

“Por problemas no novo sistema em dias de muita movimentação há tumulto entre os clientes que ficam gritando, chamando mais funcionários ou ofendendo aqueles que trabalham” (Mulher, caixa).

“Nos dias de movimento, com o atual sistema (com problemas) a agencia estava super lotada e os clientes começaram a gritar, ofender os funcionários e nenhuma medida foi tomada” (Mulher, caixa).

“Num dia de pico, agência cheia de clientes e guichês sem caixa, e os clientes começaram a gritar “queremos caixa, queremos caixa!”. Nenhum dos gerentes se encontravam na agência, só a chefe da bateria e alguns supervisores. Foi uma humilhação para todos os funcionários” (Mulher, escriturária).

“Na maioria das vezes, os clientes ofendem seriamente” (Mulher, caixa).

31. Condições de trabalho degradadas.

“Supervisor chamando atenção de funcionário perante os clientes. Gerente chamando atenção, gritando com supervisor e funcionário durante o expediente com a agência lotada. Discussão entre supervisores” (Homem, escriturário).

“Tenho 23 anos de Banco, já trabalhei em muitos setores, inclusive cobrança, e a gerente administrativa me chamou na mesa dela e antes de dar uma bronca injusta, me perguntou se eu sabia o que era uma “Francesa”, acrescentando o comentário: “Se você não conhece, eu te apresento; Isto é uma Francesa” (Mulher, comissionada).

“Administradores chamando atenção de escriturários diante dos clientes” (Homem, comissionado).

“Funcionários tem sua atenção chamada na frente de clientes e são humilhados por gerentes e alguns supervisores” (Homem, escriturário).

“Nas reuniões, fala-se muito palavrão, as vezes dirigido, com muita conotação sexual” (Mulher, escriturária).

“Com o PDV as filas aumentaram nos caixas. Quando a gente vai atender os clientes estes já estão nervosos e nos tratam mal” (Homem, comissionado).

“Ar condicionado desligado, agência toda com paredes de vidro, o sol batendo em cima de mim e do terminal, todo suado e tenso chamo o gerente reclamando e o mesmo leva a situação na brincadeira e não resolve o problema” (Homem, caixa).

32. Discriminar os adoecidos.

“Lesionados são tratados como pessoas incapazes e preguiçosas” (Mulher, escriturária).

“Sofro de enxaqueca, e por vezes senti descriminação por isso, chegando alguns superiores a dizer que eu apenas mentia ter dor, para poder ir para casa” (Mulher, escriturária).

“Já presenciei na minha própria pele, a partir de um problema de saúde em 97. No retorno a minha atividade, além da frustração pela perda pelo problema de saúde, não tive nem um respaldo do Administrativo, sendo desvalorizado e despercebido” (Homem, escriturário).

“Portador de LER, que sofrem dores horríveis, é tratado como vagabundo, que não quer trabalhar” (Homem, caixa).

“O fato de ter adquirido LER, no trabalho do Banco, faz com que freqüentemente seja cobrada e humilhada por não produzir os executar tarefas na mesma proporção que outros colegas” (Mulher, comissionada).

“Gerente disse não saber onde “jogar” os lesionados” (Mulher, outros).

33. Danos a saúde mental.

“Acho que a produção seria muito maior se após essas reuniões saíssemos motivados e não vendo amigos chorando” (Mulher, caixa).

“Toda semana aparece um chorando no banheiro: faço tudo, me esforço, tento de tudo” (Mulher, escriturária).

” O que me desagradou foi a forma com que me chamaram a atenção. Trabalhei chorando devido as ameaças recebidas” (Mulher, comissionada).

“Reuniões com funcionários e superiores da regional (…). Vários funcionários saíram desestabilizados emocionalmente, chorando” (Mulher, escriturária).

“Sei através de colegas da minha ex-agencia que o atual gerente humilha e exige que os seus funcionários trabalhem no fim de semana, a fim de cumprir metas absurdas. Isto tem deixado pessoas doentes e sabemos que está ocorrendo em muitas agencias do banco” (Homem, comissionado).

“Pressão violenta. Acabei tirando 15 dias. Psiquiatria” (Mulher, escriturária).

34. Sofrimento ético-politico.

“Assuntos que deveriam ser tratados em particular são expostos em reuniões sem o prévio conhecimento aos envolvidos, causando constrangimento e humilhação” (Mulher, comissionada).

“Em uma reunião na agência com gerente regional e assessores direto (…), devido a posição da agência em relação as metas, o assessor “…” Falou “um monte” sobre o que a gente representava e da nossa “incompetência” pelo não cumprimento das metas, deixando a moral de “todos” os funcionários da agência “lá em baixo”. Comparando-nos com uma agência de uma cidade pequena e desconhecida para nos” (Homem, escriturário).

