Unibanco é condenado por assédio moral e sexual

São Paulo – O Unibanco foi condenado pela Justiça a pagar uma indenização de R$ 50 mil a uma funcionária por assédio moral e sexual. O gerente de uma agência em Porto Alegre tinha uma conduta abusiva e chamava de incompetentes os trabalhadores que não alcançavam metas.

Esse gerente também fixou cartazes, visíveis aos trabalhadores e também aos clientes, com fotos de cada bancário classificando a produtividade dos empregados. Os que não atingiam metas eram classificados com a cor vermelha e apelidados de tartarugas. As atitudes da gerência do Unibanco foram classificadas pela Justiça como violação ao princípio constitucional de respeito à dignidade humana.

Além disso tudo, as funcionárias eram obrigadas a tolerar os comentários pejorativos dos gerentes, o que foi caracterizado como assédio sexual.

Gisele Coutinho com informações do site Espaço Vital – 08/04/2008

Pesquisa realizada no Banespa revela clima de violênca moral institucional

Realizada por Margarida Barreto, pesquisa detecta um clima de violência moral institucional, durante processo de compra do Banespa pelo banco espanhol Santander

O setor bancário tem se destacado nestas duas últimas décadas por reestruturação do setor associado a políticas de fusões, privatizações, desregulamentações e redução acentuada dos custos operacionais. Por outro lado, otimizou o uso da informática e partiu para uma política agressiva de transformação das agencias em lojas de vendas e negócios, fechamento de contas não rentáveis, demissões estimuladas de antigos funcionários, contratação de estagiários e de ex-funcionários através de terceirizadas.

A política de ‘saneamento’ dos gastos se deu as custas da terceirização de serviços de quase todos os setores, associado ao aumento da pressão e intensificação do trabalho, racionalização de processos, regulamentação da demissão sem justa causa, implantação de programas de demissão voluntária e contratação de estagiários jovens. A estes fatores, associa-se a implantação do sistema de back-office1, auto-atendimento do cliente através da propaganda e incentivo ao uso do home banking, internet banking, débito em conta, entre outros. Concomitantes ao desaparecimento de funções de confiança de chefia, foram instaurados novos “Processos Seletivos Internos para a ocupação das novas funções gerenciais do segmento logístico”

É neste contexto, que realizamos uma pesquisa em que foram distribuídos 3.000 questionários de autopreenchimento para 886 Agências através da Gerencia Regional, 72 NASBE e 43 ADGER referentes a capital paulista, grande São Paulo, interior e outros estados da União – região norte, correspondendo a 51 agências e região Sul do país com 41 agencias. Destes questionários, 1001 retornaram até a data estipulada e correspondem a 452 homens e 549 mulheres. A análise dos questionários repondidos nos permitiu compreender as consequências da politica do Banco Santander ( privatização, novas polticas de gestão e ameaças constantes de desemprego) à saúde dos banespianos/as. Da analise realizada, consideramos a margem de erro de 3,2% dentro de um coeficiente de confiança de 95,5%.

Selecionamos as frases mais ouvidas nesse periodo por todos os trabalhadores/as, em se revela um ambiente de trabalho degradado deliberadamente, predominando o medo, as ameaças, discriminações, desqualificações e adoecimentos. O clima institucional era de “guerra psicologica” em que predominava a manipulação perversa e abuso do poder, como forma de forçar os funcionarios/as a aderir ao PDV ou PDI.

1. Abuso de poder, autoritarismo.

“Fui apontada com o dedo indicador como a próxima a ser transferida” (Mulher, escrituraria).

“Funcionários sendo humilhados direta e indiretamente porque não (“vendeu”) cumpriu a meta” (Mulher, escriturária).

“Eu mandei”, você tem que fazer o que eu disse e não tem que pensar em nada”; primeiro o banco, depois o resto” (Mulher, caixa).

Já presenciei chefes que faltaram com respeito com colegas, desrespeito tanto profissional, quanto pessoal, chegando a humilhar minha colega” (Mulher, caixa).

“Quando um gerente chamou minha atenção na frente de clientes e quis impor “direitos” de gerente, dizendo que como ele tinha um cargo superior ao meu ele tinha todo direito de falar comigo daquela maneira” (Mulher, caixa).

“Durante a imposição da venda de seguros presenciei o gerente geral da agência onde trabalhava chamar o caixa de incompetente por não conseguir vender seguros, na frente de todos os funcionários” (Homem, caixa).

“Um setor inteiro que fica contíguo ao meu, foi convidado a aderir ao PDV pois seria terceirizado. Somente algumas pessoas constantes em uma lista seriam recontratados pela empresa terceirizada caso tivessem interesse, mas foi avisado que o salário seria menor 50%. Os demais foram humilhados publicamente pelo gerente que diziam que não foram escolhidos porque eram incompetentes ou por falta de colaboração” (Mulher, comissionada).

“Reuniões em que os diretores querem ensinar humilhando as pessoas cobrando produção sem parar. Lema: vender, vender, vender etc… ou a porta da rua é a serventia da casa” (Mulher, comissionada).

2. Intimidar, amedrontar, ameaçar, repreender.

“Dia 31 de agosto esta aí… se você se enquadrar naquilo que o Banco quer, bem, se não peça o PDV” (Homem, caixa).

“Não quero saber se vocês estão estabilidade ou não, se não vender produto Y vou colocá-los a disposição” (Mulher, escrituraria).

