Violência no trabalho no setor saúde: relatório preliminar de pesquisa

Texto integralProjeto realizado em cooperação com:
Organização Internacional do Trabalho
Conselho Internacional de Enfermagem
Organização Mundial da Saúde
Internacional de Serviços Públicos

EQUIPE TÉCNICA:
Marisa Palácios – MD DSc (Coordenadora)
Mônica Loureiro dos Santos, Psicóloga, DSc
Margarida Barros do Val, Saúde Pública, Msc candidata
Maria Imaculada Medina, Serviço Social, MSc
Marcia de Abreu, Fonoaudióloga
Lídia Soares Cardoso, Psicóloga, DSc
Basílio Bragança Pereira, Estatístico, PhD
Estudantes
Celina Ragoni de Moraes Correia – Programa de Iniciação Científica
Daniel Eiji Ogino – Programa de Iniciação Científica
Daniela Almeida – Programa de Iniciação Científica
Danielle C. C. Muniz e Silva – Programa de Iniciação Científica
David M. Viannay S. Andrade – Programa de Iniciação Científica
Helena Roisman Cardoso
Igor Mamed Porciúncula
Jorge Ribeiro da Cunha Junior – Programa de Iniciação Científica
Juliana Costa Carvalho – Programa de Iniciação Científica
Juliana G. d’Ávila Reinicke – Programa de Iniciação Científica
Kelly C. Ferreira Folhadella
Lissa Sumi Takano
Luiz Fernando R. Junior
Mayra Roberta P. Mendes
Pedro Henrique S. Figueiredo
Raquel Buzon de Mello
Ricardo Gáudio de Almeida
Tatiana Goldgaber Borges – Programa de Iniciação Científica
Tatyana Santos Raychtock – Programa de Iniciação Científica
Thaís Helena Serta Nobre

Attached documents

Unirio divulga relatório de cinco meses de pesquisa sobre o assédio moral no trabalho

Resultado da pesquisa

Rio de Janeiro

À Sra. Chefe do Serviço de Treinamento e Desenvolvimento de Pessoal da UNIRIO
Cátia Regina Papadopoulos

Como é do vosso conhecimento e, após 05 (cinco) meses de estudos sobre o processo de Assédio Moral no Trabalho; de conversas com servidores de diversas Instituições de Ensino Superior Pública Federal, particularmente da UNIRIO; de análise de conjuntura e de uma pesquisa realizada nos campi da UNIRIO, submeto a V.Sa., o relatório auferido no período de 19/08 a 23/12/03.

O processo de pesquisa, seja através de conversas, observações e estudos se deu a partir da greve dos servidores públicos federais, em agosto de 2003, com a reivindicação pela não aprovação da reforma da previdência.

Na ocasião, tive a oportunidade de conversar com vários colegas de trabalho de diferentes Instituições. Sempre que possível, conversávamos sobre o nosso dia-a-dia, muitos me contavam da violência com que eram tratados nos locais de serviço, com chefes gritando de forma a ordenar a execução de trabalhos, outros a excluí-los de reuniões, com a desculpa de que não adiantaria convidá-los, porque eles não entendiam do assunto, e assim por diante. Perguntei quais os procedimentos adotados por eles, e como respostas ouvia de alguns trabalhadores que não adiantaria reclamar porque nada iria acontecer com os humilhadores e outros diziam que não queriam ter problemas com os chefes, por medo de serem perseguidos ou demitidos na Instituição.

Assim, comecei a estudar sobre Recursos Humanos e também a fazer uma leitura mais detalhada, sobre as informações divulgadas pela Dra. Margarida Barreto, referentes a “Uma Jornada de Humilhações”, tese de sua dissertação de Mestrado na PUC-SP, em maio de 2000.

Paralelamente, divulguei na FASUBRA (Federação de Sindicatos de Trabalhadores das Universidades Brasileiras), as informações prestadas pela Dra. Margarida Barreto, assim como também o fiz na Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO) e fomentei o debate nas diversas Instituições Federais de Ensino Superior. O resultado foi muito positivo, tanto a nível nacional, como local. Muitos trabalhadores me procuraram para agradecer pelas informações disponibilizadas, ainda que timidamente.

Em Brasília, tomei ciência do questionário que o Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão (MPOG) estaria encaminhando para as Universidades Públicas de Ensino Superior, no mês de dezembro de 2003, e logo percebi que um daqueles itens muito iria reforçar o meu trabalho. Neste mesmo momento, levei o assunto ao Conselho Universitário da UNIRIO, expliquei a situação que vinha ocorrendo na Universidade sobre o processo de Assédio Moral e propus uma Comissão para constituir um Seminário sobre o referido assunto, com o objetivo de refletir, debater e de formular uma normatização interna, para disciplinar o processo de Assédio Moral na UNIRIO. A resposta foi imediata, tanto por parte do Magnífico Reitor, Prof. Pietro Novellino, que presidia a mesa, como dos demais Conselheiros presentes, que por unanimidade aprovaram a proposta.