“Uma colega (caixa) foi obrigada, pela filha de uma cliente idosa, a ajoelhar-se perante a referida senhora, por causa de uma situação mal resolvida. (…). O pior de tudo, na minha opinião foi a ausência de algum supervisor ou gerente no caso (Homem, caixa).

35. Qualidade de vida.

O descaso com a alimentação dos que trabalham no NASBE, com a terceirização a qualidade da comida virou um lixo e a empresa (SANTANDER) parece que não da a mínima” (Homem, comissionado).

“Adiei fisioterapia por problemas na coluna, só se for a noite. Não tenho tempo para mim (Homem, caixa).

36. A circularidade da violência.

“Chefes sobre pressão, costumam descarregar em seus funcionários, constantemente” (Homem, caixa).

“Com um Gerente Geral (feita pelo Regional) quando do rebaixamento deste gerente. Obrigando-o a ler a sua carta na frente de todos os colegas” (Mulher, caixa).

“Em reunião na GR gerentes serem chamados de incompetentes” (Homem, comissionado).


Fonte: Margarida Barreto, Violência Moral no Banespa, São Paulo, 2001.

Pesquisa realizada em parceria com a AFUBESP.

[1] Serviços de retaguarda que passam a ser realizados por terceirizadas, com menor custo para o Banco.

Governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, veta lei contra assédio moral

Lastimamos profundamente a insensibilidade do Dr. Geraldo Alckmin, governador do Estado de São Paulo, que vetou a lei estadual sobre o Assédio Moral no Trabalho do Deputado Antonio Mentor.

Essa atitude contribui para prejudicar a saúde dos/das trabalhadores/as e manter práticas abusivas, desumanas e sem ética no local de trabalho.

Escreva para o Governador exigindo que a lei seja aprovada, já que constitui uma das ferramentas no combate à violência moral no trabalho.

E-mail do Gabinete do Governador de São Paulo: galckmin@sp.gov.br

Carta do Governador

Veto Total ao Projeto de Lei N.º 422 de 2001
Mensagem N.º 135 do Sr. Governador do Estado
São Paulo, 8 de novembro de 2002

Senhor Presidente

Tenho a honra de levar ao conhecimento de Vossa Excelência, para os devidos fins, que, nos termos do artigo 28, § 1º, combinado com o artigo 47, inciso IV, da Constituição do Estado, resolvo vetar, totalmente, o Projeto de lei nº 422, de 2001, aprovado por essa nobre Assembléia, conforme Autógrafo nº 25.456.

A propositura, de iniciativa parlamentar, dispõe sobre assédio moral no âmbito da Administração Pública Estadual.

Conforme se verifica pelo conceito que informa o artigo 2º do projeto, trata-se de coibir condutas, por parte dos que exercem autoridade funcional na Administração do Estado, que atinjam a auto-estima do servidor, com danos ao ambiente de trabalho, ao serviço prestado ao público e ao próprio usuário.

Desse modo, estariam tipificadas como assédio moral, entre outras, condutas consistentes em determinação de atribuições estranhas ou atividades incompatíveis com o cargo que o servidor ocupa, ou em condições e prazo inexeqüíveis; designação de quem exerce atividades técnicas para atribuições triviais; apropriação do crédito de idéias, propostas e projetos.

Apesar da importância e do crescente interesse que o tema desperta, vejo-me compelido a negar-lhe assentimento em face de sua inconstitucionalidade.

O texto em exame fere o processo legislativo estabelecido pela Constituição Federal, que, em seu artigo 61, § 1º, inciso II, alínea “c”, determina serem de iniciativa privativa do Chefe do Executivo as leis que disponham sobre servidores públicos e seu regime jurídico. As normas constitucionais federais sobre processo legislativo são, conforme tranqüilo entendimento do Supremo Tribunal Federal, de observância obrigatória para os Estados. A Constituição do Estado reproduz no seu artigo 24, § 2º, item 4, o dispositivo mencionado.

Há que se considerar ainda que, por se tratar de matéria afeta ao Estatuto dos Servidores Públicos, a propositura somente poderia vir a integrar o ordenamento se revestisse a forma de lei complementar, nos termos do artigo 23, parágrafo único, item 10, da Constituição do Estado. Nesse aspecto, a iniciativa mostra-se igualmente inconstitucional.

Por outro lado, há dispositivos no projeto que subtraem do Executivo o poder de administrar que lhe é próprio pelo princípio da separação de poderes. É o que se vê no artigo 7º, parágrafo único e itens 1, 2 e 3, que tratam de normas de planejamento e regras de organização do trabalho na Administração Pública.

Fundamentado nesses termos o veto que oponho ao Projeto de lei nº 422, de 2001, restituo o assunto ao oportuno exame dessa ilustre Assembléia.

Reitero a Vossa Excelência os protestos de minha alta consideração.

Geraldo Alckmin
GOVERNADOR DO ESTADO

A Sua Excelência o Senhor Deputado Walter Feldman, Presidente da Assembléia Legislativa do Estado.

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