“A exigência de cumprimento de metas, obrigação de ficar fora do horário de trabalho, ameaças, tipo, agora você pode ser despedido, etc.” (Mulher, caixa).

“Nas reuniões gerais na agência é só ameaça para se cumprir as metas: “Como cabeças vão rolar e se a minha rolar várias rolarão antes… Vocês são inúteis, o banco já não é aquela teta, o banco vai demitir!” (Homem, caixa).

“Pessoas ameaçadas de serem demitidas se não cumprirem determinadas tarefas” (Homem, escriturário).

“Exigência, com ameaças de demissão” (Mulher, comissionada).

“Se você Fulano de Tal não vender tal produto até a data X terá que fazer este produto para você, debite em sua conta” (Mulher, escrituraria).

“Um chefe me chamou atenção na frente de um cliente, sobre assunto de outro cliente. Fiquei com cara de taxo” (Homem, caixa).

3. Agressão verbal, gritos, insultos.

“Gritar comigo na frente dos clientes” (Mulher, caixa).

“Somente um exemplo. No transporte do malote de um PAB para a agência, cheguei em cima da hora, isto porque não existem caixas suficientes para atender a demanda. Foi o bastante para ouvir os gritos da GA” (Homem, caixa).

“O superior costuma se dirigir aos funcionários aos berros e chamá-los de incompetentes. Os funcionários são tratados como ignorantes” (Homem, comissionado).

“Presenciei a gerência desacatando o funcionário em tom de voz exagerado” (Homem, caixa).

“Chamadas de atenção” em público, de maneira rude, grosseira e desrespeitosa para com o profissional (colega de trabalho) e com a pessoa que este representa” (Mulher, escriturária).

“Já vi um gerente ‘conversar’ com um funcionário num tom de voz muito elevado, na frente de todo mundo desrespeitando” (Mulher, comissionada).

“Nunca aconteceu comigo, mas outros colegas já foram chamados de incompetentes, burro, imprestáveis, etc” (Homem, caixa).

“Insultos proferidos pela chefia, direcionados a um funcionário, ou a um grupo de funcionários” (Homem, comissionado).

“Chefe maltratando funcionários” (Homem, caixa).

“Superior gritando com funcionários por causa de problemas, ao invés de tentar solucioná-los” (Mulher, escriturária).

“O supervisor ou gerente, dirigiu-se em voz alta ou alterada, com o escriturário” (Mulher, escriturária).

“Agressões verbais por não cumprimento de metas” (Mulher, comissionada).

“Quando o ex-gerente de minha agência fazia reuniões e dizia que tínhamos que nos esforçar mais, assim como uma puta velha age, ou agirmos como ela, era humilhante” (Mulher, caixa).

“Gritar com funcionário ou obrigá-lo a ficar esperando por atendimento sem necessidade” (Mulher, caixa).

4. Desmoralizar profissionalmente.

“A pior delas, foi em uma reunião geral, o gerente geral ter dito e apontado duas funcionárias como “a disposição” de qualquer outra agência que tenha necessidade de mais funcionários, pois não agregam o bastante em seu modo de ver em termos de conhecimento ou envolvimento com a equipe” (Mulher, escriturária).

“Gerente Geral grita com Supervisores em reuniões, chamando-os de incompetentes e ameaçando de demissão” (Homem, caixa).

“Se não está dando conta em 6 horas fique até dar conta… eu sai daqui ontem às 10 horas da noite” (Homem, caixa).

“Dizer que as pessoas são incompetentes, que não sabem fazer seu serviço” (Mulher, estagiaria).

“Funcionários transferidos para outras agências, e é devolvido por não servirem” (Mulher, caixa).

5. Desqualificar.

“Qualquer correspondência que eu fazia, tinha que mostrar para a minha chefa, para que ela fizesse correções.” (Mulher, comissionada).

“Quando eu tirava xerox que ela pedia, reclamava porque saia torto” (Mulher, comissionada).

“Uma gerente administrativa queria me ensinar a atender o telefone depois de 15 anos que eu tenho na profissão” (Mulher, outro).

“Chefes insinuam que os funcionários são incapazes por não conseguirem executar tarefas que antes eram executadas por três ou quatro pessoas” (Mulher, comissionada).

“… gerente gritou em público, por duas vezes com funcionários, dizendo que não prestavam e não deveriam assumir responsabilidades para as quais não possuíam aptidão” (Mulher, comissionada).

6. Ironizar, ridicularizar.

“Foi quando eu trabalhava em uma lanchonete. Um funcionário deixou cair uma bandeja de lanches e foi humilhado pela chefia. Depois disso ele foi motivo de piada por muito tempo” (Homem, estagiário).

7. Isolar.

“Transferência para outros lugares, sem aviso” (Mulher, escriturária).

“Transferências de um dia para outro” (Mulher, escriturária).

“Separação de uma certa quantia de funcionários da agência para forçá-los a pedir demissão” (Mulher, caixa).

8. Ignorar.

“Quando mais eles notam você debilitado mais te mudam de local de trabalho. Menosprezam seu potencial, te ignoram” (Mulher, caixa).

“Em algumas necessidades, quando preciso do gerente da área de serviços não sou atendida. Parece-me que estamos desamparados” (Mulher, escriturária).

9. Não valorizar o “saber fazer” do trabalhador/a.

“Não tive meu trabalho feito com dedicação e empenho reconhecido” (Homem, escriturário).

