Você que mora no alheio,
que anda de lotação,
que trabalha o dia inteiro
pra enriquecer o patrão
-que ainda espera desse mundo de injustiça e exploração?
Você que paga aluguel,
que pagará toda a vida
a casa que não é sua,
que pode a qualquer momento
ser posto no olho da rua
-que pode esperar da vida que deveria ser sua?
Que pode esperar da vida quem a compra à prestação?
Quem não tem outra saída:
-ser escravo ou ser ladrão?
Que pode esperar da vida
que a recebe vendida
por seu pai ao seu patrão?
Pro patrão você trabalha
dia e noite sem parar.
Você queima a sua vida
pra ele a vida gozar.
Você gasta a sua vida
pra dele se prolongar.
Você dá duro, padece,
você se esgota, adoece,
e quando, enfim, envelhece
o que é ruim vai piorar.
Só então você percebe
que tempo você perdeu.
Você vê que sua vida
foi dura mas não valeu.
Você passou a seu filho
o mundo que recebeu:
O mundo injusto e sem brilho
que, de fato, nem foi seu,
que não será do seu filho
se nele não se acendeu
o sentimento profundo
que traz o homem pra luta
-luta que fará o mundo
ser dele, ser meu, ser teu.
Por isso meu companheiro,
que trabalha o dia inteiro
pra enriquecer o patrão,
Te aponto um novo caminho
para tua salvação,
a salvação de teu filho
e o filho do teu irmão:
Te aponto o caminho novo
da nossa revolução.
Então verás que tua vida
ganha nova dimensão,
que em vez de triste e perdida
terá força e direção.
E cada homem da rua
Verás como teu irmão
que, sabendo ou não sabendo,
procura a libertação.
Sentirás que o mar que bate
na praia não bate em vão;
Que a flor que cresce no Meyer
não cresce no Meyer em vão;
Que o passarinho que canta
não canta pra teu patrão;
Que a grama verde que cresce
empurra a revolução.
O mundo ganhou sentido,
teu braço ganhou função.
A revolução floresce
na minha, na tua mão,
que nada há mais que a detenha
-nem polícia nem bloqueio
nem bomba nem Lacerdão
Que ela assobia no vento
e marcha na multidão,
ilumina o firmamento,
gira na constelação
porque já foi deflagrada
no meu, no teu coração.