Neste intento, o questionário do MPOG foi dirigido às Instituições de Ensino Superior para preenchimento por parte dos servidores, com a data de devolução do formulário preenchido, marcada para o dia 31/12/03. E foi neste cenário que concretizei o meu estudo, fazendo referência apenas ao item 21 do questionário, que diz respeito ao Assédio Moral. O objetivo do MPOG é o de fornecer dados à Coordenação Geral de Seguridade Social, órgão recém criado pelo Ministério, cuja missão é a de contribuir para a eficiência do Serviço Público.

O questionário contém 28 (vinte e oito) itens, com perguntas diversas, nos seguintes campos: Identificação; dados sobre a Área de Saúde; Dados sobre sua saúde em relação ao trabalho; Dados sobre saúde suplementar e dados sobre promoção a saúde.

Com autorização da Direção de Recursos Humanos da UNIRIO e também com a vossa autorização para prosseguir no trabalho, apresento o resultado da pesquisa realizada entre os dias 04 e 23/12/03, na Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO). Aproveito a oportunidade para informar que parte desta pesquisa será objeto de estudo do(s) Grupo(s) de trabalho, no segundo momento do Seminário sobre Assédio Moral, que será realizado no dia 06/01/04.

Abaixo a pergunta do item 21, referente ao questionário do MPOG:

“Assinale as alternativas abaixo caso você sinta/sentiu/e/ou observa algum tipo de Assédio Moral em seu local de trabalho? Por Assédio Moral entendem-se situações que provoquem medo, intimidação, depreciação, baixa-estima, desqualificação na relação entre servidor e chefia e/ou entre colegas.
( ) Gritos
( ) Depreciação
( ) Medo
( ) Intimidação
( ) Baixa auto-estima
( ) Desqualificação”

Resultado da pesquisa realizada pelo Professor Oscar Gomes da Silva da UNIRIO e FASUBRA:

Universo: 261 servidores.
Áreas envolvidas: todos os setores da UNIRIO.
Servidores envolvidos: todos os servidores em atividade na UNIRIO.

Entre 261 servidores entrevistados, 170 pessoas (65,14%) responderam que não sentiu/sente ou tenha observado algum tipo de assédio moral em seu local de trabalho, enquanto que 91 pessoas (34,86%) responderam que já sentiram/sentem ou observaram o assédio.

Dentre estas 91 pessoas, 62 servidores (68,13%) são lotados no HUGG; no CCBS = 10 pessoas (10,99%); na Reitoria = 09 pessoas (9,89%); no CLA = 03 pessoas (3,30%); no CCH = 02 pessoas (2,20%) e servidores que responderam o questionário mas não identificaram o Setor = 5 pessoas (5,49%).

Dentre estas 91 pessoas, 51 servidores (56,04%) desenvolve atividades na Área da Saúde; 28 pessoas (30,77%) na área Administrativa; 09 pessoas (9,89%) na área docente e 03 pessoas (3,30%) não identificaram as suas áreas de atividades.

Dentre estas 91 pessoas, 63 servidores (69,23%) são do sexo feminino; 25 pessoas (27,47%) são do sexo masculino e 03 pessoas (3,30%) não identificaram o sexo.

Dentre estas 91 pessoas, 03 servidores (3,30%) tem o 1º grau completo; 25 pessoas (27,47%) tem o 2º grau completo; 40 pessoas (43,96%) tem o curso de graduação completo; 17 pessoas (18,68%) tem o curso de Pós-Graduação completo e 06 pessoas (6,59%) não identificaram a escolaridade.

Dentre estas 91 pessoas, 06 pessoas (6,59%) tem entre 20 a 30 anos de idade; 17 pessoas (18,68%) tem entre 31 a 40 anos de idade; 40 pessoas (43,96%) tem entre 41 a 50 anos de idade; 12 pessoas (13,19%) tem entre 51 a 60 anos de idade; 03 pessoas (3,30%) tem entre 61 a 70 anos de idade e 13 pessoas ( 14,28%) não identificaram as suas idades.

No HUGG registramos nas seguintes áreas:
Enfermagem = 26 pessoas (9,96%)
Nutrição = 10 pessoas (3,83%)
Administrativa = 08 pessoas (3,06%)
Demais setores = 18 pessoas (6,90%)
Na Reitoria registramos nas seguintes áreas:
PROEG = 02 pessoas (0,77%)
PROPG = 01 pessoas (0,38%)
DRH = 05 pessoas (1,91%)
Auditoria = 01 pessoas (0,38%)
No CCBS registramos nas seguintes unidades:
EM = 02 pessoas (0,77%)
EN = 04 pessoas (1,53%)
IB = 02 pessoas (0,77%)
CCBS (não identificou o setor) = 02 pessoas (0,77%)
No CLA registramos na seguinte unidade/setor:
IVL = 01 pessoa (0,38%)
Decania = 02 pessoas (0,77%)
No CCH registramos na seguinte unidade/núcleo:
EE = 01 pessoa (0,38%)
NEPEJA = 01 pessoa (0,38%)
Situações provocadas por:
Depreciação = 58 pessoas (63,73%)
Desqualificação = 47 pessoas (51,64%)
Intimidação = 41 pessoas (45,05%)
Baixa auto-estima = 39 pessoas (42,85%)
Gritos = 38 pessoas (41,75%)
Medo = 16 pessoas (17,58%)

Gênero e cor da pele interferem na carreira nas instituições bancárias

Pesquisa do Observatório Social realizada no ABN Amro, antigo Real, revela que o gênero e a cor influenciam a carreira dos funcionários nas instituições bancárias. Entre os 22.393 empregados do banco, só 9,7% são negros. O salário desse grupo não passa de R$ 2 mil.