“Um colega super esforçado, cumpridor do seu dever e de suas metas, foi mal avaliado em perfil, porque sua gerente tinha que apresentar número 7 o PDV fazendo com que o funcionário aderisse ao plano” (Homem, caixa).

“Nunca tivemos voto de confiança; muito pelo contrário, somente sendo pisados pela administração” (Homem, caixa).

“Imagine. Você trabalha durante 17 anos no Banco, de repente é contratada uma gerente geral (do Banco). Ela chega “puxando” o tapete de uma colega banespiana e achando que os demais funcionários são incompetentes e improdutivos. Existe humilhação maior que esta para a família banespiana?” (Homem, comissionado).

“As pessoas nunca reconhecem seu trabalho, você trabalha certo sempre, um dia que você faz algo errado, você simplesmente não vale nada. O que você fez durante anos certo não conta ponto. Só conta ponto o que você fez e saiu errado” (Mulher, caixa).

10. Culpabilizar.

“Um superior referiu-se a mim como pessoa que precisava de mais agilidade e que ele havia perdido um bom negócio devido a minha “lerdeza”. Sempre que este necessitava de algo era “pra ontem” com a seguinte frase: “quando eu pedir algo e para me atender imediatamente eu sou o gerente geral eu sou a prioridade” (Mulher, comissionada).

“Meu gerente me disse que 70% dos problemas que aconteciam no sistema eram causados pelos analistas” (Mulher, comissionada).

“Gerente geral uma vez gritou comigo me culpando por não ter feito uma planilha completa, mas os dados dependem dos gerentes de negócios e nem todos informaram, foi bastante desagradável e injusto” (Mulher, escriturária).

“Da ultima vez que começou a me ofender porque o malote tinha sumido, disse que a culpa era minha, como se tivesse que ficar de plantão cuidando do malote” (Mulher, escriturária).

11. Realizar tarefas abaixo da capacidade.

“Em uma 2º feira, com o vento, a entrada da agência estava cheia de folhinhas de uma árvore que tem quase em frente, e como sou supervisora, fui praticamente obrigada a pegar uma vassoura e varrer a entrada, pois a porta ia se abrir e eu como administradora da Agência, tinha por obrigação, mantê-la limpa, foi o que me disse o gerente administrativo e num tom de voz bem ríspido e autoritário” (Mulher, comissionada).

“O importante era humilhar colocando-o de porteiro, sem função!” (Homem, escriturário).

12. Manipulação da comunicação e informação.

“Reuniões fora do horário e local de trabalho” (Mulher, escriturária).

“Ele sonegava informações dentro da equipe e apenas os “protegidos” recebiam as informações necessárias para o bom desempenho do trabalho” (Homem, comissionado).

“As informações não são passadas com antecedência p/ nós funcionários, que ficamos sabendo através dos clientes, sobre as mudanças. Isso é um absurdo” (Mulher, escriturária).

13. Marcar reuniões fora do horário de trabalho.

” Muitas reuniões fora do horário e local do expediente” (Homem, escriturário).

14. Discriminar.

“Gerente geral falar para funcionária que ela é velha e que se sair de licença por doença ele colocaria uma garota nova no lugar” (Mulher, escriturária).

“Ser preterido em uma promoção não por competência, mas por ser negro e não fazer parte da “panelinha” e ser comunicado em público por isso” (Homem, comissionado).

“O chefe diz ao funcionário que seu trabalho é lento por ser nordestino, negro, banespiano etc.” (Mulher, comissionada).

“Já senti discriminação em funcionários por causa da idade acima de 40 anos” (Mulher, caixa).

15. Mentiras, vinganças e corrupções.

“Houve um dos episódios em que uma gerente omitiu a seus supervisores, dizendo-lhes que todas as atendentes haviam tido / sido preparadas em curso p/ conhecer todos os produtos e quando, fui perguntar sobre um deles, os supervisores estavam por perto e ouviram. Ela então ficou furiosa e no dia seguinte, durante o expediente e, na presença de estranhos, inclusive do guarda do banco, me destratou, me humilhou, me fez chorar muito” (Mulher, comissionada).

“Fui humilhado e colocado em disfunção por um chefe de departamento inescrupuloso e um gerente puxa saco, só por não concordar com algumas providências e/ou decisões que eles queriam que eu tomasse, a fim de prejudicar-me pessoalmente e a equipe” (Homem, comissionado).

“Supervisores acham que os escriturários são obrigados a trabalhar o mesmo tempo que eles e às vezes com mais responsabilidades, pois fazemos todo o serviço e a assinatura fica por conta deles, e com isso vem a cobrança do serviço em ordem, onde temos que nos sujeitarmos as cobranças sem sentido” (Mulher, escriturária).

16. Ações contra a dignidade.

“Ser chamado à atenção na frente de colegas” (Homem, comissionado).

“Comentários de reuniões sobre metas, nas quais os funcionários são humilhados” (Mulher, comissionada).

“Fui humilhada durante uma reunião com o chefe, na frente de outras pessoas que não tinham nada a ver com a situação” (Mulher, comissionada).

“Advertências infundadas e injustas, perseguições, cobranças sobre o trabalho muitas vezes infundadas” (Homem, escriturário).

“Você fez bem em aderir ao PDV, pois não tem perfil para trabalhar no Banco” (Mulher, escriturária).

“… com a presença de todos os funcionários da agência…. (aproximadamente 30 pessoas) fui humilhada pelo gerente geral… com ameaça de transferência para outra agencia porque não interessava mais para o grupo a minha permanência aqui” (Mulher, escriturária).

“O supervisor questiona o procedimento do funcionário diante do cliente ou mostra-se indiferente aos problemas do cliente sem manifesto de interesse para resolver o problema com urgência e delicadeza” (Homem, caixa).

“Gerente dando “broncas” e desacatando funcionários na frente de clientes e colegas” (Mulher, escriturária).

“Fui ofendida duas, vezes com a agência lotada. Me senti gravemente injuriada. Ao procurar a administração da minha agência para tomar providências, fui recebida com mais insultos e piadas…” (Mulher, caixa). .

17. Ações perversas que ferem a identidade.

“O meu gerente tem satisfação em humilhar publicamente “todos”os seus subordinados” (Homem, comissionado).

“Funcionário transferido desta agência há apenas uma semana da homologação do PDV. Pior, foi devolvido por parte de entendimento entre as gerências” (Homem, comissionado).

“Por ocasião do PDV, a convocação dos funcionários na sala do gerente para este dizer à aqueles que, não tinham perfil para trabalhar no “Banespa” (Homem, escriturário).

“A forma como foi feito o PDV. Parecíamos cachorros sendo chutados para fora do Banco depois de uma vida dedicada a empresa” (Homem, comissionado).

“Fui chamada de má funcionaria, pois na ótica deles, bom funcionário é aquele “bom vendedor” e fica depois do horário, inclusive ajudo aos colegas de outros setores quando estou desocupada e sei que cumpro com todos meus deveres, mas sempre dentro do meu horário” (Mulher, caixa).

“Em reuniões mensais do “SIM” a maneira como o diretor fala e cobra os “gerentes” é humilhante, como se fossemos um bando de retardados, sem contar as ameaças” (Mulher, caixa).

18. Desqualificar o outro, com apelidos pejorativos.

“A conotação de “burro”, para alguns colegas” (Homem, escriturário).

“Quem não cumpre meta e utiliza alguma desculpa, é chamado de pessoa que está usando muleta” (Homem, comissionado).

“Tentativa do gerente de desqualificar alguns funcionários, como: incompetentes, fracos para a função” (Homem, escriturário).

“Recentemente, quando começaram a “contratar” Gerentes de Negócio, uma supervisora, que é Gerente de Negócios e aderiu ao PDV, foi dito que até a faxineira faz o serviço que ela desempenha” (Mulher, escriturária).

“Fui chamada pela gerente administrativa (ex), na frente de outros funcionários, de incompetente, irresponsável, displicente e desinteressada, o que me motivou a sair do PDV”.

19. Estimular a competitividade entre os pares.

“Já presenciei casos entre colegas (funcionários técnicos) que se julgam superior (em tudo) porque possuem mais conhecimento. Há pessoas que sabem se defender, porém há aqueles que sofrem esse tipo de humilhação” (Homem, comissionado).

Pelo fato de ser estagiário somos humilhados, por não sermos funcionários registrados, como se não soubéssemos o serviço, sendo que o desempenhamos igual ou melhor do que os próprios funcionários” (Mulher, estagiária).

20. Quebra dos laços de amizade.

“Graças a Deus, são casos isolados, alguns funcionários que pensam que gozam de algum privilegio, e que acham que só eles trabalham, gritam, humilham, se acham os melhores” (Mulher, comissionada).

“Uns culpam os outros pelo excesso de trabalho, julgam estarem trabalhando mais do que os outros” (Mulher, caixa).

“Fui descomissionada sem nenhum motivo. E até hoje ninguém teve a dignidade de tomar partido da situação.”. (Mulher, escriturária).

“… uma empresa para ser bem sucedida, tem que existir um elo de amizade para com seus funcionários” (Mulher, caixa).

“Inclusive distribuição irregular de horas exatas para funcionários do mesmo setor” (Mulher, caixa).

“Colega, sexo masculino, tratando colega, sexo feminino, mesma hierarquia, com palavras de baixo calão” (Mulher, escriturária).

21. Impedir de almoçar ou conversar com colegas.

“O chefe não deixou o funcionário almoçar com o colega” (Mulher, escriturária).

22. Interditar a fisiologia.

“O Gerente Administrativo não permitia nem mesmo ao funcionário ausentar-se do seu posto (portaria) para ir ao banheiro ou beber água” (Homem, escriturário).

23. Fiscalizar.

“Já peguei gerente escutando conversa escondida atrás da porta, após discutir algum assunto” (Mulher, escriturária).

24. Pressão para produzir.

“Você é incompetente. Hoje é dia de (x) produtos. Quanto você fez? Só? E o que mais?” (Mulher, escriturária).

“Também exigência para cumprir-se metas e fazer hora extra, pressão para que trabalhe mais e mais. Ameaças do tipo: se não estiver satisfeito caia fora” (Homem, escriturário).

“Creio que em situações que nos encontramos forçados a cumprir metas impossíveis, leva-nos fatalmente a escutar besteiras em reuniões fora da hora, aos sábados, domingos e feriados…” (Homem, comissionado).

“Metas absurdas (reuniões fora de horário)” (Mulher, escriturária).

“Pressão e intimidação do tipo: ou seu emprego ou sua família” (Mulher, comissionada).

“Afirmaram que nesse banco não pode errar e que família esta em 3º ou 4º plano, isso é humilhar” (Homem, comissionado).