A cor e o gênero influenciam as carreiras dos funcionários nas instituições bancárias. A constatação é de pesquisa feita no ABN Amro, antigo Real, pelo Observatório Social, organização ligada à CUT (Cental Única dos Trabalhadores). A realidade do ABN reflete a dos demais bancos, segundo a coordenadora do estudo, Márcia Miranda Soares. “A desigualdade de gênero e raça é uma realidade no setor bancário e financeiro”, afirma.

Entre os 22.393 funcionários do banco, apenas 9,7% são negros (pretos e pardos), de acordo com o relatório divulgado neste mês. Os negros também ocupam funções com salários inferiores – o teto máximo não chega aos R$2.000. A desigualdade é ainda maior nos cargos de chefia. Na diretoria não há nem negros nem negras e apenas 2% dos negros são gerentes.

As mulheres estão em quase igualdade numérica, apesar de a maioria ocupar funções menos remuneradas, como escriturarias ou atendentes. Elas também são discriminadas porque engravidam – algumas deixam de ser promovidas. Também são vítimas do assédio moral.

Iniciada em 2001, a pesquisa ouviu 68 funcionários, 12 dirigentes sindicais e 6 representantes do banco nas cidades de São Paulo (capital e interior), Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Recife. O período de análise vai de 1998 – quando foram adquiridos o Banco Real e o Bandepe (Banco do Estado de Pernambuco) até junho de 2002.

A desigualdade dificulta também a promoção dos funcionários, principalmente entre as mulheres, porque as promoções são resultados, em parte, de um processo de avaliação individual e subjetiva feita pelos chefes diretos dos trabalhadores. “O alto grau de subjetividade dos avaliadores abre caminho para a reprodução da discriminação e manutenção das desigualdades contra mulheres e negros, mais ainda pelo fato de a maioria dos avaliadores serem homens brancos”, aponta o documento do Observatório Social.

O estudo é o primeiro a contar com a participação de representantes do banco e a traçar um perfil da relação trabalhista no setor financeiro. O Observatório Social tentou realizar, em 2001, pesquisa semelhante com o Banco Santander, que não quis participar.

Apesar de constatar que o banco não tem uma postura deliberada de discriminar trabalhadores sindicalizados e é aberto às negociações, o estudo aponta que vários pontos da Convenção Coletiva de Trabalho – que consta nas convenções da OIT (Organização Internacional do Trabalho) – são ignorados ou descumpridos pelo ABN.

Os principais são o desrespeito à jornada de trabalho, ao descanso nos finais de semana e pagamento indevido de horas extras. Soma-se a isso o estresse pelo cumprimento de metas.

Funcionária do Banco Real (atual ABN) há 17 anos, a caixa e também dirigente sindical de Bragança Paulista, Sandra de Oliveira, afirma que o quadro pode ser ainda “mais cruel” do que o apontado pelo relatório. “A pressão piorou muito com a atual conjuntura de desemprego e depois que o ABN assumiu o Real”, desabafa. Ela conta que chegou a ser suspensa por dois dias por ser dirigente sindical. “Queriam me mandar embora por justa causa”, diz.

Para o presidente da Confederação Nacional dos Bancários (CNB), Vagner Freitas, a pesquisa além de ser importante ferramenta e informação para aumentar as negociações e o diálogo entre a empresa e os trabalhadores, comprova também as denúncias já recebidas pelos sindicatos de bancários.

Ele admite que os programas de responsabilidade social e iniciativas do banco para diminuir as desigualdades são insuficientes. Isso porque, segundo ele, os bancos ainda devem muito à sociedade e aos direitos trabalhistas. “O muito que sugam dos funcionários não é devolvido à sociedade com geração de renda”, aponta.

Presentes à divulgação do relatório, as diretoras de responsabilidade social, Maria Luiza Pinto, e de recursos humanos, Lílian Guimarães, do ABN AMRO Bank reconheceram que o relatório aponta o “muito que ainda falta ser feito”.

No entanto, segundo as diretoras, o relatório é apenas uma fotografia de um momento no processo de desenvolvimento da empresa, que acaba por enfatizar aspectos negativos e omitir a evolução nos últimos quatro anos.

Como programas inovadores, o banco aponta o “Programa Diversidade”, para promover a igualdade no emprego entre os funcionários. Segundo a pesquisa do Observatório Social, alguns dados sinalizam para uma pequena melhoria no quadro geral das desigualdades, mas ainda não definem uma tendência. O estudo aponta que não houve participação dos sindicatos na definição desse programa e só recentemente dirigentes sindicais foram convidados a participar de sua implementação.

Maria Paola de Salvo – 30/06/2003