“A grande pressão de cumprir metas, vários bate boca, com resultados desastrosos” (Homem, comissionado).

25. Pressão para “deixar” a empresa e aderir ao PDV.

“A administração aconselhou certos funcionários a aderir ao PDV” (Homem, escriturário).

“O gerente interpelou um funcionário e disse que o melhor seria aderir ao PDV, pois se ficasse seria demitido. Isto ocorreu com vários funcionários desta agencia, que em sua maioria, sentiram-se coagidos e aderiram ao PDV” (Mulher, escriturária).

“Pressões à aderir ao PDV, pelo gerente” (Mulher, escriturária).

26. Jornadas prolongadas.

“Foi quando uma supervisora, diante de colegas tomando posse na agencia. Eu já estava super atarefado de serviço, e fazendo mais o serviço de um colega que saiu de férias, trabalhando de 5h às 17h. Reclamei que não estava agüentando mais, ela disse que dava para fazer nas 6h, e que eu estava enrolando” (Homem, escriturário).

“Por varias vezes o “grande e magnífico” gerente administrativo fala para os colegas que reclamam da sobrecarga e da extrapolação de horário, que se tiverem achando ruim peça as contas” (Homem, escriturário).

“Cobranças exageradas por parte da administração com relação a erros de colegas no trabalho” (Homem, escriturário).

“Trabalhar até 13 horas por dia, num mesmo dia e não receber as horas extras” (Homem, caixa).

27. Permanecer no Banco, além da jornada.

“Ela queria me obrigar a ficar além do meu horário. Eu não queria nem podia pois estudava à tarde na faculdade. Claro que se ficasse não seriam pagas hora extra” (Mulher, comissionada).

“Se o funcionário não ficar além do horário, vai ser mandado embora.” (Mulher, escriturária).

28. Disciplinar e submeter.

“Chegando a uma reunião geral com 5 minutos de atraso por motivo de doença, a qual meu supervisor já tinha conhecimento, fui humilhado pelo gerente geral na presença de todos os meus colegas de trabalho. Logo após esse fato, uma supervisora quis fazer a gentileza de buscar uma cadeira para sentar-me e quando próprio gerente disse: “Quem chegou atrasado que fique de pé!” (Homem, caixa).

“O chefe enquadrou o funcionário na minha frente, e julguei inadequados a forma e o local” (mulher, caixa).

“Já fui chamada a atenção na presença de colegas” (Mulher, escriturária).

“Durante o intervalo de 15 minutos para o lanche, foi proibida devido ao numero grande de clientes e tive que voltar para o caixa trabalhar, na base de reclamações e berros do chefe perante todos os questionários e clientes, sendo que quando sai do caixa não havia fila, não tendo culpa se depois surgiram clientes…” (Mulher, comissionada).

“Presenciei um gerente passando uma bronca em um funcionário por causa de prazos de entrega de serviços. O funcionário só dizia “Sim, senhor”, mas foi uma situação horrível para as pessoas que estavam perto e que nem respiravam” (Mulher, comissionada).

“Com colegas que pediram o PDV, assim que pediram foram afastados de suas funções pela gerente administrativa, causando espanto a todos e desconforto aos funcionários” (Mulher, escriturária).

29. Manipulação do medo. Sobrecarga de trabalho.

“Você é o próximo a ser transferido… por vender poucos produtos’ – Dentro da reunião, em meio a todos” (Homem, caixa).

“… todos eles estão com medo de perder o emprego. É muita pressão” (Homem, escriturário).

“Ameaças de demissão. Pressão para estender o horário de trabalho” (Homem, comissionado).

“Ameaça de transferência caso não cumprir metas” (Homem, caixa).

“Sobrecarga de trabalho, sem tempo para aprender o serviço e sem ninguém para ensinar ou tirar duvidas e cobrança de trabalho e metas etc” (Mulher, escriturária).

“Chefes que gritam berram – advertência por incompetência de trabalho. Discussão sobre trabalho fora de horário de trabalho” (Homem, escriturário).

“Em toda reunião geral, os funcionários são ameaçados de transferência por não vender produtos. Na última, 2 colegas foram humilhados diante de todos os funcionários da agência” (Homem, escriturário).

“Fui chamada pelo gerente administrativo mais o gerente adjunto para uma conversa a portas fechadas em uma salinha que é usada como refeitório. Foi praticamente exigida mais colaboração da minha parte. Me senti torturada emocionalmente pois foi dito que se não colaboro estou fora. Inclusive com a ameaça de transferência de cidade. Fico sempre de 2 a 3 horas além do meu horário” (Mulher, caixa).

30. Pressão do cliente.

“Cliente querendo agredir funcionário pela demora no caixa” (Homem, caixa).

“Funcionários humilhados por clientes devido à falta de funcionários para atendimento” (Mulher, caixa).

“Cliente gritando, cuspindo no rosto de funcionaria” (Mulher, caixa).

“Cliente culpando funcionário por falta de serviços prestados p/ Banco (fornecimento de talão,cartão,fila,demora no atendimento,etc” (Mulher, escriturária).

“O cliente sempre diz em alto e bom som que paga nosso salário e se acha no direito de humilhar e sapatear as vezes em cima dos funcionários” (Mulher, caixa).

“Por problemas no novo sistema em dias de muita movimentação há tumulto entre os clientes que ficam gritando, chamando mais funcionários ou ofendendo aqueles que trabalham” (Mulher, caixa).

“Nos dias de movimento, com o atual sistema (com problemas) a agencia estava super lotada e os clientes começaram a gritar, ofender os funcionários e nenhuma medida foi tomada” (Mulher, caixa).

“Num dia de pico, agência cheia de clientes e guichês sem caixa, e os clientes começaram a gritar “queremos caixa, queremos caixa!”. Nenhum dos gerentes se encontravam na agência, só a chefe da bateria e alguns supervisores. Foi uma humilhação para todos os funcionários” (Mulher, escriturária).

“Na maioria das vezes, os clientes ofendem seriamente” (Mulher, caixa).

31. Condições de trabalho degradadas.

“Supervisor chamando atenção de funcionário perante os clientes. Gerente chamando atenção, gritando com supervisor e funcionário durante o expediente com a agência lotada. Discussão entre supervisores” (Homem, escriturário).

“Tenho 23 anos de Banco, já trabalhei em muitos setores, inclusive cobrança, e a gerente administrativa me chamou na mesa dela e antes de dar uma bronca injusta, me perguntou se eu sabia o que era uma “Francesa”, acrescentando o comentário: “Se você não conhece, eu te apresento; Isto é uma Francesa” (Mulher, comissionada).

“Administradores chamando atenção de escriturários diante dos clientes” (Homem, comissionado).

“Funcionários tem sua atenção chamada na frente de clientes e são humilhados por gerentes e alguns supervisores” (Homem, escriturário).

“Nas reuniões, fala-se muito palavrão, as vezes dirigido, com muita conotação sexual” (Mulher, escriturária).

“Com o PDV as filas aumentaram nos caixas. Quando a gente vai atender os clientes estes já estão nervosos e nos tratam mal” (Homem, comissionado).

“Ar condicionado desligado, agência toda com paredes de vidro, o sol batendo em cima de mim e do terminal, todo suado e tenso chamo o gerente reclamando e o mesmo leva a situação na brincadeira e não resolve o problema” (Homem, caixa).

32. Discriminar os adoecidos.

“Lesionados são tratados como pessoas incapazes e preguiçosas” (Mulher, escriturária).

“Sofro de enxaqueca, e por vezes senti descriminação por isso, chegando alguns superiores a dizer que eu apenas mentia ter dor, para poder ir para casa” (Mulher, escriturária).

“Já presenciei na minha própria pele, a partir de um problema de saúde em 97. No retorno a minha atividade, além da frustração pela perda pelo problema de saúde, não tive nem um respaldo do Administrativo, sendo desvalorizado e despercebido” (Homem, escriturário).

“Portador de LER, que sofrem dores horríveis, é tratado como vagabundo, que não quer trabalhar” (Homem, caixa).

“O fato de ter adquirido LER, no trabalho do Banco, faz com que freqüentemente seja cobrada e humilhada por não produzir os executar tarefas na mesma proporção que outros colegas” (Mulher, comissionada).

“Gerente disse não saber onde “jogar” os lesionados” (Mulher, outros).

33. Danos a saúde mental.

“Acho que a produção seria muito maior se após essas reuniões saíssemos motivados e não vendo amigos chorando” (Mulher, caixa).

“Toda semana aparece um chorando no banheiro: faço tudo, me esforço, tento de tudo” (Mulher, escriturária).

” O que me desagradou foi a forma com que me chamaram a atenção. Trabalhei chorando devido as ameaças recebidas” (Mulher, comissionada).

“Reuniões com funcionários e superiores da regional (…). Vários funcionários saíram desestabilizados emocionalmente, chorando” (Mulher, escriturária).

“Sei através de colegas da minha ex-agencia que o atual gerente humilha e exige que os seus funcionários trabalhem no fim de semana, a fim de cumprir metas absurdas. Isto tem deixado pessoas doentes e sabemos que está ocorrendo em muitas agencias do banco” (Homem, comissionado).

“Pressão violenta. Acabei tirando 15 dias. Psiquiatria” (Mulher, escriturária).

34. Sofrimento ético-politico.

“Assuntos que deveriam ser tratados em particular são expostos em reuniões sem o prévio conhecimento aos envolvidos, causando constrangimento e humilhação” (Mulher, comissionada).

“Em uma reunião na agência com gerente regional e assessores direto (…), devido a posição da agência em relação as metas, o assessor “…” Falou “um monte” sobre o que a gente representava e da nossa “incompetência” pelo não cumprimento das metas, deixando a moral de “todos” os funcionários da agência “lá em baixo”. Comparando-nos com uma agência de uma cidade pequena e desconhecida para nos” (Homem, escriturário).

“Uma colega (caixa) foi obrigada, pela filha de uma cliente idosa, a ajoelhar-se perante a referida senhora, por causa de uma situação mal resolvida. (…). O pior de tudo, na minha opinião foi a ausência de algum supervisor ou gerente no caso (Homem, caixa).

35. Qualidade de vida.

O descaso com a alimentação dos que trabalham no NASBE, com a terceirização a qualidade da comida virou um lixo e a empresa (SANTANDER) parece que não da a mínima” (Homem, comissionado).

“Adiei fisioterapia por problemas na coluna, só se for a noite. Não tenho tempo para mim (Homem, caixa).

36. A circularidade da violência.

“Chefes sobre pressão, costumam descarregar em seus funcionários, constantemente” (Homem, caixa).

“Com um Gerente Geral (feita pelo Regional) quando do rebaixamento deste gerente. Obrigando-o a ler a sua carta na frente de todos os colegas” (Mulher, caixa).

“Em reunião na GR gerentes serem chamados de incompetentes” (Homem, comissionado).


Fonte: Margarida Barreto, Violência Moral no Banespa, São Paulo, 2001.

Pesquisa realizada em parceria com a AFUBESP.

[1] Serviços de retaguarda que passam a ser realizados por terceirizadas, com menor custo para o Banco.

Unibanco impede funcionária de exercer trabalho

A bancária Ediomara Ivete Fistarol teve reconhecida, por sentença da Justiça do Trabalho, direito ao recebimento de reparação por dano causado “por assédio moral” praticado por seu empregador, o Unibanco. Ela teve que se afastar (de maio de 1999 a agosto de 2002) do trabalho por ter contraído doença profissional decorrente de sua rotina de bancária. Ao receber alta do INSS, Ediomara não teve qualquer local designado para a prestação de suas atividades.

Ela foi, então, a Juízo, através do advogado Antonio Vicente Martins (do escritório Moraes, Martins, Porto e Saydelles), sustentando que “assédio moral é toda conduta (ativa ou omissiva) abusiva que atente, por sua repetição ou sistematização, contra a dignidade ou integridade psíquica ou física de uma pessoa, ameaçando seu emprego ou degradando o clima de trabalho”.

Sentenciando, o juiz Márcio Lima do Amaral, da 23ª Vara do Trabalho de Porto Alegre reconheceu que “a relação de emprego abrange não só a obrigação de o empregador pagar o salário, mas também a de o indivíduo prestar trabalho”. O magistrado deplora que “o fato de o empregador não proporcionar à trabalhadora o exercício do direito de trabalhar, embora pagando os salários, significa dizer que ela não serve mais para a empresa sendo preferível tê-la em casa recebendo a remuneração do que em atividade”. A sentença determinou que o Unibanco disponibilize para Ediomara, imediatamente, uma vaga na agência Menino Deus (a que mais perto fica da residência dela), sob pena de multa diária de R$ 1.000,00 em favor da reclamante.

A sentença também defere uma reparação financeira “pelo abalo sofrido durante o tempo em que a empregada permanece excluída de suas atividades laborais”. Desde 9 de agosto de 2002 (data em que o Unibanco deveria ter permitido que ela voltasse ao trabalho) até a data do efetivo reinício das atividades, o empregador pagará o dobro do salário mensal. O Unibanco poderá recorrer da decisão condenatória quanto ao valor da reparação pelo dano moral. Mas a decisão que determina que o banco permita que a empregada trabalhe é de eficácia imediata. O advogado Antonio Vicente Martins disse ao Espaço Vital que “o caso é um dos primeiros examinados pela Justiça do Trabalho no Estado e representa um avanço nas relações de trabalho e no respeito aos direitos humanos dos trabalhadores”.

(Proc. nº 01235.023/02-8)

Banco é condenado por hostilizar funcionária grávida

Tribunal Superior do Trabalho – 10.10.2003

A massa falida do Banco do Progresso S/A. deve pagar indenização a uma ex-empregada que, durante a gravidez, foi mantida isolada em uma sala, impedida de utilizar o telefone, proibida de manter contato com clientes e sem qualquer comunicação com os colegas de trabalho. A Quinta Turma do Tribunal Superior do Trabalho não conheceu do recurso do banco contra a condenação, proferida em sentença de primeiro grau e confirmada pelo Tribunal Regional do Trabalho do Rio Grande do Sul (4ª Região). Isso significa que foi mantida a decisão de Segunda Instância.

A bancária foi demitida em janeiro de 1993, quando exercia a função de secretária da gerência do banco, com sede em Porto Alegre (RS), e readmitida logo em seguida quando apresentou o atestado de gravidez. O TRT-RS considerou comprovado que, desde a readmissão, a empregada foi isolada e impedida de exercer qualquer atividade, “o que tornou humilhante e insuportável o ambiente do trabalho”. Esse tratamento hostil fez com que renunciasse à garantia de emprego, com o pedido de rescisão do contrato em julho de 1993.

O juízo de primeiro grau condenou o banco por dano moral e fixou a indenização em duas vezes o valor da remuneração da bancária multiplicado por 15 (número de meses no qual foi submetida ao tratamento hostil – janeiro a julho de 1993 – até cinco meses depois do parto (março de 1994). Na época ela recebia CR$ 15.421.880,65.

A Quinta Turma do TST não chegou a examinar o mérito do recurso da massa falida. Ao não conhecer do recurso, o relator, ministro Rider de Brito, disse que o acórdão apresentado pela defesa do réu não tem qualquer identidade com decisão do TRT-RS para servir de parâmetro de confronto, pois apenas “veicula tese genérica sobre os pressupostos que devem ser atendidos para o deferimento do pedido de indenização por danos morais”.

A massa falida sustentou também que a Justiça do Trabalho é incompetente para examinar danos morais. O relator afirmou que, no caso, foram demonstrados a existência de relação jurídica empregatícia entre a bancária e o banco, e “o nexo de causalidade entre a segunda rescisão contratual e o pedido de indenização por danos morais”. (789845/2001)

Fonte: http://www.sintese.com/n-10102003-5.asp

Gênero e cor da pele interferem na carreira nas instituições bancárias

Pesquisa do Observatório Social realizada no ABN Amro, antigo Real, revela que o gênero e a cor influenciam a carreira dos funcionários nas instituições bancárias. Entre os 22.393 empregados do banco, só 9,7% são negros. O salário desse grupo não passa de R$ 2 mil.

A cor e o gênero influenciam as carreiras dos funcionários nas instituições bancárias. A constatação é de pesquisa feita no ABN Amro, antigo Real, pelo Observatório Social, organização ligada à CUT (Cental Única dos Trabalhadores). A realidade do ABN reflete a dos demais bancos, segundo a coordenadora do estudo, Márcia Miranda Soares. “A desigualdade de gênero e raça é uma realidade no setor bancário e financeiro”, afirma.

Entre os 22.393 funcionários do banco, apenas 9,7% são negros (pretos e pardos), de acordo com o relatório divulgado neste mês. Os negros também ocupam funções com salários inferiores – o teto máximo não chega aos R$2.000. A desigualdade é ainda maior nos cargos de chefia. Na diretoria não há nem negros nem negras e apenas 2% dos negros são gerentes.

As mulheres estão em quase igualdade numérica, apesar de a maioria ocupar funções menos remuneradas, como escriturarias ou atendentes. Elas também são discriminadas porque engravidam – algumas deixam de ser promovidas. Também são vítimas do assédio moral.

Iniciada em 2001, a pesquisa ouviu 68 funcionários, 12 dirigentes sindicais e 6 representantes do banco nas cidades de São Paulo (capital e interior), Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Recife. O período de análise vai de 1998 – quando foram adquiridos o Banco Real e o Bandepe (Banco do Estado de Pernambuco) até junho de 2002.

A desigualdade dificulta também a promoção dos funcionários, principalmente entre as mulheres, porque as promoções são resultados, em parte, de um processo de avaliação individual e subjetiva feita pelos chefes diretos dos trabalhadores. “O alto grau de subjetividade dos avaliadores abre caminho para a reprodução da discriminação e manutenção das desigualdades contra mulheres e negros, mais ainda pelo fato de a maioria dos avaliadores serem homens brancos”, aponta o documento do Observatório Social.

O estudo é o primeiro a contar com a participação de representantes do banco e a traçar um perfil da relação trabalhista no setor financeiro. O Observatório Social tentou realizar, em 2001, pesquisa semelhante com o Banco Santander, que não quis participar.

Apesar de constatar que o banco não tem uma postura deliberada de discriminar trabalhadores sindicalizados e é aberto às negociações, o estudo aponta que vários pontos da Convenção Coletiva de Trabalho – que consta nas convenções da OIT (Organização Internacional do Trabalho) – são ignorados ou descumpridos pelo ABN.

Os principais são o desrespeito à jornada de trabalho, ao descanso nos finais de semana e pagamento indevido de horas extras. Soma-se a isso o estresse pelo cumprimento de metas.

Funcionária do Banco Real (atual ABN) há 17 anos, a caixa e também dirigente sindical de Bragança Paulista, Sandra de Oliveira, afirma que o quadro pode ser ainda “mais cruel” do que o apontado pelo relatório. “A pressão piorou muito com a atual conjuntura de desemprego e depois que o ABN assumiu o Real”, desabafa. Ela conta que chegou a ser suspensa por dois dias por ser dirigente sindical. “Queriam me mandar embora por justa causa”, diz.

Para o presidente da Confederação Nacional dos Bancários (CNB), Vagner Freitas, a pesquisa além de ser importante ferramenta e informação para aumentar as negociações e o diálogo entre a empresa e os trabalhadores, comprova também as denúncias já recebidas pelos sindicatos de bancários.

Ele admite que os programas de responsabilidade social e iniciativas do banco para diminuir as desigualdades são insuficientes. Isso porque, segundo ele, os bancos ainda devem muito à sociedade e aos direitos trabalhistas. “O muito que sugam dos funcionários não é devolvido à sociedade com geração de renda”, aponta.

Presentes à divulgação do relatório, as diretoras de responsabilidade social, Maria Luiza Pinto, e de recursos humanos, Lílian Guimarães, do ABN AMRO Bank reconheceram que o relatório aponta o “muito que ainda falta ser feito”.

No entanto, segundo as diretoras, o relatório é apenas uma fotografia de um momento no processo de desenvolvimento da empresa, que acaba por enfatizar aspectos negativos e omitir a evolução nos últimos quatro anos.

Como programas inovadores, o banco aponta o “Programa Diversidade”, para promover a igualdade no emprego entre os funcionários. Segundo a pesquisa do Observatório Social, alguns dados sinalizam para uma pequena melhoria no quadro geral das desigualdades, mas ainda não definem uma tendência. O estudo aponta que não houve participação dos sindicatos na definição desse programa e só recentemente dirigentes sindicais foram convidados a participar de sua implementação.

Maria Paola de Salvo – 30/06/2003

Manifestação contra assédio moral no HSBC

O Sindicato dos Bancários de São Paulo fez manifestação contra assédio moral (humilhação no trabalho) em frente a uma das sedes administrativas do HSBC, na Av. Brigadeiro Faria Lima, no Itaim, Capital.

Para simbolizar o assédio, os sindicalistas mostraram um funcionário amarrado e atordoado por um spray “mata bancário”. “Os bancários são obrigados a cumprir metas duras e aqueles que não conseguem são humilhados na frente dos colegas”, afirmou Paulo Rogério Cavalcanti Alves, diretor do sindicato.

O HSBC negou a acusação afirmando que respeita seus funcionários